
Bolsonaro quase afogou Biden em mentiras
Foto: Alan Santos / Presidência da República
Quando se reuniu com Joe Biden em junho nos EUA, Jair Bolsonaro expôs ao americano um retrato do Brasil que não condiz com a realidade — em algumas partes, nem mesmo com o seu próprio discurso.
Falou sobre um “alto grau de preservação da Amazônia”, disse estar apto a enfrentar “desafios globais” como a insegurança alimentar e manifestou “confiança de que o processo eleitoral ocorra de modo aberto e transparente”. Mas, em termos práticos, não foram assumidos compromissos entre os dois países.
Ao menos é o que consta no relato oficial feito pelo chanceler Carlos França em resposta a um requerimento de informação apresentado por Gleisi Hoffmann (PT) acerca da reunião bilateral entre os mandatários, que durou cerca de 50 minutos.
Esta semana, no entanto, a fala golpista de Bolsonaro sobre as eleições desacreditava o sistema de votação — o que ele já havia repetido em outras ocasiões. A versão de Carlos França também silencia sobre um apelo do presidente brasileiro pela ajuda de Biden para derrotar Lula, conforme publicou a Bloomberg na época.
Bolsonaro teria dito a Biden que o Brasil dispõe de uma das legislações ambientais mais avançadas do mundo e citou ações do governo para preservar a região amazônica. Enquanto participava da Cúpula das Américas, o Inpe mostrou que a floresta tropical registou o maior desmatamento desde o início da série histórica em 2016.
O presidente brasileiro também ignorou que mais de 61 milhões de pessoas vivem insegurança alimentar no Brasil, segundo relatório recente da ONU.
No encontro reservado, Bolsonaro ainda manifestou interesse em aprofundar as relações bilaterais, “dadas as afinidades e interesses comuns”, e mencionou que ambos compartilham valores da liberdade e da democracia. Pleiteou inclusive maior integração econômico-comercial com os EUA, especificamente em relação às importações do aço brasileiro. E se disse disposto a trabalhar em coordenação com os americanos pela paz no conflito entre Rússia e Ucrânia.
Nas palavras de França, Biden insistiu no potencial de parceria na região afetada pela guerra e na África. O americano também expressou “sua certeza de que as nações podem promover um hemisfério mais próspero e democrático”.
Na comitiva brasileira, além de Bolsonaro e França, participaram da reunião Arthur Lira, os ministros Marcelo Queiroga, Anderson Torres e Joaquim Leite, o embaixador Nelosn Forster Jr. e o ministro-conselheiro da embaixada em Washington, Marcos Sperandio.