Beneficiários de auxílios seguem com Lula
Foto; Arte O Globo
A mais recente pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada, ajuda a mensurar o tamanho do desafio do presidente Jair Bolsonaro (PL) a dois meses das eleições presidenciais, quando o assunto é conquistar votos dos beneficiários do Auxílio Brasil, programa de transferência de renda turbinado às vésperas do pleito. O atual presidente não só enfrentará a preferência desses eleitores pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) — a adesão ao petista é ainda maior que entre a população que não recebe o auxílio —, como também correrá contra o tempo para reduzir sua alta rejeição no segmento, que se diz majoritariamente decidido sobre o voto. Na comparação com junho, no entanto, o desempenho de Bolsonaro já dá sinais de melhora e, a partir de agosto, com o pagamento do benefício turbinado, seus índices podem subir mais.
O programa social substituiu o Bolsa Família e, a partir da semana que vem, pagará R$ 600 às famílias beneficiárias. O aumento no valor do auxílio é uma das apostas do presidente para ganhar fôlego na corrida presidencial e reduzir a diferença nas pesquisas em relação a Lula, que lidera a disputa com 47% dos votos, contra 29% de Bolsonaro, ainda segundo o Datafolha.
A pesquisa revela que, entre os beneficiários do Auxílio Brasil, hoje a diferença em relação a Lula, de 18 pontos percentuais, é ainda maior: chega a 27 pontos. O petista tem 53% das intenções de voto desse eleitorado, enquanto o atual presidente marca 26%, quatro pontos a menos que o registrado entre quem não está inscrito no programa. A diferença, no entanto, já foi maior: em junho, Lula tinha 59% dos votos nesse grupo, contra 22% de Bolsonaro.
Além disso, os votos no petista, em um eventual segundo turno contra Bolsonaro, é dez pontos maior, na comparação com o eleitorado que não recebe o auxílio. Votariam em Lula 63% dos inscritos no programa social, enquanto 32% escolheriam o atual presidente. No grupo sem auxílio, o placar é de 53% a 37%. É no cenário de segundo turno, porém, que Bolsonaro mais avançou na comparação com junho. No último levantamento, ele aparecia com 26% dos votos, contra 67% de Lula.
Outro fator é que a rejeição a Lula é menor entre quem recebe o auxílio. Não votariam no ex-presidente 27% desses eleitores, contra 38% dos que não são contemplados pelo programa social. Em junho, a rejeição ao petista entre os que recebem o auxílio era de 23%. Já a rejeição a Bolsonaro soma 54% nesse grupo, próximo ao percentual observado na população em geral, que é de 53%. Na pesquisa anterior, o índice era maior, de 59%, entre os eleitores que recebem o auxílio.
O candidato do PL também está longe de ser a segunda opção dos beneficiários do programa. Neste segmento, Ciro Gomes (PDT) é quem mais aparece com chance de conquistar a adesão de quem desistir de sua primeira opção: 25% apontaram o pedetista. Ele também lidera entre quem não recebe o auxílio. Lula aparece em seguida, com 21% entre quem é beneficiário do programa e 18% entre quem não é contemplado pelo benefício.
Já atual presidente é citado por 15% dos entrevistados como segunda opção — mesmo número observado entre quem não conta com o apoio do Auxílio Brasil, considerando a margem de erro (14%). Em junho, 19% dos que recebem o benefício indicavam Bolsonaro como segunda opção.
Outra dificuldade para Bolsonaro é que a maior parte dos eleitores que recebem auxílio (70%) afirmou ao Datafolha já ter decidido o voto, a exemplo do cenário registrado na população brasileira em geral, na qual também muita convicção no voto. Apenas 30% dos que recebem o auxílio indicaram que ainda podem mudar de candidato a presidente.
Mais da metade dos que recebem o benefício (54%) também consideram o valor de R$ 600 anunciado pelo governo insuficiente, ainda segundo o Datafolha. Outros 38% avaliam o aumento como suficiente e 8% como mais que suficiente. Os dados mostram ainda que a opção do governo por turbinar programas sociais antes do pleito também é percebida como eleitoreira: 59% dos eleitores beneficiários do Auxílio Brasil avaliaram que o principal motivo da ampliação de benefícios programados para acabar no final do ano é ganhar votos para o presidente, enquanto 32% disseram que é o objetivo é ajudar quem precisa.
Contratado pela “Folha de S.Paulo”, o Datafolha entrevistou, entre 27 e 28 de julho de 2022, 2.556 eleitores em 183 municípios de todas as regiões do país. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-01192/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais, e o índice de confiança é de 95%.