Abstenção preocupa campanha de Lula
Foto: Bruno Santos – 5.ago.22/Folhapress
Há grande apreensão no comitê do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a possibilidade de a eleição não terminar em 2 de outubro. Embora pesquisas indiquem que Lula venceria Jair Bolsonaro em eventual segundo turno, a cúpula da campanha teme o uso da caneta BIC por parte do presidente, para conquistar votos dos pobres. Existe, ainda, o receio de acirramento da violência, de novas ameaças ao processo eleitoral e de algum passo em falso do próprio Lula.
Outro fator de preocupação está relacionado a possíveis ausências no dia da votação, principalmente nas periferias das grandes cidades, onde Lula tem melhor desempenho. O índice de abstenção, que tem aumentado, pode ser determinante para levar a disputa ao segundo turno.
A campanha petista faz agora um movimento, com a participação de artistas, para incentivar o comparecimento às urnas, em nome da democracia. Apela também para o “voto útil”, em mais uma tentativa de atrair eleitores de Ciro Gomes (PDT) e de Simone Tebet (MDB).
Ciro xingou o PT de “covarde” e age para estancar a debandada. Emissários de Simone, por sua vez, enviaram recados a Lula para não ir com tanta sede ao pote, se não quiser prejudicar uma aliança com o MDB mais adiante.
”Se houver segundo turno, corremos o risco de ver aviões lotados para Paris nessa primavera”, ironizou o ex-senador Cristovam Buarque, dando uma alfinetada em Ciro, que viajou para a capital francesa no segundo turno de 2018. Demitido por Lula pelo telefone, quando era ministro da Educação, Cristovam hoje é filiado ao Cidadania – partido que está com Simone –, mas declarou voto em Lula, apesar das divergências. O apoio mais celebrado pelo mercado, porém, foi o do ex-titular da Fazenda Henrique Meirelles, o homem do teto de gastos rejeitado pelo PT.
Ao mesmo tempo que Lula faz de tudo para encerrar o confronto daqui a 11 dias, Bolsonaro aciona mundos e fundos para esticar o duelo até 30 de outubro. Até na tribuna da ONU, nesta terça-feira, 20, o presidente associou seu maior rival à corrupção e apresentou ali um Brasil que só existe na sua propaganda. Após a desastrada passagem por Londres para o funeral da rainha Elizabeth II, Bolsonaro tentou vestir o figurino de estadista em Nova York, mas não conseguiu.
O “Bolsolove” que admitiu pendurar as chuteiras se perder a eleição não durou uma semana. Criado por marqueteiros, o personagem deu lugar ao presidente real, que insinua fraude se não ganhar no primeiro turno.
Mesmo assim, diante de líderes mundiais na ONU, Bolsonaro afirmou que o Brasil tem a “tranquilidade” de quem está no bom caminho e disse ter extirpado a corrupção. De que país ele estava falando?