Governo teme que Bolsonaro diga absurdos a embaixadores
Foto: Evaristo Sá/AFP
Integrantes do governo têm atuado para demover Bolsonaro da ideia de se reunir com embaixadores para falar sobre as eleições. A avaliação dessa ala do governo, da qual fazem parte dois ministros ouvidos pela coluna sob condição de anonimato, é que o encontro só serviria para “expor” Bolsonaro e tensionar ainda mais sua relação com o Judiciário.
Esses auxiliares tentam convencer Bolsonaro a deixar o encontro a cargo do ministro das Relações Exteriores, Carlos França. O argumento apresentado é que cabe ao chanceler ter esse tipo de conversa com os representantes de outros países, e não ao presidente da República. Além disso, ministros admitem que Bolsonaro anda com os ânimos “à flor da pele” e que as chances de “exagerar” nas críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) são grandes. Como exemplo, apontam os ataques feitos por ele a magistrados nesta semana, durante um evento no Palácio do Planalto. A fala foi considerada excessiva até por críticos ao Judiciário dentro do governo.
No encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta quinta-feira, Bolsonaro não deixou o tema passar em branco. Ele levantou suspeitas sobre as eleições brasileiras e disse querer “eleições limpas, confiáveis e auditáveis”.
Integrantes da campanha de Bolsonaro também consideram a agenda com os embaixadores um erro. Eles têm aconselhado o presidente a parar com seu “discurso de ódio” e argumentado que esse comportamento tira votos.
Como informou O GLOBO, assessores de Bolsonaro já prepararam um arsenal de documentos para municiar o presidente para essa conversa. O material inclui decisões e declarações de ministros do STF que, na visão do Palácio do Planalto, demonstrariam parcialidade da Corte em relação ao chefe do Executivo e a seus apoiadores.
Bolsonaro quer se contrapor ao presidente do TSE, Edson Fachin, que se reuniu com embaixadores para defender a segurança do sistema eleitoral brasileiro, no mês passado. O presidente disse a assessores que o magistrado “invadiu” a competência do Executivo ao se reunir com representantes de outros países para tratar do tema. À frente do TSE, Fachin tem feito uma incisiva defesa das urnas diante dos ataques do presidente.