
Bolsonaro e cia. examinam Datafolha com lupa
Foto: O Globo
Os Bolsonaro costumam desqualificar publicamente a pesquisa Datafolha, mas a coordenação da campanha à reeleição do presidente da República analisou com lupa os números divulgados pelo instituto nesta quinta-feira (17). Neles, conseguiu achar uma notícia boa, mas reconhece que há uma outra bem ruim.
A boa é a avaliação de que, embora o crescimento das intenções de voto de Jair Bolsonaro seja menor do que o esperado (de 29% no último levantamento, de julho, para 32% agora), eles acreditam que a tendência de crescimento deve ser suficiente para levar a eleição para o segundo turno, já que Lula se mantém estável com 47% das intenções de voto.
Empurrar a eleição parta o segundo turno é o objetivo número um da campanha bolsonarista, mas por enquanto, os 47% de Lula ainda são maiores do que a soma das intenções de voto dos outros candidatos, que chega a 42%.
Os aliados do presidente, porém, se dizem confiantes de que, com o recrudescimento da campanha, a distância entre os dois, que hoje é de 15 pontos percentuais, deve se reduzir até o dia da eleição.
“Lula parece ter chegado no teto, e Bolsonaro ainda deve crescer um pouco mais no decorrer da campanha, o que vai nos levar para o segundo turno. Aí começa outro jogo”, diz um esperançoso estrategista da campanha. O Datafolha mostra que Lula tem hoje 54% das intenções de voto no segundo turno contra 37% de Bolsonaro.
A má notícia para o presidente da República é que, para chegar ao segundo turno, é preciso fazer com que Lula também perca votos.
Aumentar a rejeição de Lula era justamente a outra meta-chave da campanha de Bolsonaro, mas o Datafolha mostrou que a proporção do eleitores que afirma que não votaria em Lula de jeito nenhum continua no mesmo patamar – de 36% em julho para 37% em agosto dos eleitores dizem que não votariam no petista de jeito nenhum. A rejeição de Bolsonaro, por sua vez, oscilou um pouco mais – de 53% para 51% –, mas ainda dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Por enquanto, a guerra santa desencadeada pelos bolsonaristas, com a disseminação de fake News sobre fechamento de igrejas num eventual governo Lula e a caracterização do ex-presidente como demônio ajudou no crescimento de Bolsonaro, mas não prejudicou o petista. Bolsonaro subiu de 43% para 49% das intenções de voto entre os evangélicos, enquanto Lula continua mais ou menos no mesmo lugar – passou de 33% para 32% das intenções de voto nesse público.
A aposta do marketing de Bolsonaro para as próximas semanas é trazer à tona com mais força na propaganda na TV e na internet a lembrança dos escândalos de corrupção dos governos petistas.
A estratégia se baseia em sondagens internas da campanha que mostram que o eleitor que se diz inclinado a votar em Lula hesita e até muda de ideia ao ser exposto a vídeos sobre a corrupção nos governos petistas.
O objetivo é ressuscitar na memória popular os escândalos de corrupção do mensalão e do petrolão – principalmente entre os jovens, que eram crianças e não têm muitas lembranças dos governos Lula.
Foi com base nessas sondagens internas da campanha que aliados de Bolsonaro definiram a relação de “nomes malditos” associados ao PT que devem ser exaustivamente explorados no marketing eleitoral.
Os ex-ministros José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino, derrubados no esquema do mensalão, e o ex-ministro Antonio Palocci, defenestrado do governo Lula após a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, deverão ser “estrelas” do programa do PL na TV.
Outro personagem considerado explosivo e que vai ser lembrado pela campanha à reeleição de Bolsonaro é o delator Pedro Barusco, ex-gerente da diretoria de Serviços da Petrobras.
Barusco afirmou em delação premiada que, no período de 2003 a 2013, o PT recebeu entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões em propina de 90 contratos firmados pela estatal. O partido rechaça as acusações.