Bolsonaro acusa Lula de “perseguir cristãos”

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo e Filipe Araujo/AFP

Marcado por ataques e por desinformação, tendo como principais alvos o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) em episódios alimentados pelos próprios candidatos que lideram as pesquisas, o início da campanha presidencial já motiva ofensivas no campo jurídico e nas redes sociais. Ontem, a campanha de Lula acionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a derrubada de publicações em 67 perfis, incluindo o do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que divulgaram um outdoor atribuindo à esquerda bandeiras como “bandido solto” e “narcotráfico”.

Nos últimos dias, em meio ao incremento do valor do Auxílio Brasil, o ex-presidente endossou declarações de que o “auxílio emergencial” acabaria em dezembro caso o atual presidente se reeleja. Bolsonaro, por sua vez, fez publicações ontem em suas redes nas quais associou Lula à “perseguição de cristãos” e “liberação das drogas e do aborto”.

Para analistas, o belicismo dos primeiros dias da campanha segue o comportamento apresentado pelos candidatos na pré-campanha, e representa um tom de confronto excessivo, na contramão de estratégias adotadas por presidenciáveis em anos anteriores.

O acirramento de discursos adotados pelas campanhas de Lula e de Bolsonaro tem levado o debate eleitoral à esfera jurídica. O pedido da campanha do PT pela derrubada de publicações que retratam um outdoor em Porto Alegre, com referência indireta a “dois lados” que estariam disputando as eleições e o futuro do país, veio após uma decisão dada na segunda-feira pelo juiz Márcio André Keppler Fraga, da 113ª Zona Eleitoral da capital gaúcha, na qual ordenou a remoção da propaganda.

Em sua decisão, Fraga avaliou que “de forma indireta ou difusa, presente está o viés eleitoral” no outdoor, o que tornaria o material um exemplo de propaganda irregular — já que foi instalado antes de terça-feira, data do início oficial da campanha, além do fato de a legislação eleitoral não permitir uso de outdoors.

Na representação, a equipe de Lula argumentou que a peça “configura propaganda antecipada negativa, fazendo uso de informação sabidamente inverídica” ao associar a esquerda ao crime organizado.

O grupo Prerrogativas pretende levar na próxima semana ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, um documento com exemplos de mais de cem outdoors, espalhados por estados como São Paulo e Goiás, com conteúdo semelhante. Além de pedir remoção das peças, o advogado Marco Aurélio Carvalho diz que o grupo vai sugerir ao TSE que estabeleça um protocolo para garantir a retirada “enérgica e rápida” sempre que esse tipo de material for detectado:

— A desinformação nem sempre se dá através de fake news. Esses outdoors têm uma linguagem comum, o que indica uma produção centralizada. Isso pode significar prática de abuso do poder econômico, o que não está sendo devidamente apurado.

Aliados de Bolsonaro, por sua vez, criticaram a campanha de Lula por uma live na última sexta, divulgada pelo ex-presidente, na qual o deputado federal André Janones (Avante-MG) afirmou que “o auxílio emergencial acaba em dezembro”. Janones também afirmou ter tido acesso “com exclusividade” ao programa de governo de Bolsonaro, no qual o presidente não garantiria manter o valor do Auxílio Brasil em R$ 600 a partir de janeiro. O deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) afirmou que fará uma representação contra Janones no TSE “por estar gerando essa fake news” contra Bolsonaro.

Ao endossar o discurso de Janones, Lula afirmou em suas redes que o deputado fazia um “alerta” sobre o tema, e o agradeceu “pelo apoio”. Na terça-feira, Lula voltou a subir o tom contra Bolsonaro e disse que o presidente é “possuído pelo demônio”.

Para o publicitário Marcelo Victorino, que atuou na campanha de Geraldo Alckmin pelo PSDB em 2018, a concentração de ataques entre Lula e Bolsonaro atrapalha o crescimento de outros candidatos e também leva a uma antecipação de um cenário de segundo turno, polarizado, o que poderia definir a eleição já no primeiro turno. Vitorino avalia, porém, que o afastamento da campanha do PT do perfil “Lulinha paz e amor” adotado em sua primeira vitória presidencial, em 2002, pode afastar o “eleitor médio” do petista:

— Bolsonaro tem uma reputação de enfrentamento, não pode fugir a essa lógica. Lula poderia agir de forma pacificadora para marcar uma antítese em relação a isso.

Ontem, Bolsonaro associou Lula nas redes sociais a lideranças de países como a Nicarágua, que “persegue cristãos”, e a pautas como a “liberação das drogas e do aborto”. O discurso do presidente ecoou declarações dadas no fim de semana por lideranças evangélicas, como o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), que sugeriu que um governo petista fecharia igrejas.

Na última semana, parlamentares petistas usaram uma foto da primeira-dama Michelle Bolsonaro ao lado de Juliana Lacerda, mulher de Guilherme de Pádua — hoje pastor evangélico, condenado pelo assassinato da atriz Daniela Perez na década de 1990 — para sugerir uma relação próxima entre ele e Bolsonaro. O presidente disse sequer conhecer Guilherme e que Michelle foi chamada para a foto sem saber de quem se tratava.

Justiça Eleitoral determinou a remoção de outdoor, em Porto Alegre, que associava a esquerda a "bandido solto". — Foto: Reprodução

A Justiça Eleitoral determinou a remoção de um outdoor, em Porto Alegre, que associava a esquerda a “bandido solto”. O PT também pediu a retirada de posts em redes sociais que divulgaram o outdoor. Outras propagandas de conteúdo semelhante foram identificadas em estados como São Paulo (na imagem ao lado) e Goiás.

Apoiadores de Lula sugeriram que Bolsonaro teria relação próxima com Guilherme de Pádua, assassino da atriz Daniela Perez. O vereador Leonel Radde (PT-RS), por exemplo, disse que o presidente e Michelle Bolsonaro “jantaram (com) e tietaram” Guilherme após circular uma foto da primeira-dama ao lado da mulher dele em Belo Horizonte. Em resposta, Bolsonaro negou que ele e Michelle conheçam Guilherme.

Damares publicou um vídeo em que acusa o governo Lula de ter criado uma "cartilha" para estimular o uso de crack. — Foto: Reprodução

A ex-ministra Damares Alves (Republicanos), candidata ao Senado pelo DF, publicou um vídeo no qual acusa o governo Lula de ter criado uma “cartilha” para estimular o uso de crack. O PT solicitou ao TSE que os vídeos sejam removidos.

Fim do Auxílio Brasil

 André Janones fez uma live, divulgada por Lula, na qual diz que "o auxílio emergencial acaba em dezembro"  — Foto: Reprodução

O deputado André Janones (Avante-MG) fez uma live, divulgada por Lula, na qual diz que “o auxílio emergencial acaba em dezembro” e que Bolsonaro não garante manter o benefício de R$ 600 no ano que vem. Em outra live, Lula e Janones argumentaram que o “auxílio emergencial” citado pelo deputado se refere ao acréscimo de R$ 200 do benefício, e não ao Auxílio Brasil como um todo. O programa de governo de Bolsonaro, porém, fala em manter o valor em 2023.

Pastor Rúben Oliveira Lima disse que eleitores de Lula "não merecem tomar a Santa Ceia do Senhor" e acusou o ex-presidente de ser a favor do aborto — Foto: Reprodução

No fim de semana, o pastor Rúben Oliveira Lima, da Assembleia de Deus de Botucatu (SP), disse que eleitores de Lula “não merecem tomar a Santa Ceia do Senhor” e acusou o ex-presidente de ser “a favor do aborto”. Outra liderança evangélica, o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) sugeriu que o petista fecharia igrejas se for eleito.

O Globo