Intolerância elimina conversas políticas no país
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Craque na arte da conversa, o deputado Ulysses Guimarães, um dos artífices da redemocratização, definia amigo como pessoa com quem se conversa sem olhar no relógio. É paradoxal, mas três décadas depois ficou difícil conversar no Brasil governado por Jair Bolsonaro. Principalmente sobre política.
Na semana em que um militante bolsonarista matou um adversário lulista, o Instituto Locomotiva concluiu uma sondagem sobre a intolerância política entre os brasileiros. Montou um questionário sobre a aversão à diferença em relações pessoais e a aceitação de protagonistas da política nacional, e entrevistou 1.960 eleitores em 120 cidades, em todo o país. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.
O resultado apurado indica que, em geral, sete em cada dez pessoas com opiniões políticas diferentes não conseguem manter uma conversa construtiva, solta, fluida, prazeirosa, sobre política. Isso ocorre, principalmente, entre mulheres.
A maioria diz não possuir “identificação forte” com partidos e candidatos, mas 38% revelam receio — e numa conversa política costumam evitar expor suas opiniões. Isso ocorre com mais frequência entre (34%) eleitores com ensino fundamental.
Segundo o instituto, entre aqueles que se identificam como “de direita” ou “de esquerda” a dose de intolerância chega a ser duas vezes maior do que entre pessoas que se consideram “de centro”. Aparentemente, para os brasileiros ficou difícil falar da realidade.