Livro relatará negacionismo contra covid no governo
Foto: Igo Estrela/Metrópoles
Apesar ter ter chamado a doença de “gripezinha”, o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve sua gestão dramaticamente marcada pela Covid-19. Os bastidores das tormentas que marcaram a maneira errática do governo de lidar com a pandemia que tomou a vida de mais de meio milhão de brasileiros são o fio condutor do livro Sem Máscara – O governo Bolsonaro e a aposta pelo caos, que o jornalista Guilherme Amado, colunista do Metrópoles, lança pela editora Companhia das Letras na quarta-feira (1º/6).
Na obra, Amado explica, em detalhes apurados diretamente com os envolvidos, episódios dramáticos que acabaram simplificados ou sufocados no cotidiano de uma cobertura jornalística exaustiva.
Episódios como a luta do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta para convencer o ex-chefe da gravidade da situação, um esforço que teve o apoio de chefes dos outros Poderes e até dos militares com mesa no Palácio do Planalto, mas acabou infrutífera. Ou a tentativa do senador Flávio Bolsonaro de convencer o pai a se vacinar contra a Covid, frustrada quando a possibilidade foi apurada por uma instituição que o presidente considera inimiga – a imprensa.
Amado revela como, desde o começo da pandemia, mesmo municiado de todas as informações disponíveis sobre a seriedade do momento, Bolsonaro fez escolhas conscientes contra todas as recomendações da ciência para enfrentar o vírus. E mostra as consequências práticas da atitude do presidente, como a demora em investir na vacina e a aposta em soluções sem eficácia, como a cloroquina (imagem em destaque).
No capítulo “Pazuello, pesadelo”, por exemplo, o jornalista detalha os esforços do Itamaraty para tentar criar uma OMS “paralela” em Genebra, agrupando países dispostos a deixar a Organização Mundial de Saúde durante a pandemia.
A narrativa de Guilherme Amado não se restringe aos acontecimentos ligados ao enfrentamento à pandemia. O jornalista mostra ainda que a maneira bélica de lidar com a emergência de saúde pública foi o método de Bolsonaro para tratar de toda a administração pública.
O autor revela como outros personagens institucionais, como ministros do Supremo, o ex-presidente Michel Temer (MDB) e os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e (então) da Câmara, Rodrigo Maia (PSDB), se esforçaram para evitar episódios como a escalada golpista dos atos de 7 de Setembro de 2021 ou o desfile de tanques na Esplanada dos Ministérios no dia em que a PEC do Voto Impresso foi votada e sepultada no Congresso.
As poucas oportunidades em que esse esforço deu frutos estão registradas no livro de Amado. Um exemplo foi quando Bolsonaro foi convencido pelo senador Davi Alcolumbre e pelo ministro Dias Toffoli a desistir de afrontar o Supremo e não renomear o assessor Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal, em abril de 2020.
Ou quando o presidente não cedeu à pressão de alguns de seus ministros para desrespeitar determinação do STF e não entregar o vídeo da infame reunião ministerial de 22 de abril de 2020, que se tornou pública devido à acusação do ex-ministro Sergio Moro de que o presidente queria interferir na PF para proteger seus filhos.
A preocupação de Bolsonaro com os filhos, aliás, é outro assunto destrinchado nas mais de 400 páginas de Sem Máscara. Um dos episódios narrados é sobre a decisão de Bolsonaro de deixar o filho Carlos morando no Palácio da Alvorada por boa parte do ano passado, temendo que o vereador carioca fosse preso.
São personagens de destaque, também, os ministros de Bolsonaro e as tensões que o estilo do chefe impõem a eles. No capítulo “Biografia é o caralho”, por exemplo, Amado narra o dia em que Paulo Guedes cogitou seriamente pedir demissão do governo – e porque desistiu.
Guilherme Amado lança Sem Máscara na próxima quarta-feira (1º/6) na livraria da Travessa do Casa Park, em Brasília, a partir das 19h. O evento contará com um bate-papo entre o autor e o jornalista Bruno Boghossian.