Nunca uma eleição teve tão poucos indecisos
Foto: Roberto Moreyra
O baixo número de indecisos nas eleições presidenciais deste ano é um dado que tem pautado discussões de especialistas e da mídia a cada divulgação de pesquisas de intenção de voto. Em 2014, o último ano em que houve uma candidatura em busca da reeleição, o número de indecisos no mês de agosto girava em torno de 49%, enquanto em 2022, a porcentagem é de 22% no mesmo período.
Essa diferença pode ter algumas explicações. Uma delas é o fato de que essa é a primeira corrida eleitoral em que há mais de um candidato que já foi presidente, possibilitando que o eleitorado faça uma comparação de resultados entre os governos. Além disso, há uma grande polarização entre os dois principais concorrentes. Segundo a última pesquisa Datafolha (feita entre 16 e 18 de agosto), Lula, que já governou entre 2003 e 2010, lidera a disputa com 47% das intenções de voto. Por sua vez, Bolsonaro, que concorre à reeleição, está em segundo lugar com 32%. De acordo com a mesma pesquisa, 75% dos eleitores afirmam estar totalmente decididos sobre em quem votar.
Para entender melhor a conjuntura atual, analisamos as pesquisas feitas desde 1989 pelo Instituto Datafolha (disponíveis no Banco de Dados do Cesop-Unicamp) levando em conta o “número de meses antes da eleição”. Isso se deve ao fato de que as datas das campanhas desde o reinício das eleições diretas variaram.
Nas perguntas espontâneas sobre a intenção de voto para a presidência, o entrevistador não oferece opções ao entrevistado. Assim, a resposta “não sabe/indeciso” depende exclusivamente da memória de quem é perguntado, demonstrando mais claramente que a pessoa ainda não tomou sua decisão com toda certeza.
Com isso em consideração, pode-se observar que, em 2022, temos o menor número de indecisos: foram 25% em julho e 22% em agosto. Além disso, esse número tende a cair com o início da campanha, da mesma maneira que em eleições anteriores.
Já em perguntas estimuladas, o entrevistador apresenta opções de candidatos, fazendo com que o número de indecisos seja ainda menor — o que pode ser visto no gráfico abaixo:
Os dados de 2022 seguem sendo os mais baixos já registrados, ainda que seguidos de perto pelos dados de 2002 e 2018. Nesses casos, a competitividade pode ser um fator de explicação. Em 2002, a essa altura, as eleições eram bastante competitivas, com quatro candidatos (Lula, José Serra, Anthony Garotinho e Ciro Gomes) obtendo boas pontuações. O mesmo se deu em 2018, com boas pontuações de seis candidatos: Lula, Bolsonaro, Marina Silva, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Alvaro Dias.
Sendo assim, o cenário de 2022 possui uma peculiaridade: é mais estável do que os anteriores. Isso pode ser uma boa notícia para o líder das pesquisas, pois Lula obtém hoje intenções de voto suficientes para ser eleito no primeiro turno. Mas também pode ser um alento para Bolsonaro, pois sua posição não está ameaçada pelos outros candidatos, o que significa que, em caso de segundo turno, sua participação aparentemente está garantida.
*Otávio Z. Catelano é doutorando em Ciência Política pela Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop-Unicamp). Petra Pinheiro e Silva é bacharela em Ciências Sociais Unicamp e pesquisadora do Cesop.
O texto acima faz parte do Observatório das Eleições, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT IDDC), que reúne pesquisadores da Unicamp, UnB, Uerj, UFMG, entre outros. O grupo tem especialistas de diversas áreas, como cientistas políticos, juristas, sociólogos e comunicólogos.