
Ideologia separa Tebet e Ciro
Foto: Sergio LIMA / AFP
Divergências na área econômica são apontadas como principal entrave pelo entorno dos pré-candidatos Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) para uma eventual aliança dos dois na corrida pelo Palácio do Planalto. Embora ambos se apresentem como alternativa à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e até já tenham feito acenos nesse sentido, um acordo é algo visto como distante no momento.
Aconselhada pela economista Elena Landau, Tebet deve apresentar um projeto liberal em seu programa de campanha. Mesmo contra a privatização da Petrobras, a emedebista defende a venda de outras estatais, como a Eletrobras, e, em um dos primeiros esboços de plano de governo, prevê a volta do Programa Nacional de Desestatização (PND) ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ciro, por sua vez, é contrário às privatizações e já afirmou que pretende reverter a privatização da Eletrobras, oficializada neste ano. Já sobre a Petrobras, outro ponto de divergência: ainda que haja consenso entre os pré-candidatos contra a privatização da empresa, o pedetista quer recomprar ao menos 60% das ações da estatal, enquanto a medebista defende um diálogo entre a direção da empresa com os seus acionistas.
Outros dois pontos de conflito são a reforma da Previdência e a autonomia do Banco Central, duas medidas aprovadas no governo Bolsonaro. Como senadora, Tebet votou a favor de ambas quando a discussão passou pelo Congresso. Ciro, do outro lado, foi contrário às duas. A reforma nas aposentadorias, aprovada em 2019, causou um racha no PDT, com parlamentares desobedecendo à orientação da legenda ao votar a favor do projeto. Já sobre o BC, o pedetista afirma que, apesar de a legislação atual prever mandato para diretores do banco público, convidará o presidente, Roberto Campos Neto, a se demitir e classificou-o como “uma raposa cuidando de galinhas”.
Os dois pré-candidatos também divergem em relação ao legado do governo do presidente Michel Temer (MDB). Tebet defende a manutenção tanto do teto dos gastos quanto da reforma trabalhista. É o oposto do que Ciro prega. O pedetista quer rever as duas medidas e colocá-las em votação no pacote de reformas que pretende apresentar nos primeiros meses de um eventual governo. Entre as propostas, quer uma reforma tributária e fiscal, com redução de subsídios e incentivos fiscais em 10% no primeiro ano e recriação de imposto de renda sobre lucros e dividendos distribuídos.
Ciro já afirmou em entrevistas que considera muito Tebet e aceitaria tê-la como vice:
— Ela é diferente. Não é uma viúva do bolsonarismo, como o (ex-governador João) Doria. Ela tem um papel importante.
Um entrave prático nessa composição, no entanto, é o acordo do MBD com o PSDB para que seu vice seja indicado pelos tucanos. O nome mais cotado para a vaga é o senador Tasso Jereissati (CE). Tebet, contudo, já afirmou estar aberta a conversar com o pedetista em algum momento da campanha. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no início do mês, disse que ela e Ciro estão “do mesmo lado da história”.
Mesmo com as diferenças no tema econômico, Ciro e Tebet têm pontos de convergência. Ambos são a favor, por exemplo, do fim da reeleição. Os dois também defendem um programa de distribuição de renda unive