Eleição paulista tem polêmica impossível em países civilizados
Uma política pública discutida até aqui apenas de forma técnica – e que tem trazido resultados importantes – desponta como um dos primeiros fronts retóricos na disputa eleitoral pelo governo de São Paulo neste ano. Trata-se do uso de câmeras de vigilância no uniforme dos policiais militares do estado.
Enquanto o candidato do presidente Jair Bolsonaro, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vem atacando a política e o candidato do ex-presidente Lula, Fernando Haddad (PT), a vem defendendo, o atual governador do estado, Rodrigo Garcia (PSDB), cuja gestão é a patrocinadora do programa, vem tentando evitar tomar parte do assunto, de olho no voto do eleitor conservador contrário às câmeras, mas também defendendo a política traçada pelo comando da PM, que responde a ele.
Tarcísio já anunciou que, se for eleito, irá retirar as câmeras de operação. Ele afirma que os equipamentos “colocam em risco” a vida dos policiais e que a melhor forma de aumentar a eficiência do combate ao crime seria com treinamento. A fala vai ao encontro de críticas feitas por grupos bolsonaristas contrários ao uso do equipamento, que já ajudou a coletar provas de abusos praticados por policiais.
Após a manifestação do pré-candidato, o comando da PM paulista divulgou dados que contradiziam o ministro: houve queda de 32% no número de casos de resistência a abordagens policiais nos batalhões que já contam com a tecnologia. Nos batalhões sem os dispositivos, a queda foi menor, de 19%.
Por outro lado, o petista Haddad garante que dará sequência ao programa. “A utilização das câmeras de imagem no uniforme dos PMs é um dos poucos avanços que se pode registrar na política de segurança pública do estado. Serve como proteção para os cidadãos e, em última instância, como defesa dos próprios PMs”, afirmou.
Já Rodrigo Garcia vem dizendo que as câmeras existem para “filmar o bandido e proteger o policial”. Mas, em um aceno ao eleitorado de direita que pode ter simpatia a Tarcísio, ele vem admitindo que pretende discutir, com o comando da PM, o melhor uso dos equipamentos, sem indicar porque essa conversa é necessária e o que precisa ser melhorado.