Empresário antipetista faz apologia à candidatura de Tebet

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Foto: Wilton Junior/Estadão

Em janeiro de 2021, Fábio Barbosa, sócio da Gávea Investimentos, começou a fazer parte de um grupo batizado de “2022″. Ao lado de outros dez executivos e empresários de primeira linha, discutiam como se mobilizar em torno de um candidato à eleição presidencial que fugisse da polarização de 2018 e que, anteviam, se repetiria. “Representamos uma parte da sociedade que se sente desconfortável ao ser colocada diante dessa situação de escolha novamente, em 2022″, diz ele. “A sociedade está mobilizada como eu nunca havia visto: não me lembro de, em 2017 ou em 2013, um ano e meio antes das eleições anteriores, parte da sociedade civil se mobilizar na busca de alternativas.”

Para ele, as propostas dos candidatos à terceira via são, em sua essência, positivas. “O (ex-ministro Luiz Henrique) Mandetta, o (ex-ministro Sérgio) Moro, o (ex-governador Eduardo) Leite, o (ex-governador João) Doria ficaram pelo caminho por N razões, mas qualquer um deles seria uma alternativa melhor do que as que apresentam os candidatos que lideram as pesquisas.”

Com o nome de Simone Tebet praticamente fechado como candidata alternativa, chegou a hora de se posicionarem, como afirmou ao Estadão/Broadcast, na entrevista a seguir:

Por que apoiar a senadora Simone Tebet à eleição presidencial?

Participo de muitos grupos (com preocupações ligadas à eleição) e ouvimos de muita gente que entende do assunto que eleição no Brasil é muito personalista: as pessoas querem saber qual é a ‘cara’ de quem se está falando. Sem cara, não há terceira via. Agora, temos essa ‘cara’ e a gente pode começar a trabalhar. No grupo de empresários e executivos, achávamos que Doria e Tebet eram boas alternativas, razão pela qual estávamos aguardando a decisão para nos posicionar. Agora, precisamos mostrar quem é Simone Tebet para um grupo maior de pessoas. Isso começou a acontecer com a ideia do manifesto, que já conta com 4 mil assinaturas e é formado por um grupo bastante heterogêneo, com lideranças de movimentos sociais, indígenas e de outros setores da economia.

A terceira via tem chances?

De janeiro do ano passado até agora passaram-se 17 meses e eu já li 17 vezes que a terceira via foi dada como morta. Não obstante está aí. É lógico que é difícil e as chances são muito pequenas. Ninguém discute isso, mas não é jogo jogado. Tem muita gente que se declara eleitor de um candidato porque não quer ver o outro ganhar. A ideia de que existe uma terceira via era muito etérea, mas agora personalizou.

O que a Simone Tebet traz para a mesa?

Nenhum dos dois candidatos que estão à frente das pesquisas têm mostrado um plano de governo. A ideia é trazer propostas. Ela trabalha com a Elena Landau, que coordena especialistas em diversas áreas, com o olhar que não está sendo visto nos outros programas. Não vejo campanha de um candidato ou de outro discutir os problemas que afligem o País de fato: as questões de desemprego, inflação, insegurança alimentar, segurança pública, saúde. A ideia é trazer para a mesa um quê de civilidade e de transparência e discutir objetivamente, ao invés de ficar apenas criticando. Daqui para frente, a gente vai ver mais isso: ser mais propositivo.

Mas o que a faz diferente dos outros?

Tebet traz uma proposta para a economia mais assentada. Paulo Guedes defendeu muito uma agenda que acabou não sendo implementada. Entendemos que uma economia mais aberta e de orientação liberal é a melhor maneira de o Brasil endereçar o problema de distribuição de renda, de desemprego e de inflação. Temos visto pouco esse caminho. Ao contrário, temos visto propostas de desrespeito ao teto de gastos, por exemplo. Outro assunto sobre o qual se fala pouco, é que o Brasil, uma potência ambiental, começa a ser mal visto nessa área. Estamos com a imagem muito comprometida e as políticas não estão levando na direção de melhorá-la. É importante que se tenha uma política ambiental, bem como em relação à questão da educação desde a primeira infância. Essa política de centro, com uma economia mais aberta, dará condições ao País de prover a todos os cidadãos a oportunidade de lutar por uma vida digna.

O fato de ela ser mulher e do Centro-Oeste ajuda a atrair o eleitor?

Para começar, ela traz civilidade, propostas concretas e transparência para o debate. A ideia é ser construtiva e não tentar desconstruir quem está à frente nas pesquisas. É o que chamo de civilidade. São diferenciais que não deveriam existir porque deveria haver propostas dos dois lados. Não as vejo e, quando as vejo, especificamente no caso do PT, encontro falas que preocupam. Agora, o fato de ser mulher, se tiver de ser usado (já que o que interessa não é ser homem ou mulher, mas as propostas que faz), pode cativar uma parte do eleitorado. Ser do Centro-Oeste traz a ideia de um País que cresce. O Brasil cresce hoje no Centro Oeste. O Brasil é o que é graças aos grandes centros e também ao interior, graças ao agronegócio. É importante ter um representante que entenda a questão ambiental e como isso pode prejudicar o Brasil caso não seja bem usado. É preciso ter uma economia mais ligada ao século 21, conectada às questões energéticas, ao verde, à energia limpa, ao crédito de carbono. Também à questão da educação desde a primeira infância porque a economia do Século 21 depende muito de educação.

Após a redemocratização, os ganhadores das eleições já lideravam as pesquisas nessa altura do campeonato. Por que com Tebet seria diferente?

Não é o caso do (ex-governador Wilson) Witzel, não é o caso do (governador Romeu) Zema, não é o caso do Brexit e nem do (ex-presidente norte-americano Donald) Trump. Nas eleições federais, você tem razão, mas nas estaduais, não. Foram arrancadas finais. Há dificuldades, mas na luta quixotesca que temos, a ideia é: enquanto tiver jogo, nada está definido. O jogo só acaba quando termina. Vamos fazer o que for possível. Não sendo possível, tomaremos nossas decisões sobre o que fazer no segundo turno, no qual não haja essa alternativa.

Simone Tebet sabe falar com o povo brasileiro, como o fazem Lula e Bolsonaro?

A dificuldade é falar sem ser populista, como nos dois casos. A aposta é que sim, por ser mulher, por ser suave e porque há uma parcela da população que está cansada de tanto antagonismo, divisão e sectarismo. Ela falará para as pessoas que não querem as agressões e buscam uma conversa mais construtiva, sem promessas indevidas. O desafio está Estadão  no exíguo período que temos para transformá-la numa pessoa conhecida. Mas a televisão continua tendo um impacto muito grande. A TV ainda não entrou em campo. No fundo, é acreditar que algo ainda possa acontecer versus a alternativa de ‘então deixa’. Vamos acreditar. Desde que se entenda que está trabalhando por algo que é melhor do que a inércia oferecerá. Como se quebra a inércia? Insistindo. O que anima mais o pessoal do grupo é que agora conseguimos chegar em torno de um nome e que dá para trabalhar com a personificação.

Além do manifesto, o que cabe mais à sociedade civil fazer, principalmente considerando-se que a eleição vem sendo disputada fortemente nas redes sociais?

O grande drama é tornar a candidata mais conhecida. Esse grupo da sociedade civil, que está mobilizado e é crescente, irá expor o máximo possível a candidata a grupos diferentes, sejam pequenos e formadores de opinião ou grandes, com outras pessoas, de outros segmentos da sociedade. A questão é: a gente acredita que ela está bem respaldada por pessoas que estão fazendo estudos importantes e, portanto, se nós a expusermos, ela tem condições de começar a encantar. Uma frase que me incomoda é ‘então deixa’. Então deixa, não. Vamos fazer nossa parte. Não sei como resolver os problemas do Brasil. Não tenho a menor ideia. Mas sei que, se cada um varrer sua calçada, o País fica lindo. Vamos fazer nossa parte e o que está ao nosso alcance.

Esse apoio envolverá redes sociais?

Existe, sim, uma estratégia sendo montada. Não sou responsável pela estratégia de marketing e não posso entrar em detalhes, mas existe e acontecerá sem a agressividade que agrada uma parte da população. Queremos conversar com a parte da sociedade que não se sente representada por essa agressividade.

Qual candidato a vice fortaleceria essa candidatura?

É um assunto de política. Tem conversas que só os partidos podem acertar. Os políticos saberão fazer melhor a parte que lhes cabe, como caberá ao partido, à estratégia política, a definição de recursos. Nossa preocupação é com a exposição da Simone de uma maneira que ela não teve até agora. Não subestimamos a dificuldade, mas também ninguém subestima a relevância que seria chegarmos a ter uma alternativa que despertasse a esperança. Não vejo as candidaturas atuais, à frente das pesquisas, despertando a esperança. É a chave dessa história. Queremos trabalhar no espaço vazio de propostas concretas, já que os outros não as apresentam. A (filósofa) Hannah Arendt tem uma frase: ‘quando se escolhe o menos ruim, não esqueça que você escolheu uma alternativa ruim’. É questão de acreditar ou se resignar. Tenho visto crescente parte desse mundo na busca de alternativas. Aos 30 minutos do segundo tempo, não acabou o jogo. Quantos gols são feitos no último minuto? É preciso quebrar a resistência ao jogo jogado. É preciso acabar com o ceticismo em relação à falta de alternativa. Isso consolida na cabeça das pessoas que não estão envolvidas que não há mais o que fazer. Mas estamos quixotescamente dizendo que existe espaço para algo melhor e é alguma forma de despertar a esperança e lutar contra outras probabilidades e por alguma coisa que se acredita.

Há uma intenção de torná-la conhecida agora para se tornar uma candidata viável em 2026?

Não trabalhamos com a ideia de tornar o nome conhecido para 2026. Queremos ficar ali na pequena área para ver como as coisas se desenrolam. Se não estivermos na pequena área e houver uma jogada de sorte, não poderemos aproveitar. Colocaremos as atitudes e a civilidade das propostas sem populismo, para que a gente possa estar no jogo. As chances são pequenas, mas a causa é boa.

Estadão