PDT ameaça membros simpáticos a Lula

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Foto: Leonardo Nogueira / Agência O Globo

Na convenção que oficializou a candidatura de Ciro Gomes à Presidência, foi homologada pelos 280 delegados da sigla uma resolução que tenta blindar o presidenciável do PDT e evitar palanques nos estados para adversários. Um dos artigos do documento condena a realização de “propaganda a favor de candidatos que não sejam os indicados pelas convenções nacional e estaduais” da sigla — uma espécie de “cláusula anti-Lula” para “intimidar os traidores e atrevidos”, já que o pré-candidato do PT ao Planalto já foi cortejado por postulantes a governador do PDT. Porém, segundo dirigentes do partido ouvidos pelo GLOBO, a resolução é mais uma ameaça do que algo que será cumprido à risca.

O documento condena também a prática de “ato ostensivamente desfavorável a qualquer candidato do próprio partido” e a desobediência à “deliberação emanada das convenções nacional e estaduais”. Outro ponto que, segundo a resolução, não será tolerado, é “desrespeitar ou omitir as chapas majoritárias do partido e seus respectivos números nas cédulas eleitorais” durante a campanha.

Quem não seguir tais orientações, consideradas “fatos de extrema gravidade”, estará sujeito a “cancelamento de registro de candidatura e podendo chegar à pena de expulsão”. O texto já existia em resoluções do partido em eleições passadas e, segundo o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, “é uma reedição do que já fazemos há mais de 20 anos”. Para ele, o movimento é natural e de fortalecimento das candidaturas do partido.

Ainda segundo Lupi, uma comissão de ética está sendo montada para vigiar e evitar eventuais descumprimentos da norma.

— Vamos montar uma comissão de ética que vai monitorar. Com as campanhas nas redes sociais, é ainda mais simples fazer isso. Mesmo sem comissão, já recebemos denúncias, então vamos cumprir o que está na resolução — afirmou.

A ideia, segundo dirigentes do PDT, é que a cláusula sirva para constranger, para que movimentos do tipo não fiquem tão explícitos. Nomes importantes do partido nos estados, como o senador Weverton Rocha (MA) e o ex-prefeito de Niterói (RJ) Rodrigo Neves, que disputam o Executivo estadual, fizeram acenos diretos ao petista nos meses que antecederam a convenção.

Porém, há um entendimento de que a situação de cada estado é uma e que os candidatos regionais têm liberdade de trabalhar com as alianças que forem capazes de elegê-los. Nesse sentido, há um aval interno no partido para que Weverton e Neves se aliem com dissidências do PT que não apoiem o candidato oficial de Lula — Carlos Brandão (PSB), no caso do Maranhão, e Marcelo Freixo (PSB), no Rio.

No caso do senador, apesar de ter Ciro oficialmente em seu palanque, ele já fez diversas publicações em suas redes sociais neste ano com referência explícita à Lula.

Em janeiro, além de posar para foto cumprimentando o ex-presidente, publicou vídeo em tom de campanha com o petista em seu perfil no Twitter. “Estou com Lula e sempre estive”, escreveu. Já em abril, fez outra série de publicações quando compareceu ao “Encontro Estadual de Petistas” no Maranhão, evento que trazia mais uma vez a foto de seu cumprimento com o petista.

 

Nesta quarta-feira, ele participou rapidamente da convenção, voltando para o Maranhão antes do discurso de Ciro, e sequer foi mencionado nas falas do presidenciável nem dos demais presentes no evento. Ao lado de Lupi, Weverton gravou vídeo publicado em seu perfil no Instagram, em que convoca seus apoiadores à convenção estadual do PDT. Mas apesar de carregar a imagem de Ciro em seu crachá, o presidenciável não foi mencionado.

A vereadora de Belo Horizonte Duda Salabert, que chegou a ser cotada para concorrer ao Senado de Minas pelo partido, também já fez gestos em direção ao ex-presidente Lula. Ela não compareceu à cerimônia.

Já Rodrigo Neves, diferentemente de Weverton, vinha aparecendo ao lado de Ciro com mais frequência em agendas no Rio. Mas sua presença em um evento no início deste mês de apoio à sua candidatura e a de Lula — que teve críticas a Ciro Gomes — causou desgastes especialmente no diretório municipal do partido na capital carioca.

 

Em reunião com a participação de Lupi, Neves foi cobrado e se desculpou, disse que não esperava que a agenda com petistas tomasse proporções tão grandes e houve a projeção de intensificar suas aparições com Ciro. Nas redes, no entanto, o ex-prefeito de Niterói já havia feito outros acenos ao petista. Em janeiro, por exemplo, publicou memória de 1998, quando participou da campanha de Lula e Leonel Brizola à Presidência. Na legenda, pregou a “unidade das forças progressistas, respeitadas as diferenças partidárias”.

Para Lupi, porém, o assunto “foi superado” e Rodrigo seguirá dando palanque a Ciro Gomes. Anteontem, na convenção nacional, o ex-prefeito discursou e fez elogios ao presidenciável do PDT, que também estará presente na convenção estadual da sigla no Rio.

O Globo