Bancada da Bala tem cara nova para 2023
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Figura em ascensão no bolsonarismo, o advogado Marcos Pollon, de 41 anos, é hoje um dos principais propagadores da política armamentista no Brasil. Se antes era a indústria quem influenciava, em Brasília, a flexibilização das regras para armas, agora são civis como Pollon que se sobressaem nos bastidores.
Invocando o lema da “liberdade”, ele defende o direito à posse de armas como um instrumento de ação política, em consonância com o bordão bolsonarista “Um povo armado jamais será escravizado”. Nos últimos meses, o advogado sulmatogrossense tem percorrido o Brasil para angariar pré-candidatos ao pleito de outubro e formar uma espécie de nova geração da bancada da bala. Recentemente, ele também se apresentou como pré-candidato a deputado federal pelo Mato Grosso do Sul, com a “bênção” do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Pollon diz militar pela cultura armamentista desde 2005, inspirado por Bene Barbosa, do Movimento Viva Brasil, um dos precursores da causa. Até meados de 2020, era só mais um que se valia das redes sociais para espalhar conteúdos pró-armas, com caráter mais técnico e jurídico. Sua influência começou a alcançar novos patamares em maio daquele ano. No auge da primeira onda da pandemia da Covid-19, ele compareceu ao cercadinho do Palácio da Alvorada.
Vestindo um agasalho do Palmeiras e com uma máscara estampando a bandeira do Brasil pendurada na orelha, Pollon pedia mudanças em uma instrução normativa da Polícia Federal que impedia o porte de armas. Bolsonaro sinalizou que atenderia à reivindicação. Virou para um assessor e ordenou: “Anota aí”. A cena foi filmada, viralizou, e a instrução foi revogada e substituída.
Em 2021, Pollon formalizou sua atuação política com a criação da Associação Nacional Movimento Proarmas (Ampa), que trabalha na produção de conteúdos sobre o tema, tem atuação jurídica em processos coletivos no Supremo Tribunal Federal (STF) e faz articulação no Congresso. Caçadores, atiradores e colecionadores (CACs), que no governo Bolsonaro já ultrapassam os 600 mil, formam seu público principal. Com sede em Brasília e representação em todos os estados do país, o Proarmas tem mais de 1.500 colaboradores, entre contratados e voluntários, e corpo jurídico de 120 advogados. Numa entrevista recente, Pollon afirmou que já entrou com mais de 180 ações judiciais — algumas contra a imprensa.
Aos membros associados, que fazem contribuições mensais entre R$ 10 e R$ 150, o Proarmas promete, entre outros benefícios, auxílio jurídico. Tanto para um CAC conduzido a uma delegacia por portar armas quanto para aquele que reagiu em “legítima defesa e, infelizmente, levou o agressor ao óbito”, nas palavras de Pollon. Em seu discurso, é recorrente o desejo de transformar o Proarmas na versão brasileira da Associação Nacional do Rifle (NRA), a entidade de lobby armamentista mais poderosa dos Estados Unidos.
Pelo terceiro ano consecutivo, manifestantes pró-armas se reunirão em Brasília num evento “pela liberdade”, organizado pela associação, no próximo 9 de julho. A expectativa é juntar apoiadores de todo o Brasil e superar o público declarado de 25 mil pessoas no ano passado.
Depois da abordagem no cercadinho do Palácio, Pollon se tornou próximo do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Uma de suas investidas recentes é a criação de uma rede de pré-candidatos ao Legislativo. Em contrapartida ao apoio do Proarmas, esses políticos, se eleitos, terão o compromisso de entregar a pauta de armas à associação de Pollon. Num vídeo recente, o advogado explica a exigência: “Uma vaga no gabinete, para ter um cara nosso lá monitorando. O cara (político) pode falar de tudo. Esgoto, bicicleta, disco voador, saci-pererê, não me interessa. Eu quero a pauta de armas”.
— A arrecadação do Proarmas vem de pessoas físicas. Disponibilizamos cursos on-line para as pessoas que têm interesses. Então a arrecadação vem daí — disse Pollon ao GLOBO sobre o financiamento da entidade, acrescentando que não se senta um conselheiro da família Bolsonaro sobre o tema, somente um especialista na legislação. — Eu conheci o presidente em 2015 e mantive relações com o Eduardo Bolsonaro por conta da pauta. E ele se tornou um grande amigo.
Numa rede social, Eduardo falou de sua admiração por Pollon, o chamou de “camarada”, “amigo”. Em encontro recente, Bolsonaro comentou sobre a candidatura: “Tem meu apoio, beleza, taca o pau”.
Advogados, donos de clubes de tiros e atiradores ouvidos pelo GLOBO concordam que Pollon é hoje a principal liderança armamentista do Brasil. Sua entrada para a política, entretanto, não é unanimidade entre os CACs. Há uma minoria que teme que o Proarmas, sem a liderança de Pollon, perca a força. Um dos ouvidos desconfia da fidelidade de Pollon: “Eu o categorizo como uma incógnita. Não sei se vai se tornar um MBL logo menos”.
— Antes de Bolsonaro, a indústria era o stakeholder principal, era de lá que vinha o lobby. Desde 2020, com a explosão dessa política de curto-circuitar a legislação de armas pelas brechas, começou a ter um lobby ultraorganizado e bem mais pulverizado do que antes — avalia Felippe Angeli, gerente de advocacy do Instituto Sou da Paz.