Estudo mostra que Bolsonaro trabalha 5 horas por dia
Foto: Joédson Alves/EFE
Três acadêmicos se reuniram e resolveram esmiuçar o dia a dia da agenda de Jair Bolsonaro em Brasília. Por meio do estudo “Deixa o Homem Trabalhar?”, publicado no perfil do cientista político Dalson Figueiredo em uma rede social, eles identificaram que, entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2022, o presidente da República trabalhou, em média, 4,8 horas por dia. A quantidade média de sua carga de trabalho, inclusive, tem caído nos últimos tempos: passou de 5,6 horas em 2019 para só 3,6 horas este ano, considerando a sua agenda oficial. Da Inglaterra, onde faz pós-doutorado pela Universidade Oxford, Figueiredo disse a VEJA que o levantamento não pretende apontar se Bolsonaro trabalha pouco ou muito, e sim jogar luz sobre os compromissos oficiais do presidente.
“A nossa grande motivação é tornar esse dado público, não criticar o presidente, falando que ele trabalha mais ou menos. Criamos uma equipe multidisciplinar e levantamos os dados. A motivação é metodológica”, reitera Figueiredo, que produziu o estudo em parceria com os cientistas sociais Lucas Silva e Juliano Domingues. Apesar dos números parecerem, num primeiro olhar, negativos ao presidente, ele destaca que o trabalho só foi possível graças à transparência da agenda de Bolsonaro. “Com todas as críticas ao governo Bolsonaro, essa é a agenda presidencial mais bem detalhada. Não conseguimos uma base de comparação parecida com o trabalho dos presidentes anteriores.”
De todos os dias da semana, as terças-feiras (5 horas de trabalho) e as quintas-feiras (5,3 horas de trabalho) são os mais produtivos do presidente. Na sexta-feira, por outro lado, o expediente tende a ser mais curto. Comparando a média geral (4,8 horas) com a média da sexta-feira (4,3 horas), a diferença é significativa. Segundo o estudo, “isso significa que o número de horas de trabalho no último dia útil da semana é sistematicamente diferente da quantidade de horas trabalhadas em um dia normal, o famoso ‘sextou’.” O texto aponta, ainda, que Bolsonaro trabalha, em média, 18 horas semanais a menos que um trabalhador regido pela CLT e 14 horas semanais a menos do que um servidor público federal da administração direta.
Embora pareça escassa, a média de 4,8 horas só foi alcançada porque os estudiosos decidiram contabilizar o tempo de deslocamento do chefe do Executivo em viagens. Em 2019, por exemplo, há registros de dias em que o presidente trabalhou 12 horas. Mesma coisa em 2020, quando a carga horária máxima foi de 12,5. Segundo o documento, todos os registros com carga horária superior a cinco horas tratam-se, na verdade, de períodos em que o presidente estava em trânsito. “Em 18 de novembro de 2021, uma quinta-feira, Jair Bolsonaro partiu de Doha, no Catar, para Brasília (DF), contabilizando então 12,6 horas de trabalho. Similarmente, na sexta-feira, dia 12 de novembro de 2021, o chefe do Executivo partiu de Brasília/DF para Lisboa/Portugal, computando 11,8 horas de trabalho”, informa o estudo.
O documento ressalta que, em meio à maior crise sanitária da história do Brasil, o presidente Bolsonaro participou de apenas cinco compromissos oficiais envolvendo explicitamente o tema vacina na descrição do evento. “Isso representa 0,88% dos 5.693 registros da Agenda Oficial realizados entre 1º de janeiro de 2019 e 6 de fevereiro de 2022”, aponta o estudo. Os cinco eventos para tratar da compra de imunizantes para Covid-19 tiveram duração média de 0,9 hora por compromisso, totalizando 4,3 horas — esse período, segundo o levantamento, equivale ao tempo de três almoços por parte do presidente. Desde 2020, quando chegou ao país, a pandemia vitimou mais de 660 mil brasileiros.
Também chama a atenção o pouco tempo usado pelo chefe do Executivo em reuniões ministeriais. O documento apontou que Bolsonaro gasta, em média, menos de uma hora em compromissos oficiais com ministros de estado. Dentre os ministros com mais espaço na agenda do presidente destaca-se Onyx Lorenzoni, atual ministro do Trabalho e Previdência, com 336 compromissos, que ocuparam, em média, 0,8 hora. Com Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores, foram 158 encontros, com média de 0,7 hora. Além deles, o estudo cita Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, com 64 encontros e tempo médio de trabalho conjunto de 0,6 hora; e André Mendonça, ex-ministro da Justiça, com 126 encontros, com média de 0,8 hora.