7 de setembro diminuiu apoio a Bolsonaro
Foto: Cristiano Mariz/Agência O Globo
O presidente Jair Bolsonaro (PL) apostou na mobilização de apoiadores nas celebrações do 7 de Setembro para ganhar fôlego na busca pela reeleição e diminuir a vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na liderança das pesquisas de intenções de voto. Só que mais brasileiros acreditam que as chances de vitória de Bolsonaro diminuíram depois das manifestações do que aqueles que dizem ver ganhos eleitorais para o presidente.
Segundo a nova pesquisa “A Cara da Democracia”, conduzida pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT) com 1.535 entrevistas presenciais, 44% dos eleitores afirmam que Bolsonaro passou a ter menos chances de ser reeleito depois dos atos nos 200 anos da independência do Brasil. Cerca de um terço (36%) acha que as chances de vitória bolsonarista aumentaram. Outros 9% consideram que o 7 de Setembro não mudou nada para a candidatura do atual chefe do Executivo. A série de pesquisas, feitas desde 2018, é coordenada por professores da UFMG, Unicamp, UnB e Uerj. Leia aqui números exclusivos sobre os índices de satisfação com a democracia.
Autor do livro “Liderança e Poder”, no qual a política brasileira é analisada a partir de conceitos apresentados pelo filósofo Nicolau Maquiavel, o doutor em Ciência Política Aldo Fornazieri diz que Bolsonaro confundiu os papéis de presidente e candidato durante o bicentenário:
— A ideia do “dividir para governar”, atribuída de modo indevido a Maquiavel, é na verdade uma tese militar, não política. Na política, você tem que unir para governar. E o Bolsonaro se comportou como presidente de uma facção, de um grupo que tenta aumentar a divisão, e não a união.
Durante celebrações oficiais para comemorar o segundo centenário da Independência, Bolsonaro adotou tom de campanha, defendeu seu governo e reafirmou apoio a pautas conservadoras. Puxou para si o coro de “imbrochável” e foi criticado por declarações consideradas machistas.
A pesquisa feita pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT) indica que 54% dos eleitores classificam como pouco ou totalmente inadequado o comportamento de Bolsonaro no 7 de Setembro. São 31% os que não viram problemas no modo como o presidente agiu nos eventos.
Aldo Fornazieri avalia que a autorreferência de Bolsonaro como “imbrochável” diante de uma multidão em Brasília foi a passagem mais danosa para a candidatura do presidente:
— Aquilo colocou no chão a dignidade que um presidente da República deve ter. Foi o fato que mais repercutiu no dia do bicentenário da Independência. Essa agressão ao cargo, que é um evento estranho para a política do país e que até por isso teve repercussão internacional, pegou muito mal e deixou até eleitores dele envergonhados.
As sondagens que rastreiam as intenções de voto para presidente confirmam que não houve ganhos para Bolsonaro na busca pela reeleição. Segundo o Ipec, o candidato do PL mantém a preferência de 31% dos eleitores, mesmo patamar em que estava antes do 7 de Setembro. Já Lula, o líder em intenções de voto, oscilou de 44% das menções para 47% de lá para cá.
Feita pelo Instituto da Democracia, a pesquisa “A Cara da Democracia” entrevistou presencialmente 1.535 eleitores em 101 cidades de todas as regiões do país entre os dias 9 e 14 de setembro e foi contratada pelo CNPq e Fapemig. A margem de erro total é de 2,5 pontos percentuais para mais ou menos com índice de confiança de 95%.