Situação de Trump piora e ele pode ser preso
Foto: Saul Loeb/AFP
No que foi considerada a “season finale“, ou último episódio de temporada, na apimentada série de audiências que, no horário nobre nos Estados Unidos, investiga a invasão do Capitólio americano em 2020, a Câmara deixou claro: o ex-presidente Donald Trump ficou inerte por três horas enquanto seus apoiadores violentamente interromperam a confirmação de Joe Biden como o novo presidente do país.
A oitava audiência até agora, na noite de quinta-feira 21, focou nos “187 minutos” que correram entre o momento em que Trump instou uma multidão a marchar para o Capitólio, até quando ele finalmente pediu à horda para “ir para casa”.
A audiência foi recheada de vídeos, fotos e áudios nunca antes vistos que reproduziram os horrores de 6 de janeiro e – surpreendentemente, 18 meses depois – jogaram luz sobre o que aconteceu naquele dia. Nesse sentido, o painel cumpriu sua promessa de trazer novo material.
Segundo o comitê investigativo da Câmara, ele não apenas falhou em agir, mas optou conscientemente por não agir. Testemunhas disseram que Trump não fez um único telefonema para autoridades de segurança durante o ataque ao Capitólio, nem para funcionários do então vice-presidente Mike Pence ou do governo em Washington D.C.
O argumento é que a recusa de Trump em intervir no incidente equivaleu a um abandono de seu dever presidencial.
Keith Kellogg, conselheiro de segurança nacional de Pence que também estava com Trump naquele dia, testemunhou que nunca ouviu o ex-presidente pedir a Guarda Nacional ou uma resposta da lei. A então secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, disse que “o presidente não queria incluir qualquer tipo de menção de paz” em um tuíte-comunicado que a equipe estava escrevendo.
Em um discurso gravado em vídeo de Trump, em 7 de janeiro, ele também tentou diluir a retórica preparada pelos seus assessores: “Não quero dizer que a eleição acabou, OK?”
Além disso, o comitê deixou mais claro do que nunca o tamanho do perigo enfrentado por Pence e sua equipe, quando os apoiadores de Trump pediram o enforcamento do vice-presidente quando ele se recusou a colaborar com os esforços de Trump para tentar derrubar a eleição de 2020.
Uma testemunha do comitê disse que Pence estava tão preocupado com o que estava acontecendo que eles “começaram a temer por suas próprias vidas” e que houve até telefonemas “para dizer adeus aos membros da família”. A testemunha era um profissional de segurança nacional não identificado que trabalhava na Casa Branca em 6 de janeiro, cuja identidade foi protegida.
O comitê enfatizou que, enquanto Trump permaneceu inerte, Pence – com a vida ameaçada – ficou pendurado no telefone fazendo contato com autoridades de segurança e com o então secretário de Defesa Chris Miller. As audiências pintaram o ex-vice como uma das principais autoridades que enfrentaram Trump depois que ele perdeu a eleição de 2020.
O comitê deu várias cotoveladas nos republicanos do Congresso durante a audiência de quinta-feira, enfrentando o líder da minoria na Câmara, Kevin McCarthy, e outros aliados de Trump. Em gravação de vídeo feita logo após a invasão, McCarthy dizia que “estava pensando em aconselhar [Trump] a renunciar”; em outra, o genro de Trump, Jared Kushner, dizia que McCarthy “estava com medo”.
O senador Josh Hawley, republicano do Missouri que liderou a objeção na confirmação do presidente Joe Biden, foi gravado fugindo assustado de manifestantes dentro do Capitólio – e mesmo assim votou contra a certificação dos resultados eleitorais.
O comitê já havia perseguido republicanos do Congresso por seu papel em ajudar Trump a invalidar a eleição, inclusive buscando indultos após 6 de janeiro.
A audiência de quinta-feira ocorreu após uma semana turbulenta para o Serviço Secreto dos Estados Unidos. O inspetor geral do Departamento de Segurança Interna que supervisiona a agência acusou o Serviço Secreto de excluir mensagens de texto de 5 e 6 de janeiro de 2021, críticas para várias investigações sobre o ataque ao Capitólio.
Essa investigação do inspetor geral agora é uma investigação criminal. (O Serviço Secreto nega ter deletado qualquer material de forma maliciosa, diz que todas as mensagens perdidas foram perdidas durante um programa de rotina de substituição de telefone e diz que está cooperando com todas as investigações em andamento.)
Como quase qualquer série de sucesso da Netflix que ameaça terminar, as audiências que investigam o papel de Trump na invasão ao Capitólio terão uma segunda temporada. O comitê fará uma pausa em agosto e retomará as audiências públicas em setembro.
Os legisladores garantem que sua investigação está em andamento. No início da audiência, o deputado Bennie Thompson, presidente do comitê, disse que “continuamos a receber novas informações todos os dias”.
O painel realizou oito audiências públicas até agora e obteve índices de audiência impressionantes na TV, ao mesmo tempo em que apresentou quantidades substanciais de novas informações prejudiciais sobre Trump e os ocorridos em 6 de janeiro.
A próxima onda de audiências acontecerá durante a reta final das campanhas das eleições de meio de mandato, em que os democratas correm altos riscos de perderem o controle do Congresso.
Os membros do comitê também disseram que pretendem emitir um relatório provisório em setembro, que pode ajudar o Departamento de Justiça a progredir com uma investigação criminal – se houver provas suficientes e, claro, interesse.