Prisão de ex-ministro desnorteia gueto ideológico de Bolsonaro

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Metrópoles

A manutenção do controle da narrativa é um dos principais motivos para os esforços do presidente Jair Bolsonaro (PL) e de seus aliados em convencer a militância conservadora a ignorar a mídia tradicional e se informar preferencialmente em grupos bolsonaristas nas redes sociais. Nesses ambientes controlados, quase não há críticas ou discórdia, e o clima é de celebração ao presidente. A prisão de um ex-ministro do governo, porém, furou essa bolha.

O noticiário quente do dia a dia, sobretudo se for negativo para o governo, dificilmente aparece em grupos de apoio a Bolsonaro em aplicativos como WhatsApp e Telegram ou na timeline de seus militantes em redes como Twitter e Instagram. No caso da operação contra o ex-ministro Milton Ribeiro e de pastores suspeitos de corrupção com verbas da educação pública, a notícia estourou logo pela manhã em todos os ambientes digitais, e, num primeiro momento, deixou a militância incrédula.

A postagem abaixo, por exemplo, foi feita às 9h30 de quarta-feira no Twitter, quando ainda não havia nenhum detalhe sobre a fundamentação das prisões, e repercutida por perfis de destaque entre os apoiadores do presidente.

A versão de que a operação da Polícia Federal seria “armação” com o objetivo de prejudicar a campanha de Bolsonaro foi uma das mais difundidas em redes monitoradas pela reportagem. Além de produtores de conteúdo gráfico, youtubers que militam por Bolsonaro também correram para seus estúdios para produzir material com esse foco.

Numa relativização dos fatos noticiados, o ex-ministro Milton Ribeiro não virou alvo dos bolsonaristas nem foi apontado como fator de instabilidade em sua campanha à reeleição, mas o mesmo não pode ser dito sobre o juiz federal Renato Borelli, que decretou a prisão de Ribeiro após pedido da Polícia Federal.

O fato de o magistrado já ter proferido decisões que afetaram o presidente Bolsonaro foi usado como argumento de que ele “sempre decide contra o governo”.

Em junho de 2020, auge da pandemia no Brasil, o magistrado concedeu uma liminar obrigando o chefe do Executivo Federal a usar máscaras em locais públicos de Brasília, sob pena de multa diária de R$ 2 mil.

No círculo do poder federal, a prisão de Ribeiro e eventuais desdobramentos do caso foram tratados com seriedade e preocupação. Logo cedo, o presidente da República concedeu entrevista à rádio Itatiaia e buscou se desvencilhar de qualquer responsabilidade. “Ele que responda pelos atos dele”, disse Bolsonaro, sobre o ex-ministro pelo qual já tinha prometido colocar “a cara toda no fogo”. “A gente não compactua com nada”, garantiu ainda Bolsonaro.

Em seguida, o presidente se reuniu, no Palácio do Planalto, com integrantes do governo e do comando de sua campanha à reeleição.

De acordo com o colunista Igor Gadelha, do Metrópoles, o encontro reuniu ministros como Ciro Nogueira (Casa Civil); os filhos do presidente Flávio e Eduardo Bolsonaro; e assessores, como o general Walter Braga Netto, nome (ainda) mais cotado para ser candidato a vice do presidente este ano.

O diagnóstico no Planalto, ainda segundo Gadelha, foi de que a prisão de um ex-integrante do primeiro escalão do governo pode enfraquecer o que eles consideram o “principal trunfo” de Bolsonaro no embate eleitoral com o ex-presidente Lula: a tese de que não existiriam escândalos de corrupção na atual gestão.

Até agora, o discurso de Bolsonaro e de seus ministros tem sido o de que a prisão de Milton Ribeiro pela Polícia Federal demonstra que o atual presidente da República não interfere na corporação e que o governo não tolera corrupção, o que seria diferente de governos anteriores.

No fim do dia, o entorno do presidente ajudou a espalhar para jornalistas uma tese de defesa para o ex-ministro da Educação: de que ele teria sido preso por uma movimentação em sua conta que poderia ser explicada pela venda de um carro de sua esposa para a filha de um dos pastores acusados de lobby criminoso.

Metrópoles