Brizola trocou Ciro por Lula em 2002
Foto: Reprodução
Durante um comício neste domingo, no Rio, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em campanha para voltar ao Palácio do Planalto, disse que se Leonel Brizola “estivesse aqui, estaria do nosso lado”. Além de receber o respaldo de brizolistas, a afirmação encontra eco no posicionamento do próprio político gaúcho durante as eleições de 2002. Naquela disputa, o PDT integrava uma aliança em torno de Ciro Gomes, mas, na reta final, o fundador e então presidente do partido defendeu que a legenda deveria apoiar Lula ainda do primeiro turno, para derrotar José Serra (PSDB).
“Eu estou vendo aqui o neto do Brizola, o Leonel. Se o Brizola estivesse aqui, o Brizola estava junto conosco aqui pedindo ‘fora, Bolsonaro’. Eu tenho certeza disso, eu tenho certeza absoluta que o Brizola estaria do nosso lado”, garantiu o petista, na quadra da escola de samba Portela, em Madureira.
A declaração do candidato ocorreu em meio a uma troca de farpas entre ele e Ciro Gomes, que concorre pela quarta vez à Presidência da República, agora pelo partido de Brizola. O ex-governador do Ceará vem reagindo com agressividade aos esforços do PT para pregar o “voto útil”, na tentativa de convencer os eleitores de Ciro a apoiar o petista nas urnas ainda no primeiro turno, argumentando que é preciso derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL) sem a necessidade de uma segunda etapa.
Ciro já classificou de “terrorismo” a estratégia do PT e chamou Lula de “fascistoide”. Nesta segunda-feira, ele fez um pronunciamento no qual reafirmou a sua candidatura e disse que está sendo vítima de uma campanha “virulenta” para deixar a disputa. Mas, nas eleições de 2002, o próprio Brizola defendeu que o PDT deixasse a aliança com Ciro para ajudar o petista a vencer no primeiro turno.
Naquele ano, Ciro era filiado ao PPS (atual Cidadania) e disputava a Presidência pela segunda vez, liderando a Frente Trabalhista, que incluía ainda o PTB e o PDT de Brizola. No dia 27 de setembro, pouco mais de uma semana antes do primeiro turno, a campanha de Ciro promoveu um evento de lançamento de seu programa de governo, mas o gaúcho de então 80 anos não estava lá. De acordo com uma reportagem do GLOBO publicada no dia seguinte, a ausência tinha razão de ser. O fundador do PDT já defendia abertamente a hipótese de adesão do partido à candidatura de Lula.
Segundo a matéria, Leonel Brizola vinha telefonando para líderes da Frente Trabalhista para discutir a hipótese de Ciro se retirar da disputa presidencial em favor do petista, com o objetivo de ajudar Lula a derrotar o então rival José Serra (PSDB) ainda no primeiro turno. Enquanto o ex-governador do Ceará lançava seu plano de governo no evento em São Paulo, o fundador de seu atual partido realizava um comício em Santo Antônio do Sudoeste, no Paraná, onde tornou pública a sua posição.
“Num segundo turno entre Serra e Lula, fico com o sapo barbudo. Mas, se sentir que dá para ele ganhar no primeiro, vou orientar que o PDT vote em Lula agora”, discursou Brizola, então candidato ao Senado Federal, recorrendo ao apelido que ele próprio deu ao líder petista na campanha de 1989.