Candidatos se reúnem com gênios e Bolsonaro fica no cercadinho

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Foto: Jardel Rodrigues/SBPC.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participa hoje, às 11h, de um encontro em Brasília com cientistas de todo o país para ouvir propostas e apresentar ideias sobre o ensino e a pesquisa no Brasil.

O encontro faz parte da Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), entidade que reúne as 170 principais sociedades científicas e acadêmicas brasileiras. O evento continua até sábado na UnB (Universidade de Brasília).

Amanhã será a vez de o candidato Ciro Gomes (PDT) participar e ouvir as mentes brilhantes brasileiras. O presidente Jair Bolsonaro (PL) também foi chamado, mas não respondeu ao convite, segundo a SBPC. Os demais candidatos à Presidência não foram chamados.

Para nortear os candidatos, cerca de cem cientistas de todas as áreas de conhecimento elaboraram um documento chamado “Projeto para um Brasil Novo”, que reúne propostas colhidas entre março e junho em 13 seminários de áreas temáticas.

Diante dos cortes de verbas em universidades e recursos para financiar a ciência, os pesquisadores classificaram a situação atual como um “colapso”.

Os participantes apontaram a necessidade de aumento do orçamento público para CT&I diante das tesouradas orçamentárias cada vez mais profundas, que têm levado o setor ao colapso, como também alternativas de financiamento.”Trecho de documento da SBPC

Entre os pontos analisados, estão a defesa da liberdade intelectual, artística, científica e comunicação; democracia e urnas eletrônicas; cobrança de ações em defesa e pela soberania da Amazônia e pedido de recomposição dos recursos orçamentários para as áreas de educação, ciência e tecnologia.

“Conforme ressaltaram os debatedores, não há como pensar um Brasil melhor sem investimento em educação em todos os níveis, do ensino básico ao superior e ao doutorado. Para isso, é urgente que tenhamos uma política pública de Estado, não de governo”, afirma a SBPC na apresentação do plano.

A ideia é, após o encontro, colher a assinatura dos candidatos, sem comprometimento com as pautas.

As propostas foram divididas em 12 temas:

Ciência, tecnologia e inovação

Educação básica

Educação superior

Pós-graduação

Saúde

Meio ambiente

Direitos humanos

Segurança pública

Diversidade de gênero e raça

Mudanças climáticas

Cultura

Questão indígena

Para a SBPC, a ausência de Bolsonaro foi sentida. “Ficamos um tanto decepcionados porque nem sequer houve uma resposta. Nós gostaríamos muito que o presidente, ou um representante seu, tivesse aceitado o convite para dialogar sobre as propostas. A SBPC tem posições políticas, mas não tem posições partidárias. Não apoiamos nenhum candidato”, diz Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC e que vai ser o mediador dos encontros com os candidatos.

Para ele, será um momento para que os principais postulantes à Presidência tenham contato com os representantes de várias áreas do conhecimento que estão reunidos desde domingo na UnB (Universidade de Brasília). “O Brasil é protagonista na ciência, como tem de ser, mas ela não pode ficar em segundo plano.”

A coluna tem acompanhado os debates e palestras da reunião da SBPC, em que têm sido cobrados mais investimentos e políticas estruturais na ciência e na educação superior nacional.

O presidente da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), Marcos Vinícius Davi, que é reitor da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora), afirma que isso é urgente porque o sistema federal de ensino superior enfrenta a “crise mais grave da nossa história”.

“A gente com isso reduz, por exemplo, as bolsas de pesquisa e comprometemos as políticas de manutenção de alunos que entraram por políticas sociais. Eu não consigo mais mantê-los na universidade”, diz.

Na segunda-feira, o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Paulo Alvim, esteve na reunião e disse que tem se esforçado no ministério para recompor os recursos federais na área, como tentando fazer a contração de pesquisadores, mas tem encontrado resistência por parte do setor econômico. “Há quatro anos peço concurso, e todo ano é um não”, disse.

Segundo o secretário-executivo da ICTP.br (Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento) —entidade que atua junto a parlamentares no Congresso, Assembleias e Câmaras de Vereadores em prol do desenvolvimento científico e tecnológico do país—, Fábio Guedes, o governo tem “asfixiado” a ciência brasileira com cortes de verbas em universidades e esvaziamento de fundos constitucionais da ciência nacional.

“O Brasil apresentou a capacidade de transformar riqueza em conhecimento. Temos 6.900 cursos de graduação. Agora que precisamos transformar conhecimento em riqueza, estamos dando ré, sufocando essa estrutura brasileira”, afirma.

Ele explica que os cortes sistemáticos afetaram áreas cruciais para o país, como o desenvolvimento de vacinas com tecnologia nacional.

“Com isso vamos comprar na prateleira internacional. A visão que o governo tem hoje é que não precisamos ter autonomia no desenvolvimento científico e tecnológico”, afirma.

O que nos espera no futuro, nessa competição nas nações, é que, se não dominarmos tecnologias, vamos aumentar a dependência e retroagir na nossa condição de subdesenvolvimento. É um projeto consciente de manter o país no atraso.”Fábio Guedes, do ICTP.br

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