Candidatos a presidente disputam agronegócio

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Foto: Pablo Jacob

Responsável por cerca de um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do país, o agronegócio tem sido alvo de uma intensa disputa nos bastidores entre as duas campanhas presidenciais que despontam nas pesquisas. De um lado, Jair Bolsonaro (PL) busca reforçar os laços com empresários do setor, um dos pilares do seu governo, e aliados do presidente já promoveram ao menos três encontros de arrecadação de recursos organizados por meio de grupos de WhatsApp. Do outro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta driblar resistências do segmento e atrair apoios relevantes como o de integrantes do grupo Amaggi, uma das maiores empresas exportadoras de soja do mundo.

Como mostrou O GLOBO, a estratégia da campanha petista é levar o candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), a encontros nas regiões Centro-Oeste e Sul, onde o agronegócio tem mais relevância. O próprio ex-presidente também tem se empenhado pessoalmente em tentar reduzir sua rejeição com atores relevantes do setor.

Proprietário da Petrovina Sementes, uma das dez maiores empresas de sementes de soja do Brasil, com faturamento anual de R$ 500 milhões, Carlos Augustin esteve com Lula em 20 de janeiro. Em duas horas de conversa no escritório do advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin, em São Paulo, ouviu de Lula que, aos 76 anos e saído da prisão, não retornaria ao Planalto para revanchismo — a promessa foi de um governo de pacificação e de centro. Na sequência, segundo Augustin, o petista perguntou o que poderia fazer para se aproximar. Augustin disse ter saído da reunião sensibilizado.

— Foi uma surpresa o que ele disse — resumiu o empresário.

A semente plantada por Lula no início do ano deu frutos recentemente. Há duas semanas, o candidato do PT e Augustin voltaram a se encontrar, desta vez em um hotel em Brasília, onde o ex-presidente recebeu o apoio do senador licenciado Carlos Fávaro (PSD-MT) e do deputado Neri Geller (PP-MT), ligados ao agronegócio. A aliança foi avalizada por outro empresário relevante do setor: Blairo Maggi, ex-ministro da Agricultura e filho da empresária Lucia Maggi, fundadora do Grupo Amaggi, apontada como a mulher mais rica do Brasil pela revista Forbes.

No último dia 22, Fávaro, Geller e Augustin se reuniram em São Paulo com Aloizio Mercadante, coordenador do plano de governo petista, para levar sugestões ao setor. Entre as propostas discutidas, estão a conversão de áreas de pastagem em de cultivo e o restabelecimento de ações comerciais sadias com a China — um ponto de insatisfação do agronegócio com Bolsonaro.

Por outro lado, entre grandes produtores rurais há a percepção de que Lula, embora adote um discurso moderado em conversas reservadas, mantém discursos considerados contrários aos interesses de empresários do setor.

— Se Lula vier com discurso que propriedade privada produtiva será inviolável, que o governo vai apoiar a exportação, vai dizer tudo aquilo que o produtor quer ouvir — afirma Gilson Pinesso, dono de uma área de 52 mil hectares em Mato Grosso, acrescentando que votará em quem “tiver a melhor proposta”.

Diante do flerte de integrantes do agro com Lula, a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP), candidata ao Senado pelo Mato Grosso do Sul, garante que o presidente tem apoio majoritário entre os produtores rurais. Pressionada por integrantes da campanha de Bolsonaro, ela passou a organizar eventos com empresários do setor com o intuito de arrecadar recursos para o candidato do PL.

— Ninguém tem apoio unânime, mas o presidente Bolsonaro tem no agro a grande maioria dos produtores rurais, pessoa física. Pode ter alguma pessoa jurídica que não está, mas o apoio é de mais de 90% — diz a ex-ministra.

As estratégias para atrair apoio do agronegócio — Foto: Arte / O Globo

O primeiro encontro, em março, ocorreu durante um churrasco na casa da médica Adriana Sousa e Silva, no Lago Sul, em Brasília. O evento reuniu lideranças do agronegócio como Reinaldo Morais, dono da Suinobras, conhecido como “rei do porco”, e da campanha de Bolsonaro, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL. Em determinado momento, Bolsonaro telefonou para agradecer aos presentes e a sua voz foi amplificada por caixas de som. Pessoas presentes no evento disseram que em nenhum momento o presidente pediu dinheiro.

Outra reunião aconteceu em maio, na casa de Fernando Marques, dono do laboratório União Química, e contou com a presença de Bolsonaro por cerca de meia hora. O almoço foi convocado por meio de um grupo de WhatsApp intitulado “Empreendedores do Brasil”. O canal de contato foi criado pelo ex-senador Cidinho Santos, que tem negócios no setor de avicultura, e reúne cerca de 250 grandes empresários do agronegócio e de outros ramos como o dono da Havan, Luciano Hang, além de artistas como os sertanejos Bruno, Marrone e Leonardo.

— O interesse é de um país melhor, e não de fazer negócio com o governo. Vou doar 10% da minha receita anual bruta como pessoa física — afirma um dos presentes ao almoço, Maurício Tonhá, dono de uma empresa de leilões de gado.

Alguns empresários dos setor, contudo, dizem que ainda tem evitado efetuar doações direto para a conta do PL com receio de os recursos serem direcionados para outros candidatos do partido.

— As pessoas querem doar para Bolsonaro, e não para o Valdemar, do PL — diz o secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Nabhan Garcia.

Um terceiro evento de arrecadação para a campanha de reeleição do presidente aconteceu em São Paulo, em junho. Foi um jantar no apartamento do empresário Rui Denardin, CEO do Grupo Mônaco, do setor de transportes. O presidente, porém, não compareceu. Nesta semana, ruralistas também se organizam em Ribeirão Preto: vão arrecadar recursos para a confecção de bonés e camisetas de campanha.

Enquanto Bolsonaro e Lula disputam a preferência do agronegócio, Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) engatinham na interlocução com o setor. No caso do pedetista, entre as propostas de campanha já divulgadas, está a compra da sobra de produção de alimentos para montar estoques reguladores. O ex-ministro, porém, enfrenta resistências no segmento após chamar de “bandidos” produtores que apoiaram ato pró-governo no ano passado e ter trocado insultos com frequentadores da feira Agrishow, em Ribeirão Preto.

A campanha de Tebet, por sua vez, aposta no fato de a candidata ser produtora rural para atrair apoio do setor. A senadora do Mato Grosso do Sul pretende reforçar propostas de melhorias em infraestrutura e logística para solucionar gargalos de transporte no segmento. A emedebista, porém, tem enfrentado o ceticismo até mesmo de integrates do seu partido.

— Bolsonaro falou uma linguagem do agro e (adotou) uma postura muito voltada ao setor — afirma o deputado Sergio Souza (MDB-PR), líder da bancada ruralista, que admite que não se engajará na campanha de Tebet.

O Globo