Bolsonaro se solidariza com empresários golpistas
Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
A operação autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes sobre empresários bolsonaristas foi o principal assunto das conversas no almoço do presidente da República, Jair Bolsonaro, nesta terça-feira (23), em São Paulo.
Publicamente, o presidente não mencionou o assunto. Mas em privado, nas rodas de conversa, Bolsonaro se queixou do que chamou de absurdo da operação e incentivou seus interlocutores a se mobilizarem contra ela.
“Vocês têm que se defender! Os políticos se defendem, os delegados se defendem, o Ministério Público também”, exortou Bolsonaro a um grupo menor, ainda antes de pegar o microfone para discursar, no evento promovido pela associação Esfera Brasil na casa de seu fundador, João Camargo.
“Vocês, grandes empresários, têm que se defender. Amanhã pode acontecer com um ou outro aqui”, afirmou o presidente, segundo relatos de pessoas que ouviram o presidente falar.
Na verdade, já tinha acontecido – daí a razão da preocupação generalizada entre os presentes. Um dos membros da Esfera foi alvo da operação, o fundador do grupo Multiplan, José Isaac Peres, de 82 anos.
Durante o evento, foi feito inclusive um desagravo a ele. Parte da audiência aplaudiu e outra parte ficou quieta. Bolsonaro se manteve imóvel.
Ao longo de todo o dia, a Polícia Federal realizou buscas e apreensões em endereços ligados aos envolvidos e tomou depoimentos de todos eles, que defendiam, em conversas do grupo de WhatsApp “Empresários & Política”, um golpe de estado em caso de derrota de Bolsonaro nas eleições.
Juristas de vários matizes questionaram ao longo do dia as bases da operação, já que não configuraria crime falar de golpe em grupos e WhatsAPP. Os elementos que fundamentaram o pedido da Polícia Federal e nortearam sua decisão ainda não foram divulgados pelo ministro Moraes.
Além de Isaac Peres, também tiveram a quebra de sigilo bancário decretado Luciano Hang, dono da rede varejista Havan; José Koury, controlador do Multiplan; Meyer Nigri, fundador da Tecnisa; Afrânio Barreira Filho, sócio da rede de restaurantes Cocobambu; Ivan Wrobel, sócio da W3 Engenharia; Luiz André Tissot, da empresa de móveis de luxo Sierra; e Marco Aurélio Raymundo, dono da Mormaii.
Outro assunto bastante comentado no evento foi o fato de Nigri, dono da Tecnisa, ter entregue a senha de seu celular aos policiais federais, o que permitiu que eles localizassem rapidamente mensagens trocadas com o procurador-geral da República, Augusto Aras.
Nigri e Aras são amigos próximos. Foi do PGR, inclusive, que o dono da Tecnisa contraiu a Covid que quase o matou, em 2020.
“Nossos advogados sempre dizem que não somos obrigados a entregar a senha durante uma operação, mas parece que ele ficou assustado com aquele aparato todo dentro da casa dele e não conseguiu resistir”, contou um dos convidados sobre o que se dizia nas conversas.
No almoço, que teve como participantes André Esteves, do BTG Pactual, Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco e Flávio Rocha, da Riachuelo, o incômodo com a operação de Moraes era geral.
“Todo mundo criticou o que o Moro fez, e agora estão fazendo tudo igual de novo”, criticou um dos interlocutores do presidente entre os empresários.
Segundo o jornal O GLOBO contou ontem, Bolsonaro disse também afirmou nos bastidores do evento que a operação da PF provaria que o órgão não sofre a interferência da Presidência da República.
O presidente evitou criticar diretamente a operação.
Em vez disso, disse que os empresários que estavam no encontro eram “pessoas esclarecidas” e questionou se eles achavam “proporcional” e “razoável”, pelo que estava escrito nas conversas de WhatsApp, “uma pessoa ter seu sigilo bancário quebrado e suas redes sociais bloqueadas”.