Apoio e rejeição a cotas ‘raciais’ têm empate técnico
Foto: Fabiano Rocha/ Agência O GLOBO
Ações afirmativas ganharam espaço e apoio no debate público com a popularização de cotas raciais e sociais. Especificamente em relação às raciais, o apoio à medida aparece estável nos últimos quatro anos, em uma faixa próxima ou maior aos 40% dos entrevistados, mostram novos números da pesquisa “A cara da democracia”. Por outro lado, a parcela contrária aumenta, ultrapassando a dos favoráveis. Ainda assim, especialistas ressaltam que os resultados devem ser analisados dentro de um contexto mais amplo para evitar a conclusão de que exista um ambiente geral menos favorável sobre esse assunto.
Em 2021 e 2022, o apoio à adoção de cotas raciais se manteve em 43%, segundo a pesquisa. Considerados os limites de margem de erro, os números seguem em linha com os resultados de 2019 (39%) e 2018 (42%). Em 2020, em função da pandemia de Covid-19, a pesquisa foi realizada utilizando métodos não comparáveis.
Já a rejeição às cotas raciais ficou mais pronunciada desde 2019. Se, em 2018, a fatia contrária era de 37%, esse número aumentou para 47% no ano seguinte. Em 2021, manteve o mesmo patamar, e, em 2022, oscilou para 46%. A fatia de quem respondeu “depende” recuou ligeiramente a cada ano.
De acordo com recortes feitos com base nos resultados da pesquisa de 2022, alguns segmentos da população dão indícios de maiores linhas de apoio e de rejeição. Por exemplo, quanto maior a escolaridade, mais aumenta a tendência de os entrevistados serem favoráveis às cotas raciais. Entre as pessoas com ensino superior completo ou incompleto, 56% respaldam a adoção da medida, frente a 40% contrários.
De modo geral, mulheres também se mostram mais favoráveis às cotas: 45% delas apoiam (42% são contra). Enquanto isso, 40% dos homens são a favor das cotas, e 50%, contra. Dentre todos os segmentos aos quais o Pulso teve acesso na pesquisa, a fatia mais receptiva às cotas raciais é de jovens de 18 a 24 anos. Dentre eles, 56% são a favor, e somente 33% foram contrários.
Se, por um lado, os números podem sugerir que há tendência de maior reprovação à adoção de cotas raciais, por outro especialistas nesse debate alertam que a metodologia de cada sondagem pode ocultar percepções mais favoráveis sobre as políticas afirmativas.
Segundo o pesquisador especializado em questões raciais e políticas Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia e Ciência Política no Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj), diferentes fatores podem determinar o resultado de uma pesquisa do tipo. Por exemplo, em pesquisas mais específicas sobre o assunto, o tema pode ser introduzido com mais detalhes antes da cada quest”ao, perguntando se o entrevistado conhece o assunto.
— Por exemplo, a abordagem com a expressão “cota” pode gerar mais repulsa, enquanto o uso da expressão “ações afirmativas” tende a gerar resultados mais positivos — explica Campos, que já participou de comissões que debatem os limites que pesquisas têm em conseguir capturar o panorama deste tema contencioso. — Outras pesquisas, com diferentes abordagens, já mostraram maior apoio.
A pesquisa “A cara da democracia” foi feita pelo Instituto da Democracia (INCT/IDDC), com 2.538 entrevistas presenciais em 201 cidades, em todas as regiões do país. A margem de erro total é de 1,9 ponto percentual, e o índice de confiança é de 95%. INCT/IDDC, com as universidades UFMG, Unicamp, UnB e Uerj/CNPq/Fapemig. A edição de 2022 está registrada no TSE sob o número BR-08051/2022.