Alexandre de Moraes esmagou Bolsonaro no TSE

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Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE

Ao assumir seu lugar na mesa de autoridades da posse de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Jair Bolsonaro já sabia mais ou menos o que ouviria. Ao convidá-lo, o ministro avisou que faria um discurso em defesa do sistema eleitoral. Disse também que quatro de seus antecessores, incluindo Lula, estariam na plateia. O presidente da República tinha, portanto, informações suficientes para resolver não ir.

Ainda não está bem claro por que ele preferiu comparecer. Segundo alguns aliados, Bolsonaro queria mostrar que ele e o filho, Carlos (Republicanos-RJ), não são os “monstros que pintam”. No Judiciário, a hipótese mais em voga é que o presidente não quis “ficar por baixo” e deixar todo o palco para Lula, que já havia confirmado presença.

Outros ainda apostam que Bolsonaro não tenha entendido exatamente quão humilhante o discurso de Moraes seria ou que Lula se mostraria tão enturmado com o ecossistema político. Daí a cara de poucos amigos que o presidente exibiu depois da menção do novo presidente do TSE à eficiência do sistema de apuração, que “divulga os resultados eleitorais no mesmo dia, com agilidade, competência e transparência” e “é motivo de orgulho nacional”.

Não é improvável que os três motivos tenham tido algum peso sobre a decisão de atender ao convite para a posse. E, por mais que pareça paradoxal, é possível que algum assessor ou ministro tenha sido espinafrado no dia seguinte pela manhã no Palácio do Planalto.

Uma coisa, porém, é inequívoca. Na noite de terça-feira, o presidente da República recebeu uma demonstração prática e didática de que, independentemente do que ele fizer ou disser no dia 7 de setembro, não haverá golpe, porque não há a menor condição política ou institucional para isso.

Nada impede que Bolsonaro use o 7 de setembro para atacar as urnas eletrônicas ou o sistema eleitoral, se ele realmente quiser. Afinal, desde que a campanha começou, o presidente tem se rebelado contra todos os conselhos para esquecer esse assunto — dos marqueteiros, do Centrão e até de aliados fiéis e insuspeitos.

Mesmo que os levantamentos internos de seu partido digam que o eleitor médio não gosta de radicalização, sempre haverá o risco de que ele chegue ao 7 de setembro novamente acuado pela liderança de Lula nas pesquisas ou assombrado por alguma nova paranoia — e resolva aloprar em cima de um carro de som, como fez em 2021.

Mas, na correlação de forças entre Xandão e Bolsonaro, está claro quem é mais forte hoje. O presidente já disse mais de uma vez que tem medo de ser preso após deixar o cargo. Além de ser o relator dos inquéritos das fake news e das milícias digitais, Moraes é também quem dará o parecer sobre o registro da candidatura à reeleição. E, como se não bastasse, acaba de assumir o comando da própria Corte eleitoral.

Para além do apoio incontestável do establishment político ao sistema eleitoral, a impressionante demonstração de poder operada por Moraes a menos de dois meses da eleição é também consequência dessas circunstâncias.

Bolsonaro pode sofrer de megalomania, alienação ou arrogância. Mas não chegou aonde chegou sem saber ler os sinais da política. Muito provavelmente está reorientando sua estratégia na relação com Moraes e o TSE.

O evento que parou Brasília na terça-feira foi o último lance de uma sequência que começou na conversa reservada entre os dois na casa de Arthur Lira (PP-AL), em junho, passou pela ida do ministro ao Planalto para fazer o convite formal para a posse, na semana passada, e resultou no auditório lotado de autoridades que nunca prestariam a Bolsonaro a homenagem que prestaram ao TSE e à democracia.

No duelo do faroeste eleitoral armado por Xandão, Bolsonaro se viu rendido em praça pública. Ainda que os próximos meses sejam tumultuados, o importante é que não vai ter golpe. Quem sabe agora o país comece a fazer algum debate sobre os temas que interessam de verdade à população.

O Globo