Candidatos a governar SC disputam Bolsonaro

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Foto: Arte O Globo

Estado onde Jair Bolsonaro arrebatou 66% dos votos no primeiro turno na eleição de 2018 — a maior proporção entre as unidades da federação —, Santa Catarina se encaminha para ter uma briga por esse espólio, hoje sem dono. É o que mostra a segunda reportagem da série que apresentará o pleito nos 26 estados e no Distrito Federal.

Então novato na política e beneficiado pelo voto na legenda em 2018, Moisés, que era do PSL, assim como Bolsonaro, luta agora para segurar parte dos 71% dos votos que teve naquele ano, a maior votação da história de Santa Catarina. O volume atraiu um leque de candidaturas de olho no eleitor que deu ao estado o status de baluarte do bolsonarismo. Moisés deve enfrentar três adversários competitivos no campo à direita: os senadores Jorginho Mello (PL) e Esperidião Amin (PP), e o ex-prefeito de Florianópolis Gean Loureiro (União).

O “degradê” bolsonarista começa por Jorginho, correligionário do presidente e vice-líder do governo no Congresso. Integrou a tropa de choque governista na CPI da Covid no Senado, que investigou a gestão federal da pandemia, e é quem mais se aproveita da imagem de Bolsonaro em suas redes sociais.

“Com Jorginho Mello e Bolsonaro, Santa Catarina avança” é uma das frases repetidas em sua pré-campanha. O senador se sentou na garupa de Bolsonaro durante um passeio de moto com apoiadores do presidente em Florianópolis. O momento foi descrito por ele como um “prazer de sentir a adrenalina em duas rodas, guiado pelo capitão Jair Bolsonaro”.

Veja como está o páreo para as eleições em Santa Catarina — Foto: Arte O Globo

Na disputa pela associação com o presidente também está Esperidião Amin. Na convenção que homologou sua candidatura ao governo do estado, ele esteve numa mesa à frente de dois cartazes com o rosto de Bolsonaro — e um mote que pode confundir eleitores inadvertidos: “11 é Bolsonaro”, referindo-se à sigla de seu partido, o PP. O número de urna do presidente, na verdade, é o 22, o mesmo de seu adversário Jorginho.

Esperidião pertence a um dos tradicionais clãs de Santa Catarina. Foi governador por duas vezes, prefeito de Florianópolis também em dois momentos, e deputado federal. Ele é professor titular no curso de administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Adversários citam o desempenho de sua esposa, a deputada federal Ângela Amin (PP), na disputa pela prefeitura da capital em 2020, para sustentar que a família vem perdendo força no estado. Prefeita de Florianópolis entre 1997 e 2005, ela terminou a última corrida eleitoral em quarto lugar, com apenas 7,42% dos votos.

Menos identificado com o discurso do presidente, Gean Loureiro, por outro lado, terá como cabo eleitoral “o mais bolsonarista dos prefeitos”. João Rodrigues, à frente de Chapecó e aliado de Bolsonaro, é seu coordenador de campanha. O político já foi condenado e preso por fraude em licitação. Em 2018, passava o dia na Câmara dos Deputados e a noite na penitenciária da Papuda.

Rodrigues é elogiado por Bolsonaro especialmente por sua gestão da pandemia, pautada em contrariar orientações científicas. Em abril de 2021, o presidente gravou um vídeo para enaltecer o trabalho do prefeito no município, que naquela semana registrava aumento de 322% no número de óbitos por Covid naquele ano em relação ao anterior.

A concorrência pelo eleitorado de Bolsonaro terá também Odair Tramontin (Novo), embora com menos peso. Seu partido é próximo às pautas do governo federal, em especial à agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes.

— O curioso é que a polarização nacional não se refletiu no âmbito catarinense. E isso tem uma relação com essa aposta de quem fica com o espólio do bolsonarismo, mas também há incentivos institucionais, especialmente o fim das coligações partidárias para as eleições proporcionais — diz o cientista político Julian Borba, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A esquerda, por sua vez, por pouco não reuniu todos os principais partidos em uma frente. A federação formada por PT, PCdoB e PV, que terá como candidato ao governo Décio Lima, se aliou ao PSB e ao Solidariedade — o que lhes dará o segundo maior tempo de TV — e deve contar com o apoio informal da federação PSOL-Rede. Insatisfeito com a cessão da vaga ao Senado a Dário Berger (PSB), o PSOL decidiu lançar Afrânio Boppré ao mesmo cargo. Mas, como não terá nome ao governo, deverá apoiar os petistas.

A aliança em torno do PT só não foi maior em razão de uma questão nacional. O PDT abandonou o barco pela necessidade de dar um palanque em Santa Catarina a seu candidato à Presidência, Ciro Gomes, e vai lançar chapa pura encabeçada por Jorge Boeira.

Décio terá em sua equipe o ex-adversário Gelson Merísio, que em 2018 disputou o governo estadual pelo PSD e declarou voto em Bolsonaro, e o próprio Dário Berger, que fez carreira em partidos à direita como o antigo PFL. A conjuntura empolga o candidato, para quem a esquerda nunca teve tal musculatura no pleito estadual — neste quadro, ele aposta em um avanço inédito ao segundo turno

O Globo