Centro-direita se mobiliza para tentar viabilizar Tebet

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Foto: Wilton Junior/Estadão

Com o nome de Simone Tebet (MDB-MS) praticamente definido como alternativa da terceira via, um grupo de empresários, executivos e intelectuais articula ações para impulsionar a senadora na corrida presidencial. Além de manifestos com o aval à candidatura, a estratégia envolve torná-la mais conhecida em todo o Brasil, bem como suas ideias e propostas.

“Cada um luta com as armas que tem e as nossas são transferir e debater ideias e colocá-las em discussão profunda”, disse o economista Affonso Celso Pastore. “A intenção é tentar conquistar corações e mentes para a demanda de um grupo da sociedade que não se sente representado nem por Lula nem por Bolsonaro”, afirmou o economista, que foi conselheiro econômico do ex-pré-candidato Sérgio Moro (União Brasil).

Descontentes com a polarização protagonizada pelos líderes nas pesquisas de intenção de votos, o grupo partiu para o apoio explícito a Simone. A economista e escritora Eliana Cardoso disse que o que a levou a apoiar Simone foi “o amor pelo Brasil e a convicção de que precisamos de presidente capaz de unir o País em torno de um projeto de inclusão social”.

“Simone Tebet já se mostrou liderança enérgica e pacificadora, dotada de credibilidade, de experiência na gestão pública e no Parlamento, atenta e sensível às demandas da população e à defesa do meio ambiente”, afirmou Eliana, em entrevista por escrito.

O manifesto de apoio a Simone, tornado público na segunda-feira pela Coluna do Estadão, nasceu após um encontro realizado há três semanas com cerca de 300 pessoas, com a presença da senadora. Atualmente com quase 4 mil assinaturas, o documento foi criado na plataforma Change por Teresa Bracher, mulher do ex-presidente do Itaú Unibanco Candido Bracher, e procurou juntar um grupo plural.

Entre os signatários do manifesto, há lideranças de entidades sociais, do mundo das artes, indígenas, além, é claro, de empresários e executivos. “Sentimos que é um movimento que vem crescendo”, afirmou Fábio Barbosa, sócio da Gávea Investimentos, um dos organizadores do evento.

Em janeiro de 2021, ele começou a fazer parte de um grupo batizado de “2022″. Ao lado de outros dez executivos e empresários de primeira linha, discutiam como se mobilizar em torno de um candidato à eleição presidencial que fugisse da polarização de 2018 e que, anteviam, se repetiria. “O que anima o pessoal é que agora conseguimos chegar a um nome e que dá para trabalhar em torno na ‘personificação’: agora temos uma ‘cara’ do candidato, com qualidades e programa de governo”, disse.

Além de não se sentirem representados na polarização, os apoiadores de Simone dizem que a disputa está sendo traçada com estratégias populistas, sem qualquer debate de propostas e planos de governo. “São dois extremos na disputa, que não têm programa econômico, de desenvolvimento, inclusão social ou de aumento de eficiência do País”, disse Pastore.

Todos têm plena consciência de que fazer decolar a candidatura de Simone será uma missão difícil. Deixam, de maneira geral, a escolha do eventual vice e o uso das verbas partidárias aos políticos, apesar de cada um ter sua preferência. Porém, pretendem avançar em iniciativas que irão de debates e tentativas de convencimento de grupos de relacionamento à exposição na mídia tradicional e ativismo organizado em redes sociais.

Em tempos de discurso de ódio, desinformação e guerrilha virtual, afirmam que o movimento “quixotesco” fará a diferença nesta eleição. “A política, como a vida, é feita de surpresas e de imponderáveis”, disse Eliana. “Nas últimas eleições, um candidato chegou à Presidência porque levou uma facada, posou de vítima e não participou dos debates.”

Para ela, até aquele evento imprevisível, a vitória de Bolsonaro estava fora do baralho e algo semelhante pode acontecer novamente, já que as projeções do futuro se baseiam em números do passado. “Essas projeções se fazem de forma linear, porque não há como projetar curvas inesperadas.”

O objetivo dos apoiadores é evitar a eleição dos líderes das pesquisas. “(Tenho) a convicção de que o voto útil no primeiro turno engessa a polarização e empobrece o debate político”, disse Eliana. “Os candidatos dos extremos tentam esvaziar candidaturas concorrentes para consolidar a polarização e, até mesmo em partidos do centro democrático, parece haver adesão ao voto útil.” Para ela, é preciso mostrar que a ausência da discussão “corrói a democracia”.

Estadão