Maioria dos deputados do PL esconde o partido
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Já no primeiro dia de campanha eleitoral, candidatos omitem os seus partidos na propaganda divulgada nas redes sociais. Políticos do Centrão, grupo conhecido por aderir a qualquer tipo de governo independente da ideologia, são os que mais escondem suas legendas. Até mesmo os candidatos que lideram a disputa presidencial, o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro (PL), deixam de informar seu partido nos santinhos eletrônicos.
Os candidatos a deputado federal que disputam a reeleição pelo partido do presidente são um dos que mais escondem o partido. A sigla é presidida por Valdemar Costa Neto, que já foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no escândalo do mensalão por vender apoio ao governo do PT. Levantamento feito pelo Lagom Data, empresa de inteligência de dados, mostra que apenas 17,7% dos deputados federais do PL que tentam renovar o mandato em outubro deste ano contam aos seus eleitores em que agremiação estão filiados.
Mais votado na eleição de 2018, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, também não menciona o PL. Seu santinho o apresenta como parlamentar que está “trabalhando por São Paulo e lutando por todo o Brasil”.
Esse comportamento dos políticos é retrato do enfraquecimento dos partidos brasileiros. Como mostrou o Estadão, as siglas lançam candidatos sem qualquer identidade programática e apenas visam colher votos para garantir gordos fundos partidário e eleitoral. É o número de deputados eleitos que serve de critério para definir a cifra a que cada partido tem direito de receber. A consequência disso é que as negociações do Poder Executivo acabam se dando no varejo e não a partir das relações com os partidos e as propostas que defendem.
O cientista político Rodrigo Prando diz que os políticos escondem seus partidos devido ao alto grau de rejeição que essas instituições têm no eleitorado. “Isso é uma característica muitas vezes do político que faz campanha despolitizada. Ele pleiteia um cargo público, mas ele sabe que há um desgaste enorme da política dentro da sociedade, uma rejeição aos políticos e em especial aos partidos”.
Ele também menciona que os próprios partidos fizeram movimento recente para limpar suas imagens ao tirar o P das siglas. “O PMDB tornou-se MDB, o PPS tornou-se Cidadania. São tentativas de diminuir essa rejeição ou camuflar o fato de ser uma agremiação política”, diz Prando.
O cientista político da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro Carlos Pereira acrescenta que o eleitor vota nas pessoas e não nos partidos: “O sistema eleitoral brasileiro fortalece os vínculos pessoais do político individual com os eleitores”.
Apesar da pouca importância e do tom de personalização das campanhas dado pelos políticos, o verdadeiro “dono” do mandato de deputado é a sigla. O deputado é eleito no sistema proporcional pelo qual a soma dos votos destinados a cada partido define o número de vagas que ele vai ter no Legislativo. Nas eleições de 2018, por exemplo, 6,8 milhões de votos foram dados diretamente no partido. Eles representam apenas 5,8%do total. A maioria foi dada ao PT e ao PSL, que rivalizaram na disputa presidencial com Bolsonaro e Fernando Haddad.
Para tentar fortalecer os partidos, em 2008, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou resolução reforçando que o mandato pertence ao partido e não ao candidato. Assim, a troca pode levar o político a perda da vaga por infidelidade partidária.
O levantamento do Lagom Data mostrou que não são apenas os candidatos dos partidos do Centrão como PL e Progressistas que omitem suas siglas. Postulantes do PSOL, PSD, Patriota, União Brasil, Podemos, Solidariedade, e PSC também têm maioria de políticos que não informam sua agremiação. PSDB e MDB também estão nessa situação.
A deputada Carla Zambelli, um dos principais nomes do bolsonarismo na Câmara, justifica não ter informado ser do PL aos seus eleitores por falta de espaço. “Não coloquei porque tenho outras informações que são imprescindíveis para mim”. Ela optou por dizer na sua “bio” que é a deputada “conservadora, mãe de João, esposa do coronel Aginaldo e leal ao presidente Bolsonaro”.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), também omite seu partido e diz em santinhos de campanha que “Alagoas quer, o Brasil precisa”, sem menção a sua sigla.
A omissão dos partidos não é uma exclusividade dos brasileiros. Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo o cientista político Carlos Pereira, os candidatos republicanos e democratas chegam a usar a cor do partido adversário em suas propagandas para confundir o eleitor. “Lembro que quando morava em Michigan, no meio-oeste americano, tanto os candidatos republicanos como os democratas não diziam o partido que pertenciam. Usavam, inclusive, a cor dos cartazes do partido rival para camuflar as suas vinculações partidárias para os eleitores”.
Já na vizinha Argentina, a situação é diferente devido ao modelo de votação. ”Em sistemas proporcionais com lista fechada, como na Argentina por exemplo, não interessa ao parlamentar desenvolver vínculos individuais com os eleitores, mas sim partidários”, explicou Pereira.