Bolsonaro ataca jornal por crítica ao “imbrochável”
Foto: Gabriela Biló/Folhapress
O presidente Jair Bolsonaro (PL) rebateu nesta quinta-feira (8) as críticas pelo coro de “imbrochável”, puxado por seguidores e reforçado por ele próprio ao microfone no ato de 7 de Setembro em Brasília. Ele afirmou se tratar de uma questão política, uma reação a ataques de adversários.
Na sua transmissão semanal em redes sociais, Bolsonaro criticou ainda a reportagem da Folha que trouxe estudos mostrando que cerca de 70% dos homens na idade de Bolsonaro têm dificuldades em ter ereções. Ele chamou a imprensa de “porca”.
O presidente disse que faz parte dos outros 30% e acusou a Folha de ser machista com a reportagem. “Ô Folha, se aqui [está] em 70%, eu tô nos 30%, falou? taokey? Tem nada de machismo aqui, não”, afirmou.
“Aí é natural, não sei se tá certo, tá errado, idade vai chegando, as pessoas vão realmente tendo alguma deficiência em algum lugar. Agora, vocês que estão sendo machistas dizendo que 70% dos homens são brocha, vocês que estão dizendo, ou quem não votar em mim é porque é brocha. Vocês estão levando para esse lado, imprensa porca como sempre”, completou.
Ao contrário do que disse Bolsonaro, a reportagem não fala que quem não votar no presidente tem problemas de ereção. O texto mostra que, na idade próxima do presidente, aos 67 anos, o índice de indivíduos do gênero masculino com disfunção erétil é de cerca de 70%, segundo estudos.
O presidente costuma se chamar de “imbrochável”, “imorrível” e “incomível”. Tem até mesmo uma medalha com seu rosto e os dizeres, que entrega para amigos.
Bolsonaro apresentou um outro significado ao termo “imbrochável” durante sua live. Ele negou ser machista, atribuiu o termo ao locutor do carro de som (que usou a expressão mais cedo) e fez uma espécie de metáfora com a política.
“Machismo, meu Deus do céu? [Qual foi o] machismo que aconteceu aqui em Brasília: Cuiabano, que é um animador de rodeios no Brasil, me dou muito bem com ele, falou lá que presidente é imbrochável. Mas devia ter falado que, apesar dos ataques, das pancadas que a gente leva 24 horas por dia, de maldade, quis dizer que eu sou imbrochável, porque eu resisto, não vou dar pra trás, vou reagir, como temos reagido a tudo isso”, afirmou na live.
O presidente se queixou de ter sido classificado como machista, mas respondeu apenas ao episódio do imbrochável.
Além do termo, no 7 de Setembro ele também pediu que as pessoas comparassem primeiras-damas, ressaltando a sua esposa, Michelle Bolsonaro, a quem chamou de “uma mulher de Deus” e “princesa”.
O chefe do Executivo precisa melhorar seu desempenho eleitoral entre as mulheres, o que é considerado sua prioridade pela campanha. Este é um dos motivos para Michelle intensificar sua participação em agendas ao lado do marido.
Ao rejeitar o adjetivo de machista, Bolsonaro respondia na live à manchete da Folha, que disse: “Bolsonaro captura o 7 de Setembro com comícios, machismo e ameaças repetidas”.
Ele também contestou as reportagens dos jornais O Globo e o O Estado de S. Paulo e negou ter feito ameaças nos atos de quarta (7).
Em suas declarações no 7 de Setembro, Bolsonaro manteve ameaças veladas ao dizer que, caso reeleito, vai levar “para dentro das quatro linhas [da Constituição] todos aqueles que ousam ficar fora delas”. Ele costuma usar o termo para criticar ministros do STF.
Bolsonaro se queixou da cobertura dos veículos de imprensa dos atos de 7 de Setembro e disse que a imprensa está brigando com imagens.
O presidente mostrou uma foto da Esplanada durante a manifestação e disse parecer uma plantação de girassóis. “Se alguém tivesse dado a dica para a Folha antes, tinha publicado ‘Plantação de girassóis, fake news’”.
A declaração do mandatário reforça a tese apelidada por ele de “Datapovo”, de tentar desacreditar as pesquisas que indicam o presidente em segundo lugar, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Alguém acha que o Lula vai ganhar eleição? Alguns aqui, o Datafolha, por exemplo, ‘pode ganhar no primeiro turno’. Alguém acredita que numa eleição limpa o Lula ganha?”, questionou Bolsonaro.
Ainda que os atos tenham tido expressivo apoio, pesquisas de intenção de voto, que usam metodologia verificada em estatística, apontam o mandatário em segundo lugar.
O mais recente levantamento do Datafolha mostra Lula em primeiro lugar, com 45% de intenções de voto, contra 32% de Bolsonaro.
Aliados do presidente disseram que os atos servirão de contestação simbólica e visual às pesquisas. As imagens foram amplamente divulgadas por aliados. A equipe de marketing da campanha esteve no local também fotografando e gravando.
O presidente transformou as comemorações do 7 de Setembro em comícios de campanha em Brasília e no Rio de Janeiro, repetindo ameaças golpistas diante de milhares de apoiadores, mas em tom mais ameno do que no mesmo feriado do ano passado.
Em cima de carros de som, ele pediu voto, reforçou discurso conservador e deu destaque à primeira-dama Michelle Bolsonaro, com declarações de tom machista.
O mandatário deixou de lado o Bicentenário da Independência nos palanques montados nas duas cidades e, tanto no Rio como em Brasília, adotou discurso parecido.