Presidente do México também ataca sistema eleitoral
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Entre as entidades internacionais que monitorarão as eleições de outubro, pelo menos uma já aterrissará no Brasil com experiência em tensões entre o Executivo e a Justiça eleitoral. É a União Interamericana de Organismos Eleitorais (Uniore), que enviará ao país Lorenzo Córdova, dirigente do Instituto Nacional Eleitoral do México (INE), equivalente ao TSE brasileiro.
Córdova será recebido na tarde desta terça-feira (2) pelo atual presidente do TSE, Edson Fachin, e pelo próximo presidente da corte, Alexandre de Moraes, que toma posse em 16 de agosto. Servidores do TSE vão tirar dúvidas dos integrantes da missão da Uniore sobre o funcionamento das urnas e combate às fake news.
Córdova e o INE estão sob fogo cruzado do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, conhecido pela alcunha AMLO, e de seu partido, o Morena, de esquerda. Isso porque, assim como Jair Bolsonaro, o mandatário mexicano tem questionado a credibilidade do instituto e do próprio processo eleitoral. Por lá, o voto é em cédulas de papel.
Mesmo tendo sido eleito presidente em 2018 com folga em sua terceira tentativa, AMLO mantém os ataques que faz ao sistema eleitoral mexicano desde 2006.
“Não tenho confiança no INE”, sintetizou AMLO em abril do ano passado em meio à tensão das eleições de meio de mandato, programadas para junho de 2021. Correligionários do presidente mexicano costumam repetir o mesmo discurso.
Na reunião virtual que já fez com a cúpula do tribunal brasileiro, o observador Córdova afirmou que o voto eletrônico serve de referência para os outros países e avaliou que a democracia vive um momento delicado a nível mundial.
“A democracia é a única forma civilizada para dirimir disputas de poder de maneira pacífica. E sabemos que ela vive um momento complexo tanto na América Latina quanto em outras regiões do mundo”, afirmou o presidente do órgão eleitoral mexicano, conforme divulgou o TSE.
Nesse sentido, Córdova estará familiarizado com os desafios brasileiros. A missão da Uniore no Brasil, dirigida pelo mexicano, acompanhará as eleições gerais e monitorará a regularidade do processo a convite do próprio TSE.
Além da entidade, também foram convidadas a Organização dos Estados Americanos (OEA), o Parlasul e entre outras.
No processo eleitoral, Córdova estará acompanhado de representantes de organismos eleitorais da República Dominicana, Costa Rica e Argentina. O Brasil terá um número recorde de observadores neste ano, em resposta à campanha de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas – serão mais de 100.
No México, há o agravante de uma reforma eleitoral controversa defendida pelo governo AMLO, que pode reduzir o tamanho do Congresso e cortar o financiamento do INE.
Assim como Bolsonaro, Obrador tem se colocado como um presidente antissistema e também coleciona ataques à Suprema Corte de seu país.
Oficialmente, o presidente e sua legenda alegam que não promovem um ataque às instituições, mas sim denunciam o funcionamento alegadamente parcial do INE – ou seja, em desfavor do Morena. Mas o pano de fundo para as tensões é a desconfiança de longa data de Obrador com o sistema eleitoral do México.
O dirigente mexicano, por exemplo, insiste até os dias atuais que as eleições presidenciais de 2006 foram fraudadas. Na ocasião, Obrador perdeu por apenas 0,58% para o rival Felipe Calderón, do Partido Ação Nacional (PAN), e não reconheceu a derrota. Após uma intensa batalha na Justiça, Calderón assumiu a presidência, mas com o país dividido em torno da sua legitimidade.
É justamente o cenário temido por observadores e aliados do ex-presidente Lula, caso a eleição seja levada para o segundo turno. Por isso, como mostrou o blog, o PT aposta no voto útil e trabalha para uma vitória do ex-presidente sobre Jair Bolsonaro já no dia 2 de outubro.
Obrador concorreu novamente em 2012 e venceu somente em 2018, por larga vantagem sobre os adversários. Lorenzo Córdova, que presidirá a missão da Uniore no Brasil, tem denunciado a suposta interferência de AMLO sobre o INE – embora o órgão tenha certificado sua vitória ampla em 2018 e o sucesso eleitoral do Morena nas eleições de meio mandato no ano passado.