
Lula pode escolher primeira chanceler do país
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As embaixadoras Maria Luiza Viotti e Maria Laura da Rocha são cotadas para assumir o Itamaraty em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro. Outro nome bem visto no PT, mas com um pouco menos de força, é o da também diplomata Irene Gala.
Viotti hoje atua como chefe de gabinete do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e tem um estilo que se encaixa no desejo do petista para sua política externa: foco no multilateralismo. Ela já foi embaixadora do Brasil na ONU e na Alemanha.
Atualmente em Bucareste (Romênia), um posto de baixa visibilidade no Itamaraty, Rocha comandou as representações brasileiras junto à Unesco (Paris) e à FAO (Roma) – dois dos principais organismos do chamado Sistema ONU. Gala, ex-embaixadora em Gana, exerce a subchefia do escritório do Itamaraty em São Paulo e é tida como uma das maiores conhecedoras de África em todo o serviço diplomático.
Se o presidente Jair Bolsonaro for reeleito, o chanceler Carlos França desponta como candidato óbvio a continuar no cargo. Ele foi responsável pela “normalização” do Itamaraty após a turbulenta gestão de Ernesto Araújo.
França, no entanto, pode enfrentar a concorrência do almirante Flávio Rocha. Atual chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e com livre acesso ao gabinete presidencial, Rocha tem trânsito com a comunidade diplomática em Brasília e acompanha Bolsonaro na maioria de suas viagens ao exterior. Na hipótese de migrar para o Itamaraty, França poderia ser deslocado para a Embaixada do Brasil em Londres, posto que ele desejava assumir antes de ser nomeado ministro.
Lula tem dito a pessoas próximas que gostaria de elevar a participação feminina na Esplanada dos Ministérios caso volte ao Palácio do Planalto. No Itamaraty, as diplomatas vêm reivindicando mais espaço. Na última lista semestral de promoções, divulgada em junho, pela primeira vez um terço das progressões de carreira – em todos os níveis hierárquicos – foi reservado às mulheres. No entanto, até o ano passado, todas as 25 maiores embaixadas do país no exterior eram chefiadas por homens. Nunca houve uma chanceler ou secretária-geral (número dois do ministério).
A embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo, atual cônsul-geral do Brasil em Nova York, é frequentemente citada como uma das diplomatas mais capacitadas e experientes para comandar o Itamaraty. No PT, porém, o nome dela foi inviabilizado depois do episódio em que ela teve uma ríspida discussão com o ex-deputado Jean Wyllys e defendeu o presidente Jair Bolsonaro em evento nas Nações Unidas em Genebra.
Farani é casada com Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), que deixou o cargo em 2020 e tornou-se vice-presidente de assuntos corporativos da multinacional americana PepsiCo.
Tido como um dos brasileiros que mais entendem de negociações comerciais, ele também foi especulado como ministeriável em um eventual novo governo Lula, mas enfrenta resistência em diversas correntes dentro do PT.
Chanceler nos oito anos de mandato (2003-2010) de Lula, Celso Amorim continua bastante próximo do petista e hoje é seu principal conselheiro para temas de política externa. Foi ele quem o acompanhou no giro pela Europa em novembro do ano passado, que incluiu recepção com honrarias no Palácio do Eliseu por Emmanuel Macron, e em seu recente encontro com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.
A interlocutores próximos, Amorim tem evitado dizer se e qual cargo ocuparia em um novo mandato de Lula. No PT, a aposta é que ele poderia atuar como um assessor internacional, com gabinete no Palácio do Planalto. Em Brasília ou não, o ex-ministro será muito ouvido na tomada de decisões.
A comparação inevitável é com o papel desempenhado por Marco Aurélio Garcia (morto em 2017), um dos fundadores do partido, que tinha a confiança absoluta de Lula. Um dos auxiliares de Garcia na assessoria internacional, o diplomata Audo Faleiro continua colaborando com o ex-presidente em caráter informal.