Wajngarten vira ‘consultor informal’ de Bolsonaro
Foto: Alan Santos/PR
Demitido por Jair Bolsonaro em março de 2021 após acumular desgastes no governo, o ex-secretário especial de Comunicação Fabio Wajngarten, mesmo longe de Brasília, ainda se mantém próximo do Palácio do Planalto. De volta à atividade de empresário, ele tem oferecido uma espécie de consultoria voluntária que vai do gerenciamento de crises, como fez no caso envolvendo a demissão de Milton Ribeiro do Ministério da Educação, até a organização de um passeio de moto aquática do presidente no Guarujá, no litoral de São Paulo.
A ajuda para o evento na praia aconteceu no carnaval, quando Bolsonaro passou uns dias de folga no hotel militar do Forte dos Andradas. Wajngarten, que aproveitava o feriado em sua casa em Maresias, a 100 quilômetros dali, pegou um helicóptero para ir ao encontro do presidente. Lá, segundo relatos de integrantes da comitiva presidencial, o ex-secretário ajudou a definir a rota do passeio e o local da parada na areia para cumprimentar apoiadores, além de fazer observações sobre a previsão da maré e do tempo, embora o presidente tenha o suporte da Marinha para esse tipo de atividade.
Nas redes sociais, Wajngarten registrou a presença no passeio ao lado do deputado Hélio Lopes (Republicanos-RJ). O parlamentar, um dos mais próximos a Bolsonaro, elogiou o ex-Secom como um “grande defensor do governo”: — O Fabio, mesmo não estando ali (no governo), faz parte porque é um cara muito esclarecido, sabedoria imensa.
Naquele mesmo dia, Bolsonaro decidiu conceder uma entrevista para se pronunciar pela primeira vez sobre a guerra da Ucrânia, iniciada na semana anterior. Antes, consultou Wajngarten, que avisou a imprensa. Na ocasião, o presidente disse que o Brasil manteria posição de “neutralidade” no conflito, numa declaração considerada desastrosa no meio diplomático por não condenar a invasão russa.
Um mês depois, Wajngarten entrou em ação novamente quando Ribeiro se tornou alvo de um escândalo de corrupção no MEC. O ex-Secom se reuniu com o ex-colega de governo, de quem se tornou próximo durante o período de Esplanada, e o convenceu a pedir demissão. Foi o ex-secretário quem redigiu a carta de despedida do hoje ex-ministro.
A consultoria informal de Wajngarten tem se estendido ao ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, cotado para ser vice de Bolsonaro na disputa pela reeleição. Em conversas informais, o ex-chefe da Secom tem sugerido ao general, atual assessor do presidente, estratégias para se blindar de crises e garantir a vaga na chapa, que só será homologada em agosto.
Integrantes do governo avaliam que apesar dos serviços prestados, Wajngarten não tem chance de voltar ao governo; nem mesmo de ocupar um posto na campanha eleitoral. Pesa contra ele o fato de ter feito desafetos em sua passagem pelo Executivo e irritado até mesmo o presidente, que autorizou sua exoneração por causa de atritos com ministros, o último deles Fábio Faria, das Comunicações, a quem era subordinado.
Wajngarten também se desentendeu com Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. No auge da pandemia, o então chefe da Secom tentou tomar a frente nas negociações das vacinas. Em entrevista após deixar o cargo, atribuiu o atraso da compra dos imunizantes à “incompetência” do ex-colega. A declaração não caiu bem no Planalto. Semanas depois, contudo, defendeu o governo na CPI da Covid e chegou a ser ameaçado de prisão.
Ao assumir a Secom, Fabio Wajngarten omitiu informações sobre as atividades e contratos de sua empresa com emissoras de TV e agências de propaganda que recebem dinheiro dentro da secretaria. O caso foi revelado pelo jornal “Folha de S.Paulo”. Um processo chegou a ser aberto pela Comissão de Ética da Presidência, que decidiu não apresentar uma denúncia.
Wajngarten teve atritos com diversos integrantes do governo. A ele é atribuída a fritura do ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz. Ele também se desentendeu com o ministro das Comunicações, Fabio Faria, a quem era subordinado.
Um mês após deixar o cargo, acusou a equipe do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello de “incompetência” e “ineficiência” na aquisição de vacinas contra a Covid-19. À “Veja”, disse ter travado “um intenso duelo” com general ao tentar viabilizar a compra da vacina da Pfizer. Chamado para depor na CPI, mudou o tom, defendeu o governo.<SW>