Moro e Dallagnol vão aderir a Bolsonaro
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“Acorda, Lulinha, que hoje tem Lava Jato/Em Curitiba, você foi condenado/Sítio de Atibaia foi reformado.”
A paródia da música “Acorda, Pedrinho”, da banda Jovem Dionísio, publicada no perfil do ex-juiz Sergio Moro no TikTok, é uma amostra do foco dele no discurso anti-PT, em sua tentativa de se eleger senador pelo Paraná na eleição deste ano.
Hoje no partido União Brasil, o ex-magistrado da Lava Jato tem concentrado críticas no ex-presidente Lula (PT), a quem condenou à prisão na época da operação, e acenado ao eleitorado do presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem foi ministro da Justiça e com quem rompeu em 2020.
É uma guinada no discurso em relação à sua mal-sucedida pré-candidatura a presidente, que manteve de novembro de 2021 até março deste ano.
Naqueles meses, ele distribuía de maneira mais equânime críticas ao PT e ao bolsonarismo, tentando pavimentar o caminho da chamada terceira via.
Assim como Moro, sua esposa Rosângela e o ex-chefe da força-tarefa Deltan Dallagnol também tentam alavancar suas candidaturas com ataques a Lula, de olho no eleitorado antipetista.
A mulher do ex-juiz é candidata à Câmara pela União Brasil em São Paulo. O ex-procurador também busca uma cadeira de deputado, mas pelo Podemos no Paraná.
Em comum, os três buscam periodicamente nas redes sociais rechaçar qualquer possibilidade de apoio à candidatura de Lula, mesmo em segundo turno. O mesmo não é feito em relação a Bolsonaro.
Os três também passaram ao largo da mobilização deflagrada a partir de carta em defesa da democracia elaborada na Faculdade de Direito da USP no fim de julho.
“Jamais estarei ao lado do PT e do Lula. Você pode escrever na pedra”, diz Moro, em gravação nas suas redes sociais. Ele acrescentou na ocasião: “Em relação ao Bolsonaro, uma coisa eu posso dizer: nós temos o mesmo adversário”.
A União Brasil, porém, andou flertando no plano nacional com o PT antes do término do prazo de registro de candidaturas, há duas semanas. O presidente do partido, Luciano Bivar, já sinalizou oposição a Bolsonaro em eventual segundo turno.
A sigla acabou lançando como candidata a presidente da República a senadora Soraya Thronicke, de Mato Grosso do Sul.
A estratégia de Moro e de Deltan é surfar na forte rejeição ao PT no Paraná. No estado, o grande favorito ao governo é Ratinho Junior (PSD), apoiado por Bolsonaro e pela União Brasil. Lá, em 2018 o atual presidente fez 68% dos votos válidos no segundo turno.
No Tiktok, rede social que faz mais sucesso entre jovens e adolescentes, Moro, além da já citada paródia, tem publicado ironias em série contra Lula.
Há um vídeo curto com imitação da voz do petista em deboche sobre a promessa de ter “cerveja e picanha” em 2023 e paródia de videogame em que o vilão são “fantasmas de corrupção do PT” e “condenações anuladas”.
Moro também publicou trechos da discussão entre os dois em depoimento prestado em Curitiba em 2017 com a legenda: “E vocês, vão jantar o quê?” À época, eram juiz e réu.
No ano passado, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o ex-magistrado foi parcial na condução dos casos de Lula na Lava Jato e anulou condenações do ex-presidente, o que permite que o petista seja candidato hoje. Moro chama o episódio de “erro do Judiciário”.
O candidato ao Senado ainda publicou vídeo falando sobre “traição”, rótulo que bolsonaristas costumam dar ao rompimento com o atual presidente, em 2020.
Deltan Dallagnol tem investido na campanha em uma certa nostalgia da Lava Jato —a força-tarefa da operação foi encerrada em 2021— e também tem sinalizado aos eleitores de Bolsonaro.
Um de seus assuntos mais recorrentes é a atuação do STF (Supremo Tribunal Federal), a quem culpa pelo fim das investigações iniciadas em Curitiba.
“Vi o trabalho da minha vida sendo destruído e aprendi que a mudança só acontecerá por meio da política. Porque é a política que escolhe os ministros do Supremo e que faz as leis.”
Já na pré-campanha, Deltan apoiou o decreto de indulto de Bolsonaro ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), que tinha sido condenado à prisão em abril por ofender e ameaçar os ministros do STF.
Mais recentemente, o ex-chefe da força-tarefa tem defendido a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, no contexto de críticas feitas pela esquerda a manifestações públicas de tom religioso.
O ex-procurador também usa a imagem de Lula para rememorar ao eleitor sua atuação na Lava Jato. Em julho, fez uma live especial sobre os cinco anos da condenação do ex-presidente, em julho.
Sobre eventual apoio no segundo turno, costuma usar o bordão de que o mais importante é impedir o PT “de voltar à cena do crime”. O Podemos, formalmente, apoia a presidenciável Simone Tebet, do MDB.
Na semana passada, Deltan fez publicação insinuando omissão na declaração de patrimônio entregue por Lula.
O ex-procurador distorceu notícia publicada em 2018 sobre o valor a ser bloqueado nas contas do petista —R$ 16 milhões à época— e comparou com o valor declarado na atual candidatura: R$ 7,4 milhões.
Os R$ 16 milhões, porém, eram o teto do bloqueio imposto na Lava Jato, não o que foi efetivamente encontrado nas contas do ex-presidente.
Também na última semana, Deltan gravou vídeo com elogios ao senador Alvaro Dias, seu correligionário, mas adversário de Moro na disputa pelo Senado.
Em pesquisa do instituto Ipec divulgada nesta terça-feira (23), Dias apareceu na liderança, com 35% das intenções de voto ante 24% de Moro.
Outra candidatura do lavajatismo na eleição deste ano, a de Rosângela Moro, também tem poupado o atual governo de ataques e questionamentos.
Em suas redes, Rosângela, que adotou o apelido de “conja”, no máximo critica o que chama de “polarização” ou extremismo.
Ela obteve apoio de um grupo chamado 200+, que é ligado ao movimento Vem Pra Rua, que defende candidatos com uma pauta anticorrupção.
No início do mês, gravou um vídeo para desmentir uma montagem que ligava Moro à candidatura de Lula. “Uma coisa tão absurda. Sergio Moro nunca vai estar no mesmo palanque que o Lula. Eu, Rosângela, nunca vou estar no mesmo palanque que Lula. Podem ficar tranquilos, [é] fake news!”