Bolsonaro quer explorar confiança média nas urnas
Foto: Leo Martins
Uma das questões mais fundamentais hoje é entender em que medida o presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguirá impor sua visão de que as urnas eletrônicas não são confiáveis e que, portanto, uma eventual derrota dele nas eleições possa ser contestada.
Os institutos Datafolha e Quaest investigaram recentemente a questão. Segundo o Datafolha, em pesquisa do fim de julho, 47% dos brasileiros confiam muito nas urnas, 32% confiam um pouco e 20% não confiam. Segundo a Quaest, em pesquisa do começo de agosto, 46% dos brasileiros confiam muito nas urnas, 30% confiam um pouco e 21% não confiam. Mesmo entre os eleitores de Lula, 24% confiam apenas um pouco nas urnas e 13% não confiam, segundo a Quaest.
Os números dos dois institutos têm pouca variação e mostram que um pouco menos da metade do eleitorado confia muito nas urnas e que cerca de 20% não confiam. Mas como interpretar o grupo intermediário? Os jornais, a partir da pesquisa Datafolha, optaram por dar a manchete “79% confiam nas urnas”, mas também teria sido razoável optar por outra manchete, “Maioria dos brasileiros não confia totalmente nas urnas”.
Do ponto de vista do jogo político de Bolsonaro, confiar “um pouco” é um nível de confiança fraco o suficientemente para ser explorado por uma campanha maliciosa que conteste as eleições. Bolsonaro está contando com a possibilidade de adicionar esse grupo intermediário inteiro ou parte dele aos 20% que já não confiam nas urnas de jeito nenhum.
Embora um em cada cinco eleitores não confie nas urnas, isso não significa que esse grupo todo apoiaria uma contestação do resultado eleitoral por Bolsonaro. Ainda assim é bastante preocupante que 11% de todos os eleitores, segundo a Quaest, acreditem que o presidente não deveria aceitar os resultados das eleições se informado pelo TSE que perdeu. É um grupo minoritário, mas são 17 milhões de pessoas e com potencial para crescer.
A situação se mostra ainda mais preocupante quando olhamos para a avaliação da Justiça Eleitoral, medida pela Quaest em outra pesquisa, de junho. Se os eleitores avaliassem bem a Justiça Eleitoral, ela poderia usar a sua credibilidade para se contrapor à campanha contra as urnas. Mas a avaliação da Justiça Eleitoral e a confiança nas urnas andam mais ou menos juntas. Quando perguntados como avaliam o trabalho do TSE no processo eleitoral, 42% consideram positivo, 37% consideram regular e 15% consideram negativo.
O grau de confiança nas urnas tem estado estável desde o começo do ano, com variações pouco relevantes, apesar da intensa campanha de descrédito lançada pelo bolsonarismo. É pouco provável que o presidente consiga uma virada significativa nesses números a não ser que consiga fabricar um factoide de grande impacto. Essa deve ser, portanto, a principal preocupação dos democratas nos próximos dois meses.