Braga Netto despe a farda para pedir votos
Foto: MAURO PIMENTEL/AFP
Lançado como candidato a vice do presidente Jair Bolsonaro (PL), o general da reserva Walter Braga Netto (PL) tem sido submetido a um processo de transição eleitoral pelo qual deve se tornar mais político e um pouco menos militar. A estratégia da campanha é suavizar a imagem do oficial conhecido pelas escassas palavras, pela discrição e pela fidelidade ao chefe, características que o levaram ao posto que ocupa na chapa à reeleição.
Uma das primeiras providências foi deixar para trás a patente de general com a qual está acostumado a ser apresentado. Nas urnas, ele será apenas Braga Netto, como passou a ser chamado com mais frequência desde que virou ministro — primeiro da Casa Civil e, depois, da Defesa.
O desafio do postulante a vice, na avaliação dos estrategistas da campanha bolsonarista, é adquirir a popularidade de um político sem perder a imagem de seriedade comumente associada aos militares. O objetivo é reduzir o hiato entre os seus pares que têm uma trajetória política e podem agregar votos a outros presidenciáveis.
Desde a pré-campanha, Braga Netto já vem sendo submetido a missões em que lhe são exigidos os dois papéis. Além de representar o presidente em algumas agendas, ele foi destacado para, ao lado do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), ter interlocução com empresários e ajudar na arrecadação financeira para a campanha, uma das mais delicadas atribuições de qualquer corrida eleitoral. Esses contatos, entretanto, são feitos de forma reservada, com um grupo restrito de participantes.
Na primeira semana de campanha, iniciada oficialmente na última terça-feira, Braga Netto fez uma incursão pelo interior de São Paulo, onde se reuniu com produtores rurais, empresários e lideranças locais. No tour, ele acompanhou os ex-ministros do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL-SP), candidato a deputado federal, e da Ciência e Tecnologia Marcos Pontes (PL-SP), postulante ao Senado.
Na noite do dia seguinte, Braga Netto marcou presença numa tradicional choperia de Ribeirão Preto (SP) e foi recebido ao som da Canção do Exército. Alguns apoiadores se aproximavam e prestavam continência, a saudação militar, mostrando que, ao menos no imaginário de parte do eleitorado, ele continua vinculado à farda verde-oliva.
Nas conversas com eleitores, Braga Netto reafirmou ter sido alçado à condição de candidato a vice por decisão de Bolsonaro. Segundo relatos de quem o acompanhou de perto, o general da reserva ainda demonstra receio de encarnar o novo papel político para o qual foi escalado.
— O general Braga Netto disse que que não é político, é militar, mas que foi escolhido pelo presidente. Também disse que não estava pedindo votos, mas que estava conhecendo a cidade — contou ao GLOBO Odair da Silva, candidato a deputado estadual pelo Patriota que esteve com o militar em Barretos.
No giro por Ribeirão Preto (SP), ele anotou pedidos para resolver questões da alçada do governo federal, se reuniu com produtores rurais no local da Festa do Peão e visitou o Hospital de Amor, especializado em tratamento de câncer. Na unidade de saúde, quando se aproximava de uma criança, porém, pedia para não ser fotografado.
A descrição não é por acaso. Braga Netto não gosta de dar entrevistas e, mesmo em campanha, tem tentando se manter distante dos holofotes, ao menos até agora. Procurado, não quis se pronunciar. Destoando de outros candidatos bolsonaristas, sua participação nas redes sociais é tímida. No Instagram, tem pouco mais de 33 mil seguidores, um número abaixo da média de outros postulantes a vice e de políticos de projeção nacional.
A discrição, contudo, é vista com bons olhos por Bolsonaro. Ao escolhê-lo como companheiro de chapa, o presidente encerrou a dobradinha com o seu vice, o general Hamilton Mourão, que entrou em rota de colisão com o presidente por expor a sua opinião em diversas ocasiões ao longo do mandato. Nos bastidores, o titular do Palácio do Planalto costumava dizer que um dos principais defeitos de Mourão era a dificuldade de resistir aos holofotes.
A opção por Braga Netto não foi consensual entre os membros da campanha. Integrantes da ala política defendiam o nome da ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, que, diferentemente do general, tem experiência em captar o ativo mais importante de uma eleição: os votos.