Políticos emporcalham patrimônio público com apologia a si mesmos
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Eles estão espalhados pelas cidades do país e batizam prédios públicos, praças, ruas, aeroportos e até passarelas. São os nomes de políticos, suas famílias e seus parentes, contribuindo para fortalecer redutos eleitorais e homenagear aliados em inaugurações durante períodos que antecedem eleições. Nem sempre agradam aos moradores e são alvo de críticas de adversários.
Em protesto recente, alunos, professores, lideranças católicas e pais criticaram a mudança do nome da escola municipal Zilda Arns, em Duque de Caxias, para Olinda Bolsonaro, mãe do presidente Jair Bolsonaro, em pleno ano eleitoral. O município fica na Baixada Fluminense, região em que a prática do batismo político é antiga e recorrente. Em 2011, o Ministério Público determinou que a prefeitura de Magé retirasse de escolas os nomes de membros da família Cozzolino — o atual prefeito é Renato Cozzolino. Das 92 unidades, 22 ganharam nomes da família, reforçando a imagem da cidade de “Cozzolândia”.
A homenagem a Olinda não é a única à família Bolsonaro em Caxias. A cidade já contava com outra unidade com o nome do pai do presidente, o colégio estadual militar Percy Geraldo Bolsonaro. Segundo o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação, a escola Zilda Arns estava fechada por problemas estruturais. Os alunos foram transferidos até a prefeitura terminar a construção do novo prédio. Ao concluir o serviço, a placa com o nome antigo foi substituída por uma com o nome da mãe do presidente, que morreu em janeiro. Após o protesto, a prefeitura divulgou que o prédio antigo será reformado.
O nome do colégio militar foi proposto pelo deputado Rosenverg Reis (MDB), irmão do ex-prefeito Washington Reis (MDB), que deixou o cargo para ser vice na chapa à reeleição do governador Cláudio Castro (PL). Já o vereador Júnior Reis (MDB), também irmão de Washington, apresentou o projeto para homenagear Olinda. A família Reis e Castro são bolsonaristas.
Para a socióloga Mônica Rodrigues, pesquisadora da Uerj e professora da pós-graduação da Escola do Legislativo do Estado, o uso de nomes de políticos virou moeda de troca, principalmente em ano eleitoral, aumentando o prestígio do autor da proposta. Para ela, o certo seria que a escolha fosse atrelada à biografia da pessoa:
— Em hospital, homenagear alguém relevante da saúde; numa escola, um educador, mas não é isso que acontece — explica. — Quando as nomeações de espaços públicos despertarem polêmica, o ideal seria deixar a decisão à comunidade, através de uma consulta pública. Foi o que a prefeitura de Niterói fez no caso do ator Paulo Gustavo, que não era político, mas gerou um embate entre forças políticas da cidade sobre dar o seu nome à Rua Coronel Moreira César.
Não faltam exemplos de homenagens a políticos. No Maranhão, há escolas com nomes de José Sarney, ex-presidente, em São José de Ribamar; Marly Sarney, ex-primeira-dama, em Imperatriz; e José Sarney Filho, ex-ministro, em Coelho Neto. Em Alagoas, há escolas em São Sebastião e Arapiraca com o nome do senador Fernando Collor, enquanto cidades de Bahia e Tocantins homenageiam o ex-presidente Lula. Sua ex-mulher, Marisa Letícia, que morreu em 2017, batiza uma escola em Maricá (RJ), enquanto a mãe de Lula, Dona Lindu, está na fachada de um hospital público em Paraíba do Sul (RJ). Em Macapá, o Aeroporto Internacional foi batizado de Alberto Alcolumbre, tio do senador Davi Alcolumbre (União).
Além de nomes, símbolos e cores de políticos também viram referência em prédios públicos. Recentemente, o TSE tornou inelegível o deputado estadual de Sergipe Talyson Barbosa Costa. O pai dele, Valmir de Francisquinho, então prefeito de Itabaiana (SE), mobilizou a máquina pública em 2018 ao pintar de azul prédios públicos, pontes e praças, além de comprar uniformes na mesma cor. Talyson usa como marca de campanha a “Onda Azul”.