Flavio Bolsonaro espalhou nas redes que Lula é associado ao “demônio”
Foto: Evaristo Sá/AFP
O enfrentamento com Bolsonaro nas redes sociais se tornou um dos focos da campanha de Lula. Para atuar nessa frente, o petista consolidou um grupo dedicado a elaborar estratégias digitais que buscam aumentar seu diálogo com jovens e combater fake news direcionadas ao ex-presidente.
A equipe atua em sintonia direta com os advogado Eugênio Aragão e Cristiano Zanin Martins, que, abastecidos por informações do monitoramento de redes, passaram a acionar na Justiça os responsáveis por conteúdos falsos, com o intuito de sufocar a propagação de mentiras. Um dos alvos foi o senador e filho 01 do presidente, Flávio Bolsonaro, que publicou um vídeo editado no qual associava Lula ao demônio. A Procuradoria-Geral Eleitoral afirmou que a publicação de Flávio pode ser enquadrada como fake news, mas foi contra a imposição de punição ao parlamentar.
Em paralelo, a campanha colocou no ar o projeto “Verdade na Rede”, focado em receber denúncias sobre desinformação e combatê-las. No ar há quase dois meses, o site recebeu mais de 2 mil denúncias de fake news, outdoors com ofensas a Lula e ameaças físicas a ele ou militantes do PT. Também foram criados contatos de WhatsApp para receber essas denúncias.
— O objetivo é garantir um ambiente democrático na internet para que as pessoas possam fazer a escolha de seu candidato sem serem orientadas pelo medo — disse à coluna a cientista social especialista em tecnologia Brunna Rosa, que integra a coordenação digital da campanha de Lula.
Brunna é uma das responsáveis por elaborar as oficinas que o PT colocará nas ruas a partir de agosto para aumentar a presença do ex-presidente nas redes. A iniciativa já aconteceu na eleição de 2020 em cidades onde o partido conseguiu eleger seus candidatos, como Contagem e Juiz de Fora, em Minas Gerais.
— A gente identificou que um padrão de disseminação de desinformação nas redes de Bolsonaro e seus aliados. Eles espalham links e depois apagam muitos deles. Toda vez que há algum problema ou uma crise no governo, soltam uma cortina de fumaça na tentativa de mudar o foco — disse a cientista social.
No último mês, a campanha de Lula celebrou levantamentos independentes que mostraram o petista na liderança do número de interações nas redes, segundo a Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV), e de menções, conforme dados da plataforma de monitoramento digital Torabit. O estudo mostrou que Lula foi, no mês passado, o candidato que obteve o maior número de menções diárias, na casa de 16,8 mil, enquanto Bolsonaro teve uma média de 9,7 mil menções por dia.
— Em abril houve um maior número de menções ao ex-presidente Lula nas redes, devido às exposições midiáticas atreladas às questões da internet, como o encontro com a Dra. Deolaine, fenômeno nas redes, ou seu encontro com jovens, onde posou com os famosos óculos Juliet. Eventos como esses trazem engajamento imediato para o nome de Lula. Este mês, já se nota eventos parecidos com o apoio do ator Mark Hamill, famoso pelo papel de Luke Skywalker, e com a viralização de receitas de Lula com Chuchu — analisou Stephanie Jorge, fundadora e sócia do Torabit em referência ao apelido do futuro vice de Lula, Geraldo Alckmin.
Os encontros do petista com influencers fazem parte da estratégia digital da campanha para que Lula fale com diferentes públicos. Em sua viagem a Campinas (SP), na semana passada, ele dedicou parte da agenda a conversas com influenciadores digitais da região.
Mas nem tudo é alegria no mundo digital de Lula. Os dados trazem más notícias ao petista. O aumento do engajamento nas redes de Lula também se deve a publicações que envolveram seus opositores, como o aparecimento de uma foto sua com Alckmin, que foi alvo de piada de Bolsonaro com o comentário “kkk”. “A foto gerou repercussão negativa entre os bolsonaristas. Bolsonaro riu na publicação de Lula, obtendo mais curtidas e engajamento que o próprio ex-presidente”, aponta o relatório da Torabit, afirmando que a reação predominante sobre o fato nas redes foi negativa para Lula.
— A negatividade em torno da foto com Alckmin ou o sentimento negativo no geral em torno de Lula sugere que a estratégia de Bolsonaro, seja de apoio orgânico da militância ou impulsionado por fakes/bot, funciona e faz o movimento negativo acontecer, porém, é necessário acompanhar se esta constância será mantida. Nas redes, tudo pode mudar rapidamente e, até outubro, quem tiver feito o melhor colchão de boa vontade terá mais chances de que o online ajude efetivamente nas urnas — concluiu Stephanie Jorge.
Os números da Torabit mostram que Bolsonaro foi o candidato com o menor ranking de menções negativas em abril, de 25,1%. Já Lula teve 51,4% das menções que citavam seu nome e as eleições em contexto negativo.