Crescimento de Lula se dá entre indecisos
Foto: O Globo
Não é à toa que a campanha de Jair Bolsonaro está feito barata tonta. Nas duas últimas semanas, alternou o tom de sua propaganda no horário eleitoral na tentativa de encontrar o discurso certo. Buscou também inventar um estadista de última hora que circula entre chefes de estado em cerimônias importantes. Nada disso adiantou: faltam dez dias para as eleições e a liderança de Lula nas pesquisas que devem ser levadas a sério parece inamovível.
O Datafolha desta quinta-feira mostra não só que a diferença entre o ex-presidente e o atual passou de 12 para 14 pontos percentuais. Mas confirma também que os pontos fortes de Lula não foram abalados pelo adversário. Mantém-se o preferido dos que recebem o Auxílio Brasil (59% a 26%), a despeito da PEC Kamikaze. Assim como permanece com folga à frente no eleitorado feminino (49% a 29%), mesmo com a tardia e pouco convincente tentativa de Bolsonaro de propagandear medidas que ele tomou em favor das mulheres.
O resultado do Datafolha também indica que a guerra pelo voto útil pode já ter começado nos discursos petistas, mas ainda não tocou o eleitor. Ciro Gomes e Simone Tebet têm resistido bem ao chamamento petista para que tudo termine no dia 2. Ciro oscilou dos 8% da semana passada para os 7% de agora. É rigorosamente o mesmo número que exibia em maio. Simone manteve os 5% das últimas quatro pesquisas. Na reta final, contudo, é que se intensificará o apelo emocional que o PT conferirá à necessidade de vitória no primeiro turno.
Entre os bolsonaristas criou-se um mito (sem trocadilho…) de que, Lula pode estar na frente nas pesquisas, mas a abstenção vai prejudicar o ex-presidente. Por esse pensamento, o eleitor nordestino, mais pobre, poderia deixar Lula na mão, ausentando-se dos locais de votação. Assim, a extraordinária diferença entre Lula e Bolsonaro na região (62% a 24%, segundo o Datafolha), se reduziria na hora da contagem dos votos.
Essa construção não fica de pé, ainda que os aliados do presidente a repitam exaustivamente. Aos números: em 2018, a abstenção no Nordeste foi de 19% e 20% no primeiro e no segundo turnos, respectivamente. Não esteve acima da média nacional. No Sudeste, por exemplo, o percentual dos que não foram votar nos dois turnos foi de 21% e 23%.
Diante de um quadro que parece estável, o que Bolsonaro poderia ainda fazer para virar o jogo? Nos planos da campanha de Bolsonaro, nada de novo: reforçar o discurso da “corrupção petista”, insistir no apelo de “defesa dos valores da família brasileira” e martelar que ninguém deve acreditar no que indicam as pesquisas. Nada que já não tenha sido feito.