Nota do Exército dizendo que não procura desaparecidos irrita as redes
Foto: Igo Estrela/Metrópoles
Na noite desta segunda-feira (6), quando o desaparecimento do jornalista Dom Phillips e do indigenista da Funai Bruno Araújo já ultrapassava as 30 horas desde a notificação às autoridades, uma nota à imprensa assinada pelo Comando Militar da Amazônia (CMA) do Exército Brasileiro causou revolta e indignação nas redes sociais.
Sem nomear Dom ou Bruno —referidos apenas como “um jornalista inglês” e “um indigenista” —a nota afirma que o CMA “está em condições de cumprir missão humanitária de busca e salvamento, como tem feito ao longo de sua história”. “Contudo”, continua, “as ações serão iniciadas mediante acionamento por parte do Escalão Superior”.
O que vocês entendem desta declaração oficial do Comando Militar da Amazônia?
“…o Comando Militar da Amazônia (CMA) está em
condições de cumprir missão humanitária de busca e salvamento, contudo as ações serão iniciadas mediante acionamento por parte do Escalão Superior.” pic.twitter.com/9l5g7RCJu6— Eliane Brum (@brumelianebrum) June 7, 2022
A nota termina agradecendo a “confiança depositada nas Forças Armadas”. E usuários questionam onde está o senso de urgência da instituição.
Gente, isso aqui é de verdade? pic.twitter.com/Rb7aDADiJv
— Celso Rocha de Barros (@NPTO) June 7, 2022
A passividade do Exército diante do caso deixou perplexos àqueles que esperavam o pronto envolvimento das autoridades neste caso de repercussão internacional, em que “cada minuto conta”, como afirmou Sian Phillips, irmã do jornalista colaborador do Guardian, em seu apelo às autoridades brasileiras.
Sian Phillips appeals for urgency from Brazilian authorities in the search for brother Dom Phillips, journalist missing in the Amazon since Sunday, please keep up the pressure!@FCDOGovUK@trussliz@BrazilEmbassyUK@mhopkinsfco @marcolonghi4dn@fyldeca@jamescleverly pic.twitter.com/5KruRDOKjK
— Paul Sherwood (@paulsherwood6) June 7, 2022
A Terra Indígena Vale do Javari, onde Dom e Bruno desapareceram no trajeto entre a comunidade de São Rafael e Atalaia do Norte, tem sido frequentemente alvo de invasões de garimpeiros ilegais.
Segundo a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) e o Opi (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato), Bruno estava sob ameaça antes de desaparecer.
A nota do Exército brasileiro chamou atenção de estrangeiros, que entenderam que a instituição admitia, então, que não havia entrado nas buscas. “Vergonha” e “chocante” são alguns dos termos usados para classificar a resposta.
The Brazilian army indicating they have not started looking for the missing British journalist and Brazilian explorer, more that 36 hours after they were last seen in a remote part of the Amazon. No clear explanation given other than they are awaiting orders. #outrageous pic.twitter.com/5xDVbksxNP
— Andrew Downie (@adowniebrazil) June 7, 2022
Algumas horas depois, em outro comunicado à imprensa, o CMA afirmou que “desencadeou uma operação de busca na região de Atalaia do Norte (AM), empregando uma equipe de militares combatentes de selva, utilizando a embarcação Lancha Guardian”.
Nas redes, o anúncio, horas depois da nota em que a o órgão afirmava depender de autorização “do alto escalão”, foi recebido como um recuo “antes tarde do que nunca”.
Eu achei que essa nota do exército, de tão absurda, era fake news, mas de fato ela foi divulgada às 21h de ontem. Contudo, 2h depois, provavelmente após a repercussão e o carinho da torcida, eles postaram outra alegando que as buscas tinham sido iniciadashttps://t.co/woweLxoHpY
— oitavo andar 🐮 (@8th_floor) June 7, 2022
Na manhã desta terça-feira (7), a Marinha informou que está atuando nas buscas empregando o uso de um helicóptero do 1º Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste, duas embarcações e um jet ski.
A Polícia Federal disse que as diligências serão “divulgadas oportunamente”. Junto com a Polícia Civil, vai auxiliar o trabalho de inquérito, entrevistando pessoas da região em busca de informações sobre o paradeiro da dupla. Policiais militares reforçam as buscas, segundo o governo estadual.