Militares acham difícil desfile em Copacabana
Foto: Daniel Marenco/Agência O Globo
O anúncio feito pelo presidente Jair Bolsonaro de que haverá um desfile militar na praia de Copacabana no próximo dia 7 de setembro surpreendeu e preocupou os organizadores da parada prevista para o próximo feriado da Independência no Rio de Janeiro.
Isso porque não só não havia nenhuma previsão de colocar tanques de guerra e caminhões na avenida Atlântica, como há sérias dúvidas no Comando Militar do Leste sobre a viabilidade de transferir o desfile que tradicionalmente acontece no Centro da cidade para a orla mais movimentada da Zona Sul do Rio de Janeiro.
A mudança, anunciada no sábado por Bolsonaro, evidencia a intenção do presidente de transformar a comemoração dos 200 anos da Independência em ato político contra o Supremo e as urnas eletrônicas às vésperas da eleição presidencial.
A avenida Atlântica costuma ser palco de manifestações bolsonaristas, inclusive no 7 de setembro. Normalmente, o presidente apenas participa da parada oficial em Brasília.
Segundo dirigentes militares envolvidos com os preparativos e ouvidos pela equipe da coluna, apesar da fala de Bolsonaro, até a tarde desta segunda-feira não havia uma ordem oficial do Palácio do Planalto para que o desfile ocorra na praia carioca. Os militares dizem, porém, que se o presidente quiser, a transferência será feita.
Acontece que antes será preciso combinar com a prefeitura do Rio, a quem cabe determinar onde será feito o desfile e fornecer a estrutura para o evento, informou oficialmente que também não recebeu qualquer pedido a respeito.
Também nunca foi realizado um desfile do tipo na orla. Prefeitura e Comando Militar do Leste estão há meses discutindo a logística e a organização do evento para a avenida presidente Vargas, onde também fica o Palácio Duque de Caxias e o Quartel-General do Comando Militar do Leste.
Além das Forças Armadas, que protagoniza o ato com tanques de guerra, motos, caminhões, canhões e pelo menos cinco bandas de música militares, também costumam participar do evento os órgãos estaduais de segurança pública, pracinhas e alunos civis de escolas públicas.
Desde o último sábado, quando Bolsonaro disse publicamente que iria participar de uma parada militar no próximo Sete de Setembro, todo esse pessoal está a procura de uma solução para cumprir a ordem de Bolsonaro.
Quando se procura oficialmente o Comando Militar do Leste para tentar saber como será feita a comemoração anunciada por Bolsonaro, a resposta é de que não há nenhuma informação a ser fornecida.
A declaração de Bolsonaro foi feita no último sábado, durante a convenção do Republicanos que lançou a candidatura de Tarcísio de Freitas para o governo de São Paulo. “Sei que vocês queriam aqui (São Paulo), mas nós vamos inovar no Rio de Janeiro”, disse Bolsonaro.
“O nosso Rio de Janeiro, cartão postal do Brasil, um estado aliado de todos nós, da economia de São Paulo. Vamos mostrar que nosso povo, mais do que querer, tem o direito e exige paz, democracia, transparência e liberdade”.
Em Sete de Setembro do ano passado, Bolsonaro discursou em um ato em São Paulo em que atacou o Supremo Tribunal Federal e disse que não mais obedeceria as decisões do ministro Alexandre de Moraes, que comanda o inquérito das fake news. O presidente ainda chamou Moraes de canalha, provocando uma das maiores crises políticas de seu governo. Depois, recuou em uma carta pública e passou algum tempo em paz com o Supremo.
Nos últimos meses, o presidente retomou o discurso golpista, com ataques ao Supremo, à segurança do sistema eleitoral e às urnas eletrônicas. Na convenção em que o PL confirmou sua candidatura à reeleição, no último dia 24, o presidente da República chegou a chamar os ministros do Supremo de “surdos de capa preta”, e exortou seus seguidores para que fossem às ruas “pela última vez”. “Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo”, afirmou.