Por que candidatos conservadores de SP rejeitam câmeras na PM

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Foto: Taba Benedicto/Estadão

Por que dois candidatos ao governo de São Paulo – Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Márcio França (PSB) – atacam o programa de câmeras corporais da PM? Explicações simples, como a de que Tarcísio repete o padrão de negacionismo de seu mentor, o presidente Jair Bolsonaro, são insuficientes para entender a posição do candidato. Assim como acreditar que França, por querer separar as polícias estaduais em vez de integrá-las – política que nasceu com Mário Covas –, seja só mais um palpiteiro desinformado, desses que provocam desastres quando empalmam o poder.

O programa da PM tornou a polícia mais transparente, eficiente e moderna. Seja preto, branco, rico ou pobre, quem se relaciona com ela é filmado. Acabam o desacato, a cervejinha, a carteirada, o jeitinho que arredonda a vida para uns e desce o látego em outros. É a igualdade de todos perante a lei.

O PM honesto – a maioria da corporação – acrescenta à sua palavra a imagem de seus atos, desaconselhando falsas denúncias de interessados em conturbar a prova e manchar a instituição para ficar impune. Combate-se a viatura fazendo acerto ou execuções, como a do dentista negro Flávio Santana. E não será preciso esperar 40 anos pela confissão ao Estadão do coronel Erasmo Dias para saber a verdade sobre o caso Rota 66.

Com as câmeras, só um PM morreu em tiroteio em 2021, recorde em 31 anos. É que policiais passaram a respeitar procedimentos operacionais, impedindo a reação de bandidos. O equipamento salvou vidas de PMs. Os batalhões que o adotaram reduziram em 87% as mortes de suspeitos, quase o dobro de unidades sem câmeras. Reações a abordagens caíram 32%, flagrantes cresceram 41% e apreensões de armas aumentaram 12,9%.

Ontem foi lançado o manifesto Câmeras Sim, na Universidade Zumbi dos Palmares. Disse o reitor José Vicente: “Essa ferramenta permite ao cidadão ter garantidas a integridade e a segurança. É experiência virtuosa”. Segundo a coronel Daniela Poletti, a prova judicial fica melhor. “A tecnologia mostra a importância do serviço da PM.”

Então por que França e Tarcísio são contra o programa? A resposta é o voto policial. A corporação dispõe de pesquisa com seus homens que mostra que o equipamento, apesar das vantagens, é impopular na tropa, que ainda vê nele um invasivo controle do comando sobre seu trabalho. E os policiais e suas famílias somam mais de 500 mil votos, essenciais às ambições da bancada da bala. É o populismo na Segurança que está por trás da repulsa às câmeras. Ao ceder aos humores da tropa, esse jeito de se fazer política ameaça tornar a PM ingovernável. A banda podre da sociedade agradece.

Estadão