Campeões direitistas de voto em 2018 chegam fracos a 2022
Foto: Paulo Sergio/Agência Câmara, Tiago Queiroz/Estadão, Dida Sampaio/Estadão, Edilson Rodrigues/Agência Câmara, Michel Jesus/Agência Câmara e Gabriela Biló/Estadão
Eleitos na onda bolsonarista que dominou o País em 2018, os campeões de voto de quatro anos atrás apostaram no discurso ideológico e, em geral, não conseguiram liderar os principais debates do Congresso. Alguns romperam com o presidente Jair Bolsonaro (PL) e mudaram de partido. Outros ainda tentam chamar a atenção com propostas polêmicas.
Candidato com a maior votação para deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho “03″ do presidente, não entra nas discussões mais relevantes da Câmara. Investe, porém, nas redes sociais e tem atuação voltada para o “bolsonarismo raiz” em canal do YouTube. Eduardo defendeu, por exemplo, “um novo AI-5″ para conter manifestações de esquerda e citou “espionagem da China” ao falar sobre a adesão do Brasil à tecnologia 5G. Teve apenas um projeto que virou lei nesta legislatura: o que institui o Dia Nacional da Pessoa com Atrofia Muscular Espinhal.
Joice Hasselmann (PSDB-SP), outra aliada de Bolsonaro naquela eleição, foi a segunda mais votada do ranking. Era do PSL, partido que elegeu o presidente, mas saiu das articulações políticas do Planalto ao romper com ele e perder a liderança do governo no Congresso. “Sou autora de 289 projetos de lei e coautora de muitos outros, inclusive o que regulamentou a telemedicina e o homeschooling no Brasil”, disse Joice. “Não fico esperando ninguém me dar nada. Arranco minhas relatorias na unha e sigo trabalhando pelo País.”
Em geral, o campeão de voto é uma decepção completa
Antônio de Queiroz, consultor do Diap
No Rio, o campeão de votos foi o deputado Hélio Lopes (PL-RJ), amigo de Bolsonaro. Lopes teve, até agora, dois projetos aprovados: um deles institui o Ranking Nacional Esportivo das Instituições de Ensino Superior Brasileiras; o outro aumenta as penas para casos de abandono e maus-tratos a idosos. As duas propostas, porém, não andaram no Senado.
Na Bahia, o mais votado não é apoiador de Bolsonaro, mas, sim, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Trata-se de Pastor Sargento Isidório (Avante-BA). O deputado se apresenta como “ex-gay” e anda pelo plenário com uma Bíblia embaixo do braço. Tentou emplacar lei proibindo o uso da palavra “Bíblia” em publicações não religiosas, mas, diante da polêmica, recuou.
Na disputa de 2018, o Congresso também foi ocupado por famosos, como os deputados Kim Kataguiri (União Brasil-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP). Os dois eram aliados de Bolsonaro, mas acabaram se afastando dele.
“Se fosse para dar uma nota ao conjunto da obra (do Congresso), diria que se salva muito pouco. A principal medida foi a reforma da Previdência, mas o conjunto é muito ruim, principalmente pela criação do orçamento secreto e pelo engessamento de bilhões para a compra de votos de parlamentares”, afirmou Kataguiri, um dos fundadores do Movimento Brasil Livre (MBL).
Se fosse para dar uma nota ao conjunto da obra (do Congresso), diria que se salva muito pouco
Kim Kataguiri (União Brasil-SP), deputado federal
Frota já chegou a definir a Câmara como “lixo”, mas tem evitado avaliar o trabalho dos colegas. “Dou nota para o meu trabalho, que é 10 perto da vagabundagem, da preguiça e do descaso daquelas pessoas que olham apenas para si próprios”, disse o ex-ator, que, a exemplo de Joice, foi eleito pelo PSL. Desta vez, ele concorrerá a uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Para Antônio de Queiroz, consultor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), os campeões de voto de 2018 tiveram desempenho pífio. “Em geral, o campeão de voto é uma decepção completa. Ele não se dedica à produção legislativa, mas a uma campanha permanente. É uma celebridade ou alguém que vive de gerar polêmica e confronto”, disse. Procurados, Eduardo Bolsonaro, Hélio Lopes e Sargento Isidório não se manifestaram.