Advogado de Bolsonaro assume apelido depreciador
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
Defensor da família Bolsonaro nos tribunais, o advogado Frederick Wassef tem se valido da proximidade com o clã presidencial para tentar se tornar ele próprio um político. Candidato por São Paulo a uma vaga na Câmara dos Deputados pelo PL, o mesmo partido do presidente, Wassef já deu os primeiros passos de campanha, como criar perfis e intensificar as publicações nas redes sociais.
A publicação de “estreia” no Instagram anunciava: “o anjo chegou”. O apelido era como o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, suspeito de operar um esquema de rachadinha para o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), se referia ao advogado em conversas com seus familiares obtidas pela política com autorização judicial. Ao ser preso, em junho de 2020, Queiroz foi encontrado pela polícia numa casa de Wassef em Atibaia, no interior de São Paulo. À época, o advogado refutou que a alcunha de “anjo”, agora assumida, fosse uma referência a ele.
Wassef advoga para o presidente Jair Bolsonaro (PL) e dois filhos dele: Jair Renan, investigado num inquérito por suspeita de tráfico de influência, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no caso da suposta rachadinha na Alerj, atualmente paralisado por decisões de tribunais superiores.
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Nas redes sociais, Wassef se apresenta como “Advogado e Aliado do presidente @jairmessiasbolsonaro”. omo parte da estratégia para colar sua imagem à do presidente, ele tem publicado fotos suas com o Planalto ao fundo. No mês passado, esteve ao lado de Bolsonaro no dia em que o presidente anunciou medidas para reduzir o preço dos combustíveis, pacote visto como de alto potencial de atração de votos. O perfil no Instagram, que em 20 dias chegou a 2,8 mil seguidores, foi aberto sobre pilares do bolsonarismo. O espaço reservado à biografia foi preenchido com duas frases: “Contra o comunismo” e “Deus, Família & Pátria”.
Ao GLOBO, o advogado procurou minimizar a associação com a família presidencial na sua campanha, mas contou que não faz nada sem prévia autorização dos Bolsonaro nessa área.
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— Estou contando apenas com meu histórico e meu trabalho. Não estou pensando em transferência de voto. Estou pensando em fazer um trabalho como qualquer outro candidato e expor minhas ideias — afirma Wassef. — A estratégia de campanha será definida por profissionais que eu ainda vou solicitar ajuda. Não tenho nenhuma ideia nesse momento, mas tudo o que eu faço é com autorização da família. Não faço nada que não seja de conhecido ou previamente autorizado por eles. Mas eu não preciso de aval nem de foto. Minha vida é pública, eu sou um personagem público.
A presidente do PL em Atibaia, cidade frequentada por Wassef desde sua juventude, Fabia Santa Rosa diz ter sido o responsável por abrir a conta do correligionário na rede.
— Minha equipe fez o Instagram para ele. É uma coisa bem caseira, sem impulsionamento, sem nada — diz Fabia Santa Rosa, que diz coordenar a campanha do advogado no município.
No último fim de semana, o advogado baixou em Atibaia para abraçar homens na porta de padarias e conceder uma entrevista a uma rádio local. O advogado fará no município uma dobradinha com o deputado estadual paulista Edmir Chedid, do União Brasil, com quem deverá estampar santinhos na região. Chedid está no sétimo mandato.
O GLOBO apurou que, dentro do partido, acredita-se que Wassef, mais do que atrair eleitores, pode se beneficiar com a votação de outros candidatos com alto potencial eleitoral, como Eduardo Bolsonaro, que em 2018 estabeleceu o recorde de 1,8 milhão de votos para a Câmara. Integrantes do clã, como Flávio, confirmam que vão se empenhar para tentar eleger o aliado.
O senador informou, em nota, que pretende apoiar “todos os candidatos que pedirem voto para a reeleição do presidente Jair Bolsonaro”. “Com o advogado Frederick Wassef não será diferente. Acreditamos que, assim como o presidente Jair Bolsonaro, Wassef será eleito”, escreveu Flávio.
Obstáculo para muitos candidatos, sobretudo os de primeira viagem, dinheiro não deverá ser problema para a campanha de Wassef. Ele declarou ao TSE um patrimônio de R$ 14,3 milhões — incluindo 14 imóveis, entre eles um de R$ 4,9 milhões em Miami. O teto de gastos para um candidato a deputado federal em São Paulo é de R$ 3,1 milhões.