Direita ainda vão insistir na terceira via com senadora emedebista sem votos
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A possível aliança entre MDB, PSDB e Cidadania em torno do nome da senadora Simone Tebet (MS) com a desistência do tucano João Doria de concorrer ao Planalto tem, por ora, um efeito mais simbólico. A avaliação imediata de cientistas políticos especialistas em pesquisas é que uma candidatura única reforça a disposição dos partidos na busca por uma alternativa eleitoral no centro político.
Nas pesquisas qualitativas, Simone tem apresentado rejeição menor do que a de Doria. “Simbolicamente, a terceira via aumenta as chances de organizar sua tropa para tentar viabilizar uma opção fora da polarização. A coordenação das elites é fundamental para que os eleitores possam tomar decisões eleitorais. Até aqui, a terceira via mais atrapalhou do que ajudou o eleitor”, destaca o diretor da Quaest, Felipe Nunes, que, em parceria com o banco Genial, tem produzido pesquisas de intenção de voto nacionais e estaduais.
Para o cientista político e sociólogo Antônio Lavareda, o cenário aberto após a desistência de Doria mostra “um passo adiante do ponto de vista do esforço de coordenação política visando a diminuir a fragmentação do campo da chamada terceira via”. Na análise de Lavareda, uma candidatura encabeçada por Simone Tebet vai precisar focar no espaço pouco ocupado até agora por esse conjunto de partidos. Com a saída de Doria, ganha força a tese de parte do MDB sobre Simone: o potencial para conquistar votos do eleitorado tradicionalmente indeciso às vésperas de eleições no Brasil.
Como mostrou o Estadão no domingo, mesmo com índices baixos de intenção de voto – 2% da preferência, em média – aliados da senadora avaliam que ela pode ser favorecida em ao menos mais dois fatores na comparação com Doria: a obrigatoriedade de partidos investirem ao menos 30% dos recursos dos fundos partidário e eleitoral em candidaturas femininas – com uma mulher disputando a Presidência, o MDB já dará um passo importante no cumprimento da cota, uma vez que campanhas presidenciais devem ter um teto de aproximadamente R$ 70 milhões só no primeiro turno e a aprovação interna.
Simone Tebet tem seu nome defendido pelo presidente nacional da sigla, deputado Baleia Rossi (SP), e conta com a aprovação declarada de 20 dos 27 diretórios estaduais. Essa maioria deve lhe assegurar uma posição confortável na convenção do partido, que costuma ser acirrada.
Líderes do MDB e de outros partidos acreditam que, por ser mulher e ter histórico de atuação na bancada feminina do Congresso, a senadora do Centro-Oeste seria capaz também de conquistar votos do eleitorado feminino, que costuma decidir na última hora. “Eu fui a primeira mulher em muitas coisas na minha vida”, disse a senadora em um vídeo divulgado nas redes sociais na semana passada, após os presidentes do MDB, PSDB e Cidadania declararem apoio a seu nome.
A saída de um competidor da disputa, porém, também abre espaço para a eleição, altamente polarizada, ser, eventualmente, decidida no primeiro turno, alertam os pesquisadores. “É cedo ainda para nós dizermos se esse esforço está fadado ao êxito ou não”, afirmou Lavareda ao Estadão.
Na avaliação de Nunes, além do ponto de vista simbólico, é possível analisar a saída de Doria da disputa presidencial a partir de outros dois pontos de vista: o político e numérico. “Politicamente, Lula aumenta as chances de vitória no primeiro turno com o voto útil, pois o eleitor do Doria rejeita mais Bolsonaro do que Lula”, afirmou o diretor da Quaest.
Nos cálculos do instituto, 77% dos eleitores do ex-governador paulista rejeitam o presidente e 62% rechaçam o petista. “Numericamente, não tem mudança significativa porque Doria sempre apareceu com pouco voto (de 3% a 5%). Mas Ciro (Gomes, do PDT) tem o maior potencial entre esses eleitores (54%). Lula tem potencial de 36% e Bolsonaro de 19%”, afirma o cientista político. “(Simone) Tebet é muito desconhecida”, disse.