Paulo Freire opõe Lula a Bolsonaro
Foto: Escola de Gestão Socioeducativa Paulo Freire – RJ
Ao citar Paulo Freire em sua entrevista ao Jornal Nacional, na noite desta quinta-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou o nome do educador — um dos maiores da educação brasileira e referência nacional — ao centro de polêmicas e aos trendings topics do Twitter. Enquanto Lula citou o educador para justificar à militância petista a escolha do antigo rival Geraldo Alckmin como vice, o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), e seus apoiadores frequentemente atacam a imagem do filósofo e questionam os seus métodos.
— Eu aprendi na minha vida a conversar. Se tem uma coisa que aprendi na vida foi negociar, foi conversar com os contrários. Tem uma frase do Paulo Freire que é fantástica, que eu utilizei para mostrar aos militantes do PT a entrada de Alckmin. De vez em quando, a gente precisa estar junto dos divergentes para vencer os antagônicos. E agora nós precisamos vencer o antagonismo do fascismo — disse Lula sobre as reações da militância petista à escolha de Geraldo Alckmin como vice.
Já Bolsonaro é crítico frequente dos métodos do educador, a quem já chamou de “energúmeno”. Em fevereiro deste ano, ele acabou com a Medalha Paulo Freire, que era concedida a personalidades e instituições com destaque nos esforços de erradicação do analfabetismo no Brasil. Filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro criticou uma homenagem do Google ao centenário do filósofo, em setembro do ano passado: “Não estranhe se o próximo for com a cara do Lula”, escreveu numa rede social.
Também em setembro, uma decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro determinou que a União “abstenha-se de praticar qualquer ato institucional atentatório à dignidade do Professor Paulo Freire na condição de Patrono da Educação Brasileira”. Mais uma vez, governistas reagiram fazendo ataques contra o educador.
O ex-presidente e atual candidato ao Planalto foi o assunto mais comentado no Twitter, ocupando os nove primeiros tópicos da rede, com a entrevista ao JN. Sua menção a Paulo Freire chegou a ficar em segundo lugar. Os internautas usaram as hashtags “Lula no JN”, “Bonner”, “Lulinha”, “Ladrão no JN”, “Meu Presidente”, “Bobo da Corte”, entre outras que revelam a polarização destas eleições.
Nascido em Recife em 1921, Freire é o intelectual brasileiro mais lido no mundo. Ganhou projeção nacional durante o governo João Goulart, ao ser chamado para integrar o Ministério da Educação após um bem-sucedido trabalho de alfabetização de adultos realizado em Angicos, no Rio Grande do Norte. Após o golpe militar de 1964, o método freireano passou a ser acusado de doutrinação marxista e o educador partiu para o exílio no Chile. De lá, seguiu para os Estados Unidos e depois para a Suíça e rapidamente ganhou projeção internacional com sua pedagogia libertadora.
De volta ao Brasil em 1979, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores. Entre 1989 e 1991, foi secretário de Educação da cidade de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina. Freire faleceu em 1997 e, a partir das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2015, voltou a ser alvo da extrema-direita e de movimentos com o Escola Sem Partido, que reciclaram as acusações de doutrinação marxista espalhadas pela ditadura militar.