Escola militar humilha aluna negra por cabelo crespo

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Foto: Reprodução/Metrópoles

Uma estudante de 15 anos, do primeiro ano da Escola Estadual Cívico-Militar Céu Azul, em Valparaíso (GO), acusa um dos militares que atua na área de disciplina da unidade de humilhá-la. A adolescente disse que o servidor a constrangeu, na frente de todos os colegas, por conta dos cabelos crespos e curtos que ostenta. As falas ocorreram no momento de formação das salas, antes do início das aulas, na última quarta-feira (10/8). A Secretaria Estadual de Educação de Goiás (Seduc-GO) foi notificada e acompanha o caso.

“Me senti humilhada. Foi na frente de todo mundo, e não gostei de jeito nenhum. Chorei bastante, não estava querendo mais ir para a escola. Ele veio implicando com o meu cabelo, falando que preferia que ele estivesse liso”, lamenta a estudante, que pediu para não ter o nome divulgado. Segundo a vítima, essa perseguição ocorre desde o início do ano, quando interrompeu a escova progressiva e iniciou o processo para voltar aos cabelos cacheados e cheios. Mas essa foi a primeira vez que ocorreu diante de outras pessoas.

Depois do incidente, ela voltou para casa e só retornou à unidade no dia seguinte. Na sexta-feira (12/8), a mãe da estudante, a auxiliar de serviço-gerais Givaneide Alcântara da Silva, 40, foi à escola e questionou a direção. Ela conta que outro episódio, da mesma natureza, aconteceu há cerca de dois meses.

“Ele pede para ela passar gel, creme e esse tipo de coisa. Mas o cabelo dela é curto, cacheado e tem que respeitar. Ela não usa o coque porque o cabelo é curto (foto em destaque) e também não consegue colocar atrás da orelha. Também falaram que ela deveria usar presilhas para prendê-lo atrás da orelha, mas ninguém me passou isso”, reclama.

Indignada, a mãe procurou a 2ª Delegacia de Polícia de Valparaíso (CIOPS) e disse que foi instruída, pelos agentes, a entrar com um processo por danos morais no Fórum da cidade contra o responsável pelas falas. Givaneide também deu início aos trâmites.

Procurado, o superintendente de Segurança Escolar e Colégio Militar da Seduc-GO, Mauro Vilela, frisou que o colégio militar segue um de padrão de vestimenta detalhado em manual disponibilizado pelo Ministério da Educação.

“Os pais querem muito que os filhos ingressem na escola, mas não querem se adequar ao programa. Quando tem um militar à frente é padrão. Não pode exceder na aparência, tem que ter uma aparência normal”, explica.

No entanto, reprovou a conduta do militar diante da estudante. “Era para chamar os pais e falar que o cabelo precisa ser amarrado, mostrar o manual. É o que deveria ter sido feito, além de passar para o comandante”, analisa. “Se acontecer novamente, a gente retira ele do projeto”, informou sobre o militar em questão.

A reportagem do Metrópoles também conversou com o diretor da escola Major Josafá Martins que afirma não ter visto nada de anormal na abordagem feita pelo militar. O gestor dialogou com os pais da estudante na última sexta-feira (15/8)

“O cabelo dela é realmente curto, só que ela tem que usar presilha. No momento que a mãe matricula o filho na escola cívico-militar, está pregada na secretaria como o cabelo tem que ser. Preso, acima da orelha, com rabo de cavalo, coque. Também é assinado um termo de responsabilidade assumindo todas as normas da unidade”, explica.

Em consulta às Diretrizes das Escolas Cívico-Militares, não foi possível localizar qualquer menção ao tipo de cabelo utilizado por uma estudante do sexo feminino. Também, a única atribuição mais específica sobre vestimenta atribuída ao Oficial de Gestão Educacional é a de exigir o correto uso de uniformes e a boa apresentação pessoal dos monitores

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