Volta das festas juninas no Nordeste atrai políticos
Foto: Sérgio Figueirêdo – 10.jun.22/Folhapress
Em ano eleitoral, as festas de São João no Nordeste são usadas por pré-candidatos como pontapé inicial da campanha na busca pelos votos. A prática incluirá desde o presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição, a postulantes a governador, senador e deputado.
O São João é uma das festas mais tradicionais da região e acontece no dia 24 de junho, mas é celebrado desde o início do mês nos estados da região. Os eventos acontecem com mais intensidade em cidades do interior.
Em 2022, as festas foram retomadas após dois anos de suspensão em razão da pandemia de Covid.
“Esses eventos que juntam uma grande quantidade de pessoas têm potencial de gerar uma grande vitrine, ainda que muitas vezes seja forçar a barra”, avalia a cientista política Priscila Lapa.
Apesar das festas juninas serem uma oportunidade de celebração popular, nem tudo são flores na política em meio aos festejos.
Em Caruaru (PE), que rivaliza com Campina Grande (PB) o título de Maior São João do Mundo, a postura do prefeito Rodrigo Pinheiro (PSDB) provocou desgaste com a sua antecessora, a ex-prefeita Raquel Lyra, pré-candidata tucana ao Governo de Pernambuco.
Desde o início de junho, quando começou a festa caruaruense, Pinheiro tem recebido políticos de diversas correntes ideológicas no camarote oficial, o que culminou em um mal-estar com Raquel.
Adversários da tucana, Marília Arraes (Solidariedade), Danilo Cabral (PSB) e Miguel Coelho (União Brasil) circularam ao lado de Rodrigo Pinheiro em dias diferentes. O prefeito diz que a festa deste ano é uma oportunidade para rever pessoas independentemente da bandeira partidária.
Outro que irá à festa é o presidente Bolsonaro, na noite desta quinta-feira (23). Nesse horário, uma das atrações será a banda Forró da Brucelose, ligada ao ex-ministro do Turismo Gilson Machado, pré-candidato ao Senado por Pernambuco pelo PL. O aliado de Bolsonaro, inclusive, deverá se apresentar no palco tocando sanfona.
Bolsonaro e Gilson apoiam Anderson Ferreira (PL) na disputa pelo governo. Ligado ao segmento evangélico, o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes foi ao São João de Caruaru no dia 10 e chegou a se ajoelhar no palco ao lado de um cantor gospel para fazer uma oração na frente da multidão espectadora.
Em maio, o edital da festa de Caruaru previa a censura de manifestações políticas e a possibilidade de corte do cachê de artistas que fizessem esse tipo de manifestação. Após a repercussão negativa, a gestão municipal disse que o texto foi “mal redigido” e negou possibilidade de censuras.
Após passar por Caruaru, o presidente Bolsonaro irá a Campina Grande um dia depois, na sexta. Ele será recebido pelo prefeito e aliado Bruno Cunha Lima (PSD), primo do pré-candidato a governador Pedro Cunha Lima, do PSDB.
Enquanto Bruno deve apoiar Bolsonaro na eleição de 2022, o primo Pedro tende a reforçar a aliança de Simone Tebet (MDB).
Com a ida a Caruaru e a Campina Grande, o chefe do Executivo federal tenta reduzir a rejeição do eleitorado nordestino, predominantemente refratário à sua reeleição, segundo pesquisas de intenção de voto.
Está previsto ainda um passeio de moto com a presença de Bolsonaro em Caruaru na véspera de São João. Não está descartado que o presidente circule no meio da plateia no Pátio do Forró, mas isso vai depender do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), conforme dizem aliados dele reservadamente.
A ida ao Nordeste acontecerá na mesma semana da prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que provocou desgaste ao governo.
Em busca da reeleição, o governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), circula por cidades do interior em festas juninas. Não está descartada uma ida dele à festa de Campina Grande, reduto político do seu adversário Pedro Cunha Lima.
Em Itaberaba, a 264 quilômetros de Salvador, o pré-candidato a governador ACM Neto (União Brasil) aproveitou a ida ao São João municipal para posar para vídeo ao lado do cantor Xand Avião.
O ex-prefeito de Salvador foi à cidade a convite do prefeito Ricardo Mascarenhas (PP). “Quando o prefeito me convidou e disse que era ele [Xand] a atração, eu disse ‘não posso perder de jeito nenhum’”, afirmou ACM Neto nas redes sociais.
O governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB), tem feito publicações periódicas nas redes sociais, afirmando que a festa no estado é “a maior do Brasil”.
“Eu tinha um sonho: fazermos o maior São João do Brasil. Agora, como governador, virou realidade. Basta dar uma conferida nos arraiais”, disse o sucessor de Flávio Dino, que tenta ampliar a popularidade no estado.
Além dos políticos, o eleitor costuma manifestar suas preferências na festa popular. Na abertura do São João de Campina Grande, enquanto o prefeito discursava, integrantes da plateia exibiram toalhas alusivas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em contraponto ao gestor pró-Bolsonaro.
Não apenas pré-candidatos aos governos vão à festa que tem o forró como principal ritmo. Os postulantes à Câmara dos Deputados e às Assembleias aproveitam para reforçar o corpo a corpo com eleitores.
Parte dos parlamentares têm nos municípios os alicerces para suas campanhas políticas. Nas noites juninas, esses deputados circulam pelas cidades, que recebem apresentações de diversas bandas nas áreas urbanas e rurais.
“Sempre gosto de ir às cidades, seja época de campanha ou não. Estou saindo nesta quinta [para o São João] e só volto para Natal dia 28. Vou passar por todas as regiões do estado”, diz Rafael Motta (PSB), pré-candidato ao Senado no Rio Grande do Norte, que estima ir a até 20 cidades.
Na semana do São João, é comum que o Congresso Nacional não tenha agenda extensa. Isso porque muitos deputados e senadores nordestinos aproveitam para ir aos redutos políticos, freando a pauta legislativa. No Senado, um terço dos parlamentares é do Nordeste.
A cientista política Priscila Lapa observa que a relação dos deputados e senadores com os municípios torna os périplos de São João mais espontâneos para eles.
“Essa relação acaba sendo menos forçada. De fato, eles mantêm costumeiramente uma agenda com os prefeitos e, muitas vezes, os deputados e senadores são autores de emendas para a realização desses eventos”, afirma.