Bolsonaro tenta se entender com Moraes
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Antes de assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na próxima terça-feira (16), o ministro Alexandre de Moraes traçou a estratégia que vai adotar para tentar distensionar as relações com o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo o próprio Moraes disse a interlocutores, o 7 de Setembro será uma espécie de “dia D” que vai nortear o futuro da convivência entre os dois.
O ministro, que já sinalizou que pode ceder e acatar alguns dos pedidos feitos por militares sobre as urnas eletrônicas, quer esperar para conferir se Bolsonaro repetirá, neste 7 de setembro, o mesmo comportamento exibido no ano passado.
De cima de um palanque na avenida Paulista, Bolsonaro afirmou que não mais obedeceria às decisões do Supremo e chamou Moraes de “canalha” e “parcial”.
“Moraes quer ceder, mas vai esperar uma atitude concreta do presidente”, disse à coluna reservadamente um interlocutor do ministro, que acompanha a difícil costura do armistício.
Bolsonaro recebeu o recado dos emissários que enviou para costurar a trégua com o ministro e adotou um tom surpreendentemente cordial na conversa que teve com Moraes no Palácio do Planalto na última quarta-feira.
Além do futuro presidente do TSE, participaram da reunião com o presidente da República o ministro do STF Ricardo Lewandowski, o novo secretário-geral do TSE (e ex-advogado-geral da União de Bolsonaro), José Levy, e os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira, da Economia, Paulo Guedes, e o advogado-geral da União Bruno Bianco.
Na conversa, Bolsonaro explicou que participaria de atos políticos na praia de Copacabana em 7 de Setembro, mas sem a presença de militares, como ele havia anunciado.
O acordo que a ala política do governo tenta costurar entre Bolsonaro e Moraes prevê que o presidente cesse os ataques ao sistema eleitoral, ao passo que o futuro presidente do TSE atenderia um ou outro pedido feito pelos militares em relação a testes e auditorias nas urnas eletrônicas.
Mas apesar do otimismo dos ministros ligados ao Centrão, há sérias dúvidas até mesmo no governo se Bolsonaro vai mesmo cumprir a palavra.
Se isso ocorrer, um novo encontro entre o presidente e Moraes deve acontecer – mas desta vez a sós.
O retrospecto até aqui joga contra Bolsonaro, não a favor. Do lado do presidente, alguns de seus aliados mais próximos duvidam que Moraes tenha realmente a intenção de promover uma trégua com o Palácio do Planalto.
Até porque no Palácio do Planalto, o 7 de Setembro está sendo encarado como um teste de demonstração de força do presidente, a menos de um mês da realização do primeiro turno, em 2 de outubro.
Há cerca de dois meses, um aliado de Bolsonaro fez a mesma tentativa, prometendo ao atual presidente do TSE, ministro Edson Fachin, que o presidente da República passaria a se comportar de forma mais moderada em relação à Justiça Eleitoral em troca de algumas concessões do TSE.
Como se viu, foi um fiasco. Os ataques de Bolsonaro vieram antes mesmo de Fachin avaliar que tipo de concessão poderia ser feita. “Algumas sementes não crescem em solo árido”, comentou Fachin reservadamente.
Desta vez a coisa evoluiu para o encontro no Palácio do Planalto, quando Moraes entregou o convite para a sua posse, que deve reunir cerca de 2 mil pessoas.
Moraes só foi porque recebeu a sinalização de que Bolsonaro estava disposto a prestigiar o evento, que reúne a cúpula dos três poderes na sede do TSE, em Brasília.
No núcleo político do governo e na caserna, o futuro presidente do TSE é visto como um ministro mais aberto ao diálogo e com maior habilidade política do que o seu antecessor, Edson Fachin.
Integrantes do TSE ouvidos pela equipe da coluna também acham que a troca no comando do tribunal permite um distensionamento, ainda que Moraes seja relator dos inquéritos das fake news e das milícias digitais, duas investigações em curso que apavoram o clã Bolsonaro.
Fachin, por outro lado, atraiu a ira dos militares após dizer que as eleições são um assunto das “forças desarmadas”.
As Forças Armadas também não gostaram da forma como o TSE desligou um coronel que atuava na inspeção do código fonte das urnas – e que espalhou fake news contra os aparelhos, que foram criados com a ajuda dos próprios militares, convém ressaltar.
Moraes, por outro lado, tem experiência no Executivo – foi secretário de Segurança Pública de São Paulo no governo Alckmin e chefiou o Ministério da Justiça no governo Temer. Costuma dizer que as duas experiências lhe deram “couro”, ou seja, o deixaram mais resistente.
O próximo presidente do TSE também é amigo do general Fernando Azevedo, a quem tinha convidado para atuar na sua gestão no cargo de diretor-geral, uma espécie de síndico do tribunal, responsável por cuidar de questões administrativas.
No cálculo político de Moraes, a ida de Azevedo atrairia as Forças Armadas para a estrutura orgânica do TSE, o que poderia melhorar a interlocução com a caserna e proteger o tribunal em caso de contestação do resultado das urnas.
No entanto, o general – que foi ministro da Defesa de Bolsonaro – acabou desistindo da empreitada, sob a alegação de questões pessoais e de saúde. Mesmo assim, Azevedo segue sendo um importante interlocutor do ministro com as Forças Armadas.