Bolsonaro mantém vantagem entre evangélicos

Destaque, Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução – 7.ago.2022/Portal Uai

Jair Bolsonaro (PL) dilatou ainda mais a vantagem sobre Lula (PT) no eleitorado evangélico, surpreendendo um total de zero pessoas. Pesquisa Datafolha feita de terça (16) a quinta (18) revela que o presidente tem agora 49% das intenções de voto do segmento, contra 32% do petista. Há um mês, segundo dados do instituto, a distância era de 10 pontos percentuais. Subiu para 17.

Num segundo turno entre os dois, Lula ficaria com 37% dos votos, e Bolsonaro, 54%. Em julho, o ex-presidente tinha 40% desse eleitor com ele, e o atual, 52%. A margem de erro da nova sondagem é de três pontos percentuais para mais ou para menos levando em conta apenas a porção evangélica do eleitorado, que representa 25% das 5.744 pessoas ouvidas em 281 cidades.

A decolagem de Bolsonaro no grupo era favas contadas até na oposição. Primeiro porque as novas parcelas do Auxílio Brasil, que começaram a ser pagas neste mês, trazem algum alívio financeiro para mulheres e pobres, maioria nos templos.

Junto à cartada econômica, o mandatário redobrou seus acenos para essa base eleitoral paparicada desde o dia um de seu governo, erguido sobre um lema que coloca Deus acima de tudo. Para se ter uma ideia: na semana anterior a que os entrevistadores do Datafolha foram a campo, o casal Bolsonaro teve várias oportunidades para reafirmar a parceria com líderes de alta voltagem no segmento. Não perdeu nenhuma.

Michelle, a esposa evangélica colocada na linha de frente da campanha, declarou que o Palácio do Planalto, antes “consagrado a demônios”, hoje é “consagrado ao Senhor”, isso no púlpito da Igreja Batista da Lagoinha, do influente clã Valadão.

Os pastores Silas Malafaia e Cláudio Duarte, que juntos somam mais de 20 milhões de seguidores nas redes sociais, acompanharam presidente e primeira-dama na Marcha para Jesus do Rio —só neste ano, foram mais de uma dezena de eventos sob esse selo, todos com algum cafuné no mandatário. No Dia dos Pais, Bolsonaro e filhos compartilharam fotos vestindo uma camisa onde se lia “Deus, Família e Brasil”.

A máquina bolsonarista também intensificou a fabricação de fake news direcionadas a esse público, como a de que Lula vai fechar igrejas se vencer.

Enquanto isso, a esquerda ainda está apontando o lápis para fazer o dever de casa. Estamos falando de um campo que nunca ficou muito confortável ao lado dos evangélicos. Exceções existem, mas são como um cometa Halley rasgando muito de vez em quando um céu de generalizações e preconceitos.

Boa parte desse polo alinhado a valores progressistas começou o esquenta eleitoral acreditando que não precisaria fazer gestos maiores para ganhar espaço nos templos. A pífia performance econômica deste governo seria suficiente para relembrar o povo evangélico de que bom mesmo era o Brasil de Lula, diziam os petistas e seus aliados.

Levantamentos apontavam, afinal, sucessivos empates técnicos do ex-presidente com o atual chefe do Executivo nessa fatia do eleitorado cristão. O desempenho estava aquém da liderança de Lula no quadro geral, mas era satisfatório perto do Deus me acuda de 2018, quando 7 em cada 10 evangélicos preferiram Bolsonaro ao petista Fernando Haddad.

“O PT subestimou, pensando que só falando de economia iria conseguir trazer os evangélicos”, diz o pastor pentecostal Paulo Marcelo, recrutado para ajudar a legenda com os crentes.

O partido precisa primeiro “querer ser ajudado”, ele afirma, sugerindo que a vontade de se aproximar do bloco religioso não tem simpatia de todos internamente. Ele recomenda “sair de pautas ideológicas” e deixar esse trabalho para “quem sabe o que o evangélico quer ouvir”.

Ante a disparada bolsonarista, proliferam tentativas recentes de reconstruir pontes com um segmento que já endossou o PT no passado. A dúvida é se o cimento seca a tempo do primeiro turno. O desafio, avaliam pastores tanto à esquerda quanto à direita, é passar autenticidade ao eleitor, que pode desconfiar de movimentos gestados só agora, a menos de dois meses da eleição —como Lula dizer que Bolsonaro é possuído por demônios, uma linguagem pentecostal, ou a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, testar na praça eleitoral o bordão “Bolsonaro usa Deus, Deus usa Lula”.

O ex-presidente já teve dias melhores com líderes que hoje o espinafram. Seu plano inicial era dispensar esses superpastores e conversar diretamente com a base evangélica. É verdade que a malha evangélica é difusa e plural, mas isso não significa que ela não tenha alguns faróis.

O pastor Cláudio Duarte, que posou com Bolsonaro na Marcha para Jesus carioca, é um bom exemplo. Não lidera nenhuma igreja grande, mas é o que podemos chamar de influencer gospel, com pregações pop que lhe garantem enorme presença nas redes sociais evangélicas. Difícil prescindir de todos os gigantes do segmento, hoje quase unânimes no apoio a Bolsonaro.

Isso cria um impasse na esquerda, com receios legítimos de abandonar causas históricas, como a defesa de direitos LGBTQIA+, para fazer as pazes com essa turma conservadora. Não é um Tetris eleitoral fácil de resolver, mas há por trás dele também um problema de comunicação.

É comum ouvir de vozes progressistas que o problema não é atitude x ou y de um pastor, mas uma crítica generalizada ao crente, tratado como sinônimo de atraso civilizacional. Não é uma forma muito simpática de pedir voto.

Folha