Bolsonaro quer voto de “pessoas que nos servem”

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 Foto: Isac Nobrega/PR

Quatro anos depois de causar frisson em almoço semelhante como pré-candidato ao Planalto, oferecido na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), o presidente Jair Bolsonaro voltou a ser aplaudido ontem na entidade por uma plateia formada por cerca de 350 empresários e políticos. Um dos momentos em que foi mais ovacionado ocorreu quando Bolsonaro disse que pode descumprir decisões da mais alta Corte do país.

“[Vou] Entregar as chaves para o [presidente do STF Luiz] Fux ou falar ‘não vou cumprir’”, afirmou, numa referência ao julgamento do marco temporal das terras indígenas. Esse é um tema que não está na pauta do Supremo, mas ainda assim o presidente recorrentemente o menciona. Trata-se de aceitar ou não a tese de que só pode haver demarcações onde se comprove a presença indígena antes de 1988.

Bolsonaro atacou o relator da matéria, ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, chamando-o de marxista-leninista e ex-advogado do MST. A informação é falsa. Fachin nunca advogou para o movimento.

O tom que predominou em sua fala de 40 minutos, contudo, foi o eleitoral. Atacou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), maior adversário à sua reeleição, a quem chamou de “nove dedos”, e sugeriu aos empresários que busquem convencer eleitores mais pobres a aderir à sua candidatura. “Se configurar essas duas opções que nós temos – o cara lá, o ‘nove dedos’, e eu – ele tem oito anos, eu vou ter três e meio. Não posso falar vote em mim, vocês é que têm que decidir. Alguém acha que o cara ocuparia aquela cadeira e não traria José Dirceu, Maria do Rosário?”, disse o presidente.

Bolsonaro que a alta dos preços, que tem abalado sua popularidade – “Reconhecemos a inflação, nos alimentos, nos combustíveis, estamos tratando do assunto” – e pediu que a decisão de voto seja uma escolha “com a razão”. Expôs o que considera os feitos de seu governo e propôs aos presentes que conversem “com pessoas humildes que nos servem, como esse que trouxe água aqui para mim agora há pouco”, disse, referindo-se ao garçom, o qual abordara antes perguntando de que “país do Nordeste” ele vinha. Era de Minas Gerais.

Bolsonaro disse que “se alguém quiser eleger e votar em outro, e numa eleição limpa, transparente e auditável, sem problema nenhum”. Ele contudo, já colocou diversas vezes em dúvida a confiabilidade do sistema eletrônico de votação, sem nunca apresentar provas.

“Não vamos ter problema no Brasil”, afirmou, apesar dos receios de que promova tumultos, caso perca a eleição. “Ontem, o Ciro Gomes disse que se Lula ganhar o Brasil fica ingovernável, tem guerra civil. Se eu falo isso, imagina o que ia acontecer comigo”, disse o presidente. Ciro fez a afirmação em um podcast do comunicador Monark, anteontem.

O presidente mais uma vez criticou Fachin por ter se reunido com embaixadores, aos quais pediu que avisem a seus chefes de Estado que reconheçam o vencedor da eleição, assim que o resultado for anunciado. Foi a terceira vez em três dias consecutivos em que Bolsonaro tratou do tema.

Bolsonaro criticou ainda a política de preços da Petrobras: “As grandes petrolíferas baixaram a margem de lucro, aqui se faz o contrário ainda, vamos tentar mudar isso daí.”

Valor Econômico