Eleição em SP terá recorde de candidatos da PM
Foto: Rubens Cavallari/Folhapress
A corrida eleitoral deste ano em São Paulo terá o número recorde de 80 policiais militares da ativa, entre praças e oficiais, que tentarão vaga na Assembleia Legislativa paulista ou na Câmara dos Deputados.
Esses PMs representam mais da metade dos ao menos 135 integrantes das forças de segurança que disputarão o pleito em 2022.
Em 2018, quando o país passava por uma guinada conservadora e que levou, por exemplo, o major Olímpio Gomes (na época, pelo PSL) ao Senado com 9 milhões de votos, foram 73 praças e oficiais que pediram afastamento da corporação para concorrerem.
Dez anos atrás, em 2002, foram 34, contra 49 em 2006, 33 em 2010 e 40 em 2014, segundo dados da PM paulista.
A simpatia das forças policiais é disputada pelos candidatos ao governo paulista, uma vez que, além dos mais de 100 mil policiais, há familiares, conhecidos e diversos setores da população influenciados pela categoria.
No caso de candidatos policiais, então, há ainda a vantagem de que necessariamente farão campanha colada a algum candidato ao governo do estado.
Em São Paulo, há aversão desse grupo pelo PSDB, apontado como culpado pelos salários considerados insatisfatórios. Por outro lado, existe simpatia à figura de Jair Bolsonaro (PL) e também a Tarcísio de Freitas (Republicanos), pré-candidato do presidente ao governo paulista.
Inclusive, há relatos de policiais fazendo campanha para o candidato ao Governo de SP de Bolsonaro até dentro dos quartéis.
Visando esse grupo, Tarcísio tem prometido reavaliar o uso das câmeras dos uniformes dos policiais que, segundo ele, não podem ser visto como suspeitos.
Já a administra estadual e Rodrigo Garcia (PSDB) têm feito diversos acenos a este grupo, que vão do aumento de salário a compra de equipamentos.
A disputa neste pleito ganha ares de uma disputa particular porque, diante de um cenário menos favorável do que quatro anos atrás, os novos candidatos precisarão disputar votos entre si e, também, com outros policiais eleitos, com equipes de campanha já estruturadas há tempos.
Entre os neófitos está o capitão Rafael Telhada que tem no currículo ser filho do deputado estadual Coronel Telhada. O pai, ex-comandante da Rota (tropa de elite da PM), deve concorrer à Câmara de Deputados e, Telhadinha, como é conhecido, à Assembleia. Ambos são filiados ao Progressistas.
“Agora é hora de saber se realmente se as pessoas reconhecem o trabalho da gente, ou não. […] Espero que as pessoas transfiram esse carinho, esse apoio ao meu trabalho para a pessoa do meu filho também”, disse o deputado.
Ele afirma esperar por uma eleição mais difícil por conta do grande número de candidatos e, também, pelos ataques dos concorrentes.
“É aquela situação. Cada um corre atrás do seu prejuízo. Porque muita gente não tem história e, em vez de apresentar uma proposta, apresentar o que fez, fica apontando o dedo para os outros e criticando. Acho que isso não tem resultado, porque as pessoas estão de saco cheio disso”, afirmou ele.
De acordo com levantamento feito pela Folha no “Diário Oficial” do Estado, ao menos 16 mulheres policiais vão concorrer a uma vaga no parlamento –ou cerca de 20% do contingente de candidatos da ativa. Entre elas está Fátima Aparecida dos Santos de Souza, conhecida como Pérola Negra.
Mulher negra e mãe de cinco filhos, ela concorreu em 2018 ao governo paulista como vice do major Costa e Silva (Democracia Cristã).
Outro candidato pela PM é o tenente Flávio Gonçalves da Costa, o tenente Bahia. Em 2019, o oficial viveu uma tragédia particular ao perder a mulher, a enfermeira Jéssica Victor Guedes, no dia do casamento.
Ela estava grávida de seis meses, passou mal na porta da igreja, e foi submetida a um parto de emergência. A criança (Sophia) foi salva, mas a mãe morreu após o procedimento.
O policial se tornou, depois disso, militante na defesa dos direitos da mulher, das mães e de crianças, em especial as prematuras.
“Sou militar, mas eu não sou da política da bala. Na verdade, eu trago coisas de cunho social. Projetos que efetivamente vão valer a pena na vida de uma pessoa”, disse o oficial, que se diz bolsonarista, que tem atualmente mais 500 mil seguidores só no Instagram.
Para Rafael Alcadipani, professor da área de segurança da FGV (Fundação Getulio Vargas), as candidaturas têm impacto negativo para a corporação.
“Eu considero que nenhuma polícia do mundo tem tantos candidatos. A lei no Brasil é muito fraca e favorece a politização partidária das polícias. Hoje, o policial sai para ser candidato e pode voltar à instituição gerando grande politização das fileiras”, diz ele, que defende a aprovação de uma lei de quarentena para que o policial pudesse ser candidato.
Alcadipani disse, ainda, que “as instituições, que deveriam ser de Estado, estão sendo instrumentalizadas pela política partidária.”
A Polícia Civil terá, segundo dados da Secretaria da Segurança, 24 policiais na disputa ao parlamento estadual e federal.
Um dos destaques é o delegado Carlos Alberto da Cunha, conhecido como delegado Da Cunha, um fenômeno nas redes sociais com mais de 3,7 milhões de inscritos, só no Youtube.
Ele ganhou fama com a divulgação nas redes sociais de operações policiais. Depois de manifestar intenção de candidatar-se ao governo de SP, tentará uma vaga como deputado federal.
Entre os delegados também há uma disputa particular entre representantes de classe. O delegado Gustavo Galvão Bueno, presidente da Associação dos Delegados, disputa uma vaga como deputado estadual, assim como a presidente do Sindicato dos Delegados, Raquel Gallinati.
As eleições deste ano terão, ainda, oito policiais penais –nova denominação para os agentes penitenciários. Esse é um candidato a menos do que em 2018. Um dos concorrentes é o sindicalista conhecido como Fábio Jabá (PSB), um dos raros agentes ligados à esquerda.
Jabá diz que, embora não negue o perfil ideológico diferente do resto da própria categoria, sua ideia como pré-candidato é focar nas questões relativas aos agentes, que não são representados pelos policiais hoje eleitos. Ele acredita que os colegas irão reconhecer o trabalho dele como sindicalista.
“A grande maioria é de direita, mas nossa categoria viu que o sindicato funcionou.”
De acordo com a Prefeitura de São Paulo, até a última sexta-feira (8), três guardas municipais haviam solicitado afastamento para concorrer às eleições. Em 2018, foram 12 e, em 2014, foram 8.